Carlos França, substituto de Ernesto, é diplomata de pouca expressão no Itamaraty

Embaixador tem carreira discreta e histórico de serviços na Bolívia, Paraguai e EUA

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Brasília e São Paulo

O embaixador Carlos Alberto Franco França foi confirmado nesta segunda (29) para substituir Ernesto Araújo no Itamaraty. França, 56, ganhou a confiança de Bolsonaro no período em que chefiou o cerimonial do Palácio do Planalto. Tanto que, posteriormente, comandou a assessoria especial da Presidência.

Graduado em direito, ele entrou no serviço diplomático em 1991 —um amigo conta que França, aos 12 anos, ao passar em frente ao Itamaraty disse ao pai: "Eu vou trabalhar aqui".

Diplomata discreto, pouco afeito a holofotes e com uma carreira ligada ao cerimonial do Itamaraty, o novo ministro é descrito por colegas como uma pessoa "jeitosa" e "hiper hábil socialmente".

O diplomata Carlos França durante seminário em Brasília, em setembro de 2017
O diplomata Carlos Alberto França durante seminário em Brasília, em setembro de 2017 - Reprodução

A área do cerimonial é estratégica na diplomacia, uma vez que organiza os diversos eventos da chancelaria e tem contato próximo com o ministro de Estado ou, no caso do Planalto, com o presidente.

Assim como Ernesto quando foi indicado para o Itamaraty, França só foi promovido recentemente a embaixador e nunca chefiou um posto no exterior. Mas tem uma diferença em relação ao ex-chanceler, segundo colegas: é considerado um diplomata tradicional e pragmático, sem professar o radicalismo conservador de Ernesto e distante da influência do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo. ​

Apesar disso, diplomatas temem que seu pouco tempo no topo da carreira e o fato de não ter chefiado nenhuma embaixada signifiquem a manutenção da influência da ala ideológica na chancelaria. Principalmente do deputado Eduardo Bolsonaro e do assessor internacional da Presidência, Filipe Martins.

Fora do Brasil, França ocupou postos nas embaixadas do Brasil na Bolívia (em duas ocasiões), no Paraguai e nos Estados Unidos. As relações Brasil-Bolívia foram, inclusive, tema de sua tese do Curso de Altos Estudos, trabalho acadêmico que diplomatas precisam fazer antes da promoção para ministro de segunda classe. França elaborou a tese "Os Empreendimentos Hidroelétricos do Rio Madeira e as Relações Brasil-Bolívia: Análise das Perspectivas de Integração Energética Bilateral".

Ele teve ainda uma passagem pela iniciativa privada. Entre 2015 e 2017, licenciou-se do Itamaraty para ser diretor de assuntos corporativos e negócios estratégicos da holding do grupo Andrade Gutierrez.

Colegas descrevem França como um profissional tranquilo e ponderado, de perfil discreto, mas que teve carreira de pouca expressão na instituição e não é conhecido como um formulador de política externa.

Com a confirmação da escolha por Bolsonaro, ele desbancou concorrentes de peso e com trajetória mais extensa no Itamaraty. Um dos nomes mais citados, o embaixador do Brasil em Paris, Luís Fernando Serra, atingiu o topo da carreira em 2005 e está em sua quinta missão como chefe de posto.

A embaixadora Maria Nazareth Farani de Azevêdo, atual consul-geral em Nova York, foi por sua vez embaixadora do Brasil na ONU, em Genebra. Ela passou a ser lembrada como possível chanceler desde que bateu boca com o ex-deputado Jean Wyllys, do PSOL, na ONU. Mas, internamente, foi ataca por bolsonaristas por ter sido chefe de gabinete do ex-chanceler Celso Amorim (PT).

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