Menina de 7 anos é morta em dia de protestos contra golpe em Mianmar

Segundo familiar, ela estava no colo do pai dentro de casa quando oficiais atiraram

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Reuters

Uma menina de sete anos foi morta nesta terça-feira (23) dentro de sua casa, na cidade de Mandalay, em Mianmar, após forças de segurança abrirem fogo contra manifestantes em mais um dia de protestos. Ela é a vítima mais jovem da repressão contra a oposição ao golpe de Estado do mês passado.

Uma irmã da criança disse à agência de notícias Myanmar Now que ela estava no colo do pai quando soldados atiraram contra ele. Dois homens também foram mortos no município, segundo ela.

Os militares, que comandam o país depois de tomarem o poder, não comentaram as três mortes. À noite, vigílias à luz de velas foram realizadas em Rangoon, capital comercial do país, e em outras cidades.

Manifestantes realizam ato apenas com cartazes à luz de velas em Rangoon, capital comercial de Mianmar
Manifestantes realizam ato apenas com cartazes à luz de velas em Rangoon, capital comercial de Mianmar - AFP

A junta militar acusou manifestantes de violência durante as últimas semanas e disse que usaria o mínimo de força possível para reprimir as manifestações diárias, o que não vem ocorrendo na prática.

Segundo o porta-voz da junta, Zaw Min Tun, 164 pessoas já foram mortas desde o início dos protestos. "Eles também são nossos cidadãos", afirmou ele, que culpou os manifestantes pelo derramamento de sangue e disse que nove membros das forças de segurança também foram mortos.

O grupo ativista AAPP (Associação de Assistência para Prisioneiros Políticos) afirma que ao menos 261 pessoas foram vítimas da repressão. "Podemos chamar esses manifestantes de pacíficos?", reagiu o porta-voz da junta, ao mostrar um vídeo de fábricas em chamas —os ativistas passaram a atacar instalações ligadas à China, pois acusam o país de dar apoio aos militares.

O pronunciamento do porta-voz acontece um dia depois de a União Europeia e os EUA imporem mais sanções a grupos ou indivíduos ligados ao golpe de 1º de fevereiro que derrubou Aung San Suu Kyi do governo. A junta enfrentou condenação internacional pelo golpe que interrompeu a lenta transição de Mianmar para a democracia e por sua supressão letal dos protestos que se seguiram.

Os militares alegam que a eleição vencida em 8 de novembro pela Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Suu Kyi, foi fraudulenta —acusação que a comissão eleitoral rejeitou. Os líderes militares prometeram uma nova eleição, mas não estabeleceram uma data e declararam estado de emergência.

O porta-voz da junta também acusou a mídia de publicar notícias falsas e de provocar agitação e disse que os repórteres poderiam ser processados ​​caso estivessem em contato com ex-integrantes do governo de Suu Kyi. Na entrevista coletiva de mais de três horas, ele deu detalhes sobre como, supostamente, o LND teria criado centenas ou mesmo milhares de cédulas extras em vários distritos, inventando eleitores, inclusive no distrito eleitoral de Suu Kyi. Vídeos de pessoas dizendo que foram pagas por representantes do LND foram apresentados. O partido nega ter feito qualquer tentativa de fraudar a eleição.

Também foi mostrado o depoimento em vídeo do ex-ministro-chefe de Rangoon, Phyo Min Thein, dizendo que visitou Suu Kyi várias vezes e deu dinheiro a ela "sempre que necessário". Suu Kyi, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991 por sua campanha para levar o governo civil democrático a Mianmar, está detida e enfrenta acusações que seu advogado afirma terem sido arquitetadas para desacreditá-la.

A União Europeia e os Estados Unidos impuseram sanções na segunda-feira contra indivíduos envolvidos no golpe e na repressão aos manifestantes. Entre as 11 pessoas visadas pelo bloco europeu está o general Min Aung Hlaing, comandante-em-chefe dos militares e agora chefe da junta.

A UE já tem um embargo de armas a Mianmar e tem como alvo, desde 2018, altos funcionários militares. Washington, por sua vez, já havia sancionado Min Aung Hlaing, e as medidas anunciadas na segunda-feira expandiram a lista. Alguns dos vizinhos de Mianmar também se manifestaram contra a violência.

"Acreditamos que a violência contra civis desarmados é imperdoável", disse a ministra das Relações Exteriores de Singapura, Vivian Balakrishnan, em Kuala Lumpur, após conversas com seu homólogo malaio. Para ela, embora a interferência externa em assuntos internos de um país não seja desejável, "estamos prontos para fazer o nosso melhor para apoiar o povo de Mianmar".

A junta diz estar cooperando com cinco países vizinhos —Bangladesh, China, Índia, Laos e Tailândia— e respeitar suas palavras. Como a China tem grandes interesses comerciais em Mianmar e é membro do Conselho de Segurança da ONU, sua posição sobre a crise é particularmente importante para os generais.

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