Descrição de chapéu The New York Times

O que se sabe sobre as denúncias de assédio sexual contra governador de NY

Em um dos pontos mais baixos do mandato, democrata Andrew Cuomo está sob enorme pressão pública e política

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The New York Times

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, enfrenta um dos momentos mais tumultuados de seus três mandatos depois que duas mulheres que trabalharam para seu governo o acusaram de assediá-las sexualmente.

Sob enorme pressão pública e política, o gabinete do governador pediu que a secretária de Justiça indique alguém para conduzir uma investigação externa das acusações contra o democrata Cuomo.

Na noite de domingo (28), Cuomo emitiu uma espécie de pedido de desculpas, dizendo: "Reconheço que algumas coisas que eu disse foram mal interpretadas como um flerte indesejado. Na medida em que alguém sentiu isso, realmente sinto muito", disse ele.

Governador de Nova york, Andrew Cuomo, durante entrevista coletiva - Seth Wenig - 22.fev.2021/Reuters

O escândalo que se aprofunda marca um dos pontos mais baixos do mandato de Cuomo e atirou seu futuro político na incerteza, enquanto ele enfrenta um exame renovado sobre a decisão de seu governo de ocultar dados sobre mortes em lares de idosos durante a pandemia.

Aqui está o que sabemos até agora.

Ex-assessora diz que Cuomo lhe perguntou sobre sua vida sexual

Charlotte Bennett, 25, ex-assessora do governador, o acusou de assediá-la sexualmente no ano passado.

Segundo disse a The New York Times, Cuomo, 63, lhe perguntou sobre sua vida sexual e se ela já tinha feito sexo com homens mais velhos.

Bennett, que deixou o governo em novembro, descreveu uma situação em que estava sozinha com o governador em seu gabinete no Capitólio estadual e ele lhe perguntou se achava que a idade fazia diferença em um relacionamento romântico, o que a jovem considerou uma sugestão de relacionamento sexual.

"Eu entendi que o governador queria dormir comigo, e me senti terrivelmente desconfortável e assustada", disse Bennett ao Times. "E fiquei me perguntando como ia sair daquilo e supus que fosse o fim do meu emprego."

Bennett disse que ela relatou o ocorrido com o governador ao chefe de gabinete e foi transferida para outra função. Ela também forneceu uma extensa declaração sobre o episódio a um advogado especial do governador. O Times corroborou o relato de Bennett por meio de entrevistas com amigas e parentes a quem ela contou sobre os incidentes na época, e de uma revisão de mensagens de texto e emails.

Em uma declaração no sábado (27), Cuomo descreveu Bennett como um "membro trabalhador e valioso" de sua equipe e disse que respeitava seu "direito de se declarar".

"Eu nunca fiz avanços na direção da senhorita Bennett, nem nunca pretendi agir de qualquer maneira inadequada", disse ele.

Outra ex-assessora disse que o governador a "beijou na boca"

As acusações de Bennett surgiram dias depois que outra ex-assessora do governo, Lindsey Boylan, complementou denúncias anteriores de assédio sexual que havia feito contra o governador.

Boylan, que trabalhou na agência de desenvolvimento econômico do estado de 2015 a 2018, publicou na quarta-feira (24) um artigo em que detalhou vários anos de interações desconfortáveis com o governador.

Boylan afirmou que seu chefe na época lhe disse que Cuomo tinha "tesão" por ela, e que o governador "se esforçou para me tocar no traseiro, nos braços e nas pernas". Em outubro de 2017, durante um voo na volta de um evento no oeste de Nova York, disse Boylan, Cuomo falou que eles deviam "jogar strip poker".

E em 2018, segundo ela, Cuomo lhe deu um beijo inesperado depois de uma reunião pessoal em seu escritório em Manhattan.

"Quando me levantei para sair e caminhei para a porta aberta, ele passou na minha frente e me beijou na boca", escreveu ela. "Fiquei chocada, mas continuei andando."

O gabinete do governador disse que as afirmações de Boylan são falsas e não pediu uma análise independente de suas denúncias.

Boylan, que é candidata a presidente do distrito de Manhattan, acusou primeiramente Cuomo de assédio sexual em dezembro, mas não deu detalhes.

Depois que Bennett veio a público com suas acusações, Boylan pediu que Cuomo renunciasse.

"Seu abuso de poder é interminável", escreveu ela. "Ele não deve escolher seu juiz e o júri. Nós devemos."

Governador disse que "não quis ofender"

Cuomo, que não deu uma entrevista coletiva em uma semana, disse que não vai comentar as denúncias além da declaração que fez no sábado depois da reportagem do Times sobre as acusações de Bennett.

Na tarde de domingo, porém, depois de uma enxurrada de críticas, Cuomo emitiu uma longa declaração por escrito em que lamentou fazer "piadas" e brincadeiras com as funcionárias, no que ele considerava um "jeito bem-humorado".

"Eu brinco com as pessoas sobre suas vidas pessoais, seus relacionamentos, sobre casar-se ou não", disse o governador. "Eu não quis ofender, só tentei acrescentar um pouco de leveza e graça a um negócio que é muito sério."

Entretanto, Cuomo disse que nunca tocou inadequadamente ou fez propostas a ninguém, mas que compreendia, em retrospectiva, que suas interações "podem ter sido insensíveis ou pessoais demais e que alguns de meus comentários, dada a minha posição, fizeram outros se sentirem de modo que eu não pretendia".

Pedidos de investigação imparcial

Cuomo disse inicialmente em um comunicado que ele ordenaria "uma revisão externa completa" das acusações de Bennett, e nomeou a ex-juíza federal Barbara Jones para comandar o inquérito. Essa medida rapidamente foi criticada por pessoas que questionaram a integridade de sua revisão e as ligações estreitas da juíza com um dos antigos assessores do governador.

O gabinete do governador recuou na manhã seguinte, dizendo que pediria a Letitia James, secretária de Justiça do estado, e a Janet DiFiore, juíza-chefe da Corte de Apelações de Nova York, "para escolherem conjuntamente um advogado independente e qualificado na prática privada, sem afiliação política, para realizar uma revisão completa da questão e emitir um relatório público".

A primeira tentativa de Cuomo de retificar a situação, porém, não calou as críticas: James e autoridades estaduais democratas disseram que o novo plano do governador ainda não foi longe o bastante.

Em um comunicado, James disse que "não aceitou a proposta do governador", afirmando que seu escritório deveria chefiar a investigação. Pela lei estadual, disse ela, seu gabinete teria de receber uma indicação oficial do gabinete do governador para conduzir uma revisão com poder de intimação.

"Embora eu tenha profundo respeito pela juíza-chefe DiFiore, eu sou a secretária de Justiça devidamente eleita e é minha responsabilidade realizar essa tarefa, pela lei executiva", afirmou. "O governador deve fornecer essa indicação para que se possa conduzir uma investigação independente com poder de intimação."

Na tarde de domingo, o gabinete do governador efetivamente disse que concederia o pedido de indicação de James e pediria que o gabinete dela indicasse um advogado privado como "vice-secretário de Justiça especial independente" para conduzir a investigação.

Reação política bipartidária

Autoridades eleitas de todo o espectro condenaram Cuomo e pediram uma investigação imparcial das denúncias das duas mulheres, enquanto alguns democratas se uniram a muitos republicanos para pedir que o governador renuncie.

Líderes democratas das duas câmaras estaduais disseram em comunicados que as denúncias merecem "uma investigação realmente independente". Kathy Hochul, a vice-governadora, que sucederia a Cuomo em caso de renúncia, também pediu uma revisão independente, dizendo: "Todo mundo merece que sua voz seja ouvida e levada a sério".

Jen Psaki, a secretária de imprensa da Casa Branca, disse durante uma entrevista à CNN que o presidente Joe Biden apoia uma investigação independente das denúncias apresentadas pelas mulheres.

"Foi difícil ler essa história, como mulher", disse ela sobre a reportagem do Times sobre a experiência de Bennett.

Membros da delegação de Nova York no Congresso, incluindo os senadores democratas Chuck Schumer e Kirsten Gillibrand, também pediram uma investigação.

O deputado republicano Lee Zeldin, de Long Island, disse que Cuomo estava "tentando evitar uma investigação realmente independente" e que "até o próprio Cuomo deve saber que está na hora de partir".

A deputada democrata Alexandria Ocaso-Cortez, que recentemente revelou que sofreu um ataque sexual, disse que as denúncias das duas mulheres são "extremamente sérias e dolorosas de ler".

"Precisa haver uma investigação independente", escreveu ela no Twitter. "Não uma comandada por um indivíduo escolhido pelo governador, mas pelo escritório da secretária de Justiça."

Não é o único escândalo de Cuomo

As denúncias de assédio sexual surgem quando Cuomo sofre ataques sobre a atuação do Estado sobre o coronavírus em lares de idosos, com promotores federais investigando a questão e legisladores estaduais considerando isentar o governador de seus poderes especiais durante a pandemia.

O governador enfrenta denúncias de que seu governo encobriu a extensão total das mortes em lares de idosos depois de comentários feitos em particular em fevereiro por um de seus principais assessores, Melissa DeRosa, que confessou ter ocultado dados de lares de idosos.

Um dia depois que o Times revelou as denúncias de Bennett, o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, pediu investigações independentes das denúncias de assédio sexual e mortes de idosos por coronavírus.

"Os nova-iorquinos viram relatos detalhados e documentados de assédio sexual, diversos casos de intimidação e a retenção confessa de informação sobre a morte de mais de 15 mil pessoas", disse De Blasio, um democrata, em comunicado.

"Questões dessa magnitude não podem pairar sobre a cabeça dos nova-iorquinos enquanto lutamos com uma pandemia e uma crise econômica", disse ele. "Está claro o que deve acontecer agora."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.