Moscou desiste de reabilitar estátua de pai do terror soviético

Prefeito alegou voto inconclusivo e disse que monumentos 'devem unir, não dividir'

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São Paulo

A Prefeitura de Moscou desistiu da proposta que poderia recolocar em frente à sede da antiga KGB a estátua do fundador do terror de Estado soviético, Félix Dzerjinski.

Segundo anunciou no fim de semana o prefeito Serguei Sobianin, "estátuas devem unir, não dividir a sociedade". "Assim, acho correto abandonar esse processo e deixar a praça Lubianka como está", afirmou.

Sede da antiga KGB, na praça Lubianka, que permanecerá sem nenhuma estátua à frente
Sede da antiga KGB, na praça Lubianka, que permanecerá sem nenhuma estátua à frente - Alexander Nemenov - 25.fev.2021/AFP

A decisão veio após uma votação online se mostrar, segundo ele, inconclusiva o suficiente: 45% optaram por Dzerjinski (1877-1926), e 55%, pelo príncipe Alexander Nevski (1221-1263), herói e santo russo.

Sobianin quis evitar confusão. Há quase 30 anos, a derrubada da estátua de Dzerjinksi foi a primeira de grande importância na capital e marcou o processo de implosão da União Soviética, no fim de 1991.

Diversos ativistas de direitos humanos protestaram contra a eventual volta de Dzerjinksi, fundador em 1917 da Tcheká (Comitê de Emergência), primeira polícia política do império comunista. Ao longo dos anos, ela se desmembrou em diversas agências de repressão, condensadas em 1954 na temida KGB.

Hoje, o FSB (Serviço Federal de Segurança) é seu principal sucessor —ele ocupa o mesmo prédio da KGB na Lubianka, que desde a derrubada de 22 de agosto de 1991 está vazia.

A volta de Dzerjinski já havia sido tentada por nacionalistas anteriormente. Ele tem uma minúscula estátua na rua Petrovka, junto à sede da Polícia Criminal, que foi erigida em 2005.​

Estátua de Félix Dzerjinski, derrubada em 1991, no Parque das Esculturas, no centro Moscou, na Rússia
Estátua de Félix Dzerjinski, derrubada em 1991, no Parque das Esculturas, no centro Moscou, na Rússia - Igor Gielow - 28.ago.2016/Folhapress

Os eventos de 1991 são históricos. Apesar de atos por mais liberdade no império comunista e a perda de aliados europeus estar em curso desde 1989, nunca o coração do sistema fora atingido tão duramente.

Um golpe da linha dura da KGB e dos militares fora derrotado, e o então presidente Mikhail Gorbatchov foi devolvido ao poder. Seria por pouco tempo, mas naquela noite de agosto a população o apoiou e celebrou forçando a prefeitura a derrubar a estátua —com 14 toneladas, era muito pesada para ir ao chão com mera força física.

O monumento, inaugurado em 1958, foi levado para o chamado Parque das Esculturas, onde hoje há aproximadamente 700 outras estátuas soviéticas arrancadas de seus locais de origem. Ainda há muitas estátuas do período comunista pela Rússia, em Moscou inclusive, a maioria do fundador do Estado soviético, Vladimir Lênin (1870-1924).

O atual presidente russo, Vladimir Putin, foi um tenente-coronel da KGB e chefiou o FSB antes de chegar ao Kremlin. Ele promove os aspectos que considera positivos do regime, embora rejeite o comunismo.

Não se sabe se a questão da Dzerjinski, a quem homenageou ao batizar uma unidade policial de elite em 2014, chegou a ele. Ainda mais no momento em que enfrenta a acusação formal dos EUA de que o FSB envenenou o líder opositor Alexei Navalni, que está preso.

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