Senadores pedem impeachment de Ernesto e prometem barrar indicações de embaixadores

Sob pressão, chanceler vê crescer ofensiva de parlamentares para que deixe o cargo

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Brasília

Em meio à crise envolvendo Ernesto Araújo, senadores começaram a semana aumentando ainda mais a pressão sobre o governo e sobre o ministro das Relações Exteriores, apresentando proposta de impeachment do chanceler e ameaçando bloquear todas as nomeações de embaixadores.

Senadores preparam um pedido de afastamento do titular do Itamaraty que será protocolado na tarde desta segunda (29) na Câmara dos Deputados —Casa legislativa que detém a competência para analisar impedimento de ministros de Estado. O documento está sendo elaborado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Leila Barros (PSB-DF), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Simone Tebet (MDB-MS).

Em outra frente, o líder da minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), apresentou um projeto de resolução que propõe a suspensão de nomeações de embaixadores no Senado. As indicações são analisadas pela Comissão de Relações Exteriores do Senado e em seguida votadas no plenário da Casa.

"A política externa do Brasil está entregue a um indivíduo que, como sobejamente demonstrado na audiência pública realizada no Senado Federal, na quarta [24], não reúne as mínimas condições para representar os autênticos interesses brasileiros no cenário mundial", afirma trecho do projeto.

O documento ainda chama a política externa do governo de "desastrosa" e argumenta que é preciso focar o enfrentamento à pandemia, que já matou mais de 300 mil pessoas no Brasil. Por isso, menciona a importância de aderir às iniciativas para a quebra temporária de patentes da vacina contra o coronavírus, além de reforçar as relações bilaterais com países como China, EUA, Rússia e Índia, para obter vacinas.

A crise envolvendo Ernesto e o Senado ganhou novas proporções neste domingo (28), após uma postagem em rede social, na qual o chanceler ataca a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores. O chanceler insinuou uma ligação do Senado com o lobby chinês pelo 5G, o que, segundo ele, estaria por trás da pressão para derrubá-lo do posto.

"Em 4 de março recebi a senadora Kátia Abreu para almoçar no Ministério das Relações Exteriores. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: 'Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.' Não fiz gesto algum", escreveu ele neste domingo.

Em seguida, complementou: "Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria".

Kátia Abreu reagiu aos ataques e chamou o ministro de "marginal". "O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições", afirmou. "Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado."

A postagem de Ernesto também provocou a reação de vários senadores, incluindo o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para quem a postura do ministro presta um grande desserviço ao país.

"A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao país", escreveu nas redes sociais.

Pacheco já havia afirmado na semana passada que considerava a política externa brasileira "falha" e pediu mudanças. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também externou críticas a Ernesto e o cobrou diretamente em reunião no Alvorada, com os chefes dos Três Poderes, ministros e governadores.

Em uma sessão na quinta-feira, com a participação do chanceler, senadores foram praticamente unânimes ao apontar a falta de capacidade de Ernesto e pedir a sua saída. Nenhum dos líderes do governo no Senado esteve presente para defendê-lo.

Na Câmara, a pressão pela saída do ministro também aumenta. Na manhã desta segunda, Lira foi ao Alvorada conversar com o presidente Jair Bolsonaro. O assunto não foi revelado, mas interlocutores do presidente da Câmara dizem que o deputado negou ter tratado sobre o chanceler na reunião.

Primeiro vice-presidente da Credn (Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara), o deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR) defende que a política externa brasileira retome “sua tradição de respeito a princípios, fortalecimento de relações com nossos parceiros, incluindo China”, e não descuide “das relações tradicionais com Estados Unidos e Europa”.

“Neste momento, devemos reforçar nossa busca pelo principal insumo que o mundo vem lutando: a vacina”, afirmou. “O tempo desta política errática e ideológica de Ernesto Araújo deve passar, assim como seu comando à frente do Itamaraty. Oportunidade de o governo corrigir rumos, de forma pragmática, para o desenvolvimento econômico, social, de comércio e na área da saúde para a população brasileira.”

Marcada por questões ideológicas, a gestão do ministro é duramente criticada por empresários e políticos de esquerda, centro e direita.​

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