Polícia reprime protestos em Mianmar, e parlamentar morre durante interrogatório

Segundo membro do governo civil, deposto por golpe de Estado em fevereiro, morre sob custódia dos militares

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Rangoon (Mianmar) | Reuters e AFP

Um dia após violenta repressão contra manifestantes que deixou três mortos em Mianmar, forças de segurança contiveram protestos contra o golpe de Estado em diversas cidades nesta terça-feira (9) com uso de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, mas sem registro de mortes nas ruas.

Durante um interrogatório, no entanto, Zaw Myat Linn, membro da Liga Nacional para a Democracia (LND), partido de Aung San Suu Kyi, líder civil deposta e presa durante o golpe militar, morreu durante um interrogatório após ter sido preso.

Manifestantes correm enquanto polícia dispara gás lacrimogêneo para conter protesto em Rangoon, em Mianmar
Manifestantes correm enquanto polícia dispara gás lacrimogêneo para conter protesto em Rangoon, em Mianmar - AFP

A informação foi confirmada por Ba Myo Thein, colega de Linn no Parlamento dissolvido, e pela Associação de Assistência aos Presos Políticos, que contabiliza 60 civis mortos desde a tomada de poder.

Segundo Thein, os familiares tentam agora recuperar o corpo do ex-parlamentar no hospital militar. Linn é o segundo membro do partido morto sob custódia da ditadura. Khin Maung Latt, que foi gerente de campanha para um parlamentar do LND eleito em 2020, morreu após ser preso no sábado (6) à noite.

Nesta terça, no centro de Rangoon, agentes intensificaram operações e detenções e fizeram um cerco durante a noite a centenas de ativistas. As forças de segurança entraram em várias casas para procurar detratores do regime, após a imprensa estatal advertir que quem esconder manifestantes será punido.

Segundo moradores, o alvo da ação que terminou com dezenas de detidos foram casas que tinham em suas janelas e varandas bandeiras da LND. Para apoiar os manifestantes cercados, centenas de habitantes desafiaram o toque de recolher imposto pelas autoridades e saíram às ruas. “Libertem os estudantes”, gritavam. Os ativistas conseguiram sair do bairro nas primeiras horas do dia.

Com o cair da noite na cidade costeira de Dawei, agentes dispararam contra manifestantes em diferentes distritos. Testemunhas disseram que dois jornalistas da empresa independente Kamayut foram presos.

Os protestos são contra o golpe de Estado aplicado por generais, em 1º de fevereiro, que derrubou um governo civil. Os militares dizem que houve fraude nas eleições de novembro, mas não apresentaram provas. Eles prometem realizar um novo pleito, embora não tenham estabelecido um prazo para tal.

“A paciência do governo acabou”, afirmou a imprensa estatal, após cinco semanas de atos diários pró-democracia. Os militares têm cada vez mais aumentado o cerco contra os ativistas, com mais de 1.800 pessoas presas nas últimas semanas e ataques contra ONGs, imprensa e políticos em crescimento.

Um dia após uma operação policial na agência de notícias Myanmar Now, os agentes foram à sede do meio de comunicação independente Mizzima, que teve sua licença revogada pelo Ministério da Informação, assim como outros veículos independentes —Myanmar Now, DVB, Khit Thit e 7 Day.

Segundo o Myanmar Now, ao menos 35 jornalistas foram presos desde a tomada de poder, 19 dos quais já foram libertados. O governo confirmou ainda ter assumido o controle de hospitais públicos e campi universitários, “a pedido de cidadãos que não querem ver instabilidade em seu país”.

Médicos, professores, advogados e funcionários públicos declararam greve desde o golpe de Estado. A convocação de desobediência civil tem forte impacto em setores como a administração pública, bancos e hospitais. A junta militar advertiu que funcionários que não retornarem ao trabalho serão demitidos.

No âmbito diplomático, o embaixador mianmarense no Reino Unido seguiu os passos do seu par na ONU e exigiu, nesta segunda, a libertação de Aung San Suu Kyi.

Os atos do governo militar provocaram, novamente, condenações da comunidade internacional, que segue dividida. A ONU pediu máxima moderação ao Exército. Reino Unido, EUA e outros países ocidentais adotaram sanções seletivas. China e Rússia, aliados do Exército mianmarense, não condenaram o golpe.

O Conselho de Segurança da ONU não chegou a um acordo sobre uma declaração conjunta e prosseguirá com negociações nesta semana. Os generais ignoram qualquer protesto vindo de atores externos.

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