Navalni, crítico de Putin, é transferido de prisão, e seu paradeiro é desconhecido

Advogados do opositor dizem que deslocamento foi feito sem aviso prévio, e aliados veem conspiração para isolá-lo

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Moscou | Reuters

Alexei Navalni, um dos principais nomes da oposição ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi transferido da colônia penal onde estava preso desde o mês passado para um local desconhecido, disse um de seus advogados em comunicado publicado nesta sexta-feira (12).

Vadim Kobzev afirmou que esteve com Navalni na quinta (11), mas outro advogado que tentou visitá-lo nesta sexta foi informado sobre a transferência. O órgão que controla o sistema penitenciário da Rússia, porém, não divulgou o paradeiro do opositor, citando uma lei de proteção de informações pessoais.

"A prisão disse que ele não estava lá e pronto", disse Kobzev à agência de notícias Reuters. Segundo o advogado, Navalni estava bem de saúde durante a visita no dia anterior.

O opositor russo Alexei Navalni durante julgamento em um tribunal de Moscou - Tribunal de Simonovski - 2.fev.21/Reuters

"É óbvio que se trata de uma operação especial, cujo principal objetivo é manter Alexei isolado, não contar a ninguém onde ele está, para que nem sua família nem seus advogados possam encontrá-lo", escreveu, no Twitter, Kira Iarmich, assessora de Navalni.

Iarmich ainda relacionou a transferência do opositor à divulgação de um parecer do Comitê de Ministros do Conselho Europeu que pede a libertação imediata de Navalni.

Segundo o documento, houve "procedimentos fundamentalmente falhos" no julgamento do opositor, de modo que as autoridades russas deveriam, de acordo com o parecer, adotar "todas as medidas possíveis para anular as condenações e apagar todas as consequências negativas" contra ele.

O opositor de 44 anos foi preso em janeiro, ao voltar à Rússia depois de receber tratamento na Alemanha contra um envenenamento do qual foi vítima em agosto.

O ativista é acusado formalmente de violar os termos de sua liberdade condicional ao sair do país, ainda que a saída tenha ocorrido sob uma justificativa médica —ele estava em coma.

Navalni teve uma sentença de prisão por fraude comutada em 2014, em uma ação que classifica como perseguição judicial. Embora nominalmente independente, o Judiciário russo é alinhado ao Kremlin.

A Justiça russa confirmou no mês passado a sentença do ativista anticorrupção. No total, ele foi condenado a três anos e meio de prisão, dos quais já cumpriu dez meses em regime domiciliar.

Blogueiro e advogado, Navalni surgiu na cena pública nos protestos contra Putin em 2012. No ano seguinte, candidatou-se a prefeito de Moscou e conquistou 27% dos votos. Mas foi em 2017 que ele apareceu para o mundo, ao comandar via internet a convocação de uma jornada de protestos que uniu milhares nas ruas da Rússia. Devido a acusações judiciais, foi barrado de concorrer contra Putin em 2018.

Passou então a uma outra tática: fomentar qualquer candidatura em nível regional contrária ao Rússia Unida, o partido governista. Ele logrou sucessos simbólicos nos pleitos locais de 2019 e 2020, e sua volta à Rússia era vista como uma preparação para o embate das eleições parlamentares de setembro. Agora, com ele preso, há a expectativa de que sua esposa, Iulia Navalnaia, ganhe destaque na oposição a Putin.

Navalni foi envenenado em agosto de 2020 e acusou diretamente Putin pela tentativa de assassinato. Ele foi tratado em Berlim, onde os médicos afirmaram ter encontrado em seu corpo traços de Novitchok, famoso veneno utilizado pelos serviços secretos russos.

Depois, Navalni divulgou a gravação de um trote que deu em um dos agentes do FSB (Serviço Federal de Segurança, sucessor da KGB) apontados como autores do ataque —nele, o espião acredita falar com um superior e admite ter colocado veneno na cueca do ativista no quarto de um hotel. O Kremlin nega qualquer envolvimento, e Putin brincou que, se a Rússia quisesse matar Navalni, o teria feito.

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