Ataque a tiros em supermercado nos EUA deixa ao menos dez mortos, incluindo um policial

Homem de 21 anos é acusado de ser o autor do atentado; ele foi preso após ser ferido na perna

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Denver (EUA) | Reuters

Um ataque a tiros num supermercado em Boulder, cidade de cerca de 100 mil habitantes no subúrbio de Denver, no Colorado (EUA), deixou ao menos dez mortos, incluindo um policial, nesta segunda-feira (22). É o segundo crime do tipo no país em menos de uma semana. O ataque ocorreu de tarde em um mercado da rede King Soopers, numa área residencial próxima à Universidade do Colorado.

A polícia diz ter recebido várias ligações que alertavam sobre um homem armado no local. Eric Talley, 51, primeiro agente a ir até a ocorrência, foi morto pelo atirador, que disparou contra os oficiais logo que eles chegaram ao mercado. Ele tinha sete filhos e, segundo o pai, pensava em deixar a polícia para buscar um trabalho mais seguro.

Tiroteio em supermercado deixa mortos em Boulder, no Colorado
Tiroteio em supermercado deixa mortos em Boulder, no Colorado - Chet Strange - 22.mar.2021/AFP

Além de Talley, houve outros nove mortos, com idades entre 20 e 65 anos. Uma delas, Teri Leiker, 51, trabalhava no local havia cerca de 30 anos. O namorado dela, também funcionário do mercado, sobreviveu.

Também entre as vítimas estavam um fã de motocicletas, que defendia o direito às armas, e um jovem cujos pais sérvios-bósnios migraram para os EUA fugindo da guerra na Bósnia da década de 1990, segundo afirmou sua igreja.

"Estávamos no caixa, e tiros começaram", disse Sarah Moonshadow, 42, que fazia compras com o filho. Sarah disse que tentou ajudar uma vítima caída no chão, do lado de fora da loja, mas seu filho a puxou. Ela lamentou não ter podido socorrer ninguém.

O autor do ataque foi identificado como Ahmad Al Aliwi Alissa, 21. Ele morava em Arvada, uma cidade próxima a Boulder, e passou a maior parte de sua vida nos EUA, segundo a polícia. Alissa foi ferido na perna em uma troca de tiros com os agentes. Após ser detido, foi levado a um hospital. Nesta terça (23), foi transferido para prisão, onde irá aguardar o julgamento.

Os investigadores afirmam acreditar que o autor agiu sozinho e dizem não saber qual foi a motivação do ataque. A arma utilizada foi um fuzil semiautomático AR-15, frequentemente usado em massacres, segundo o promotor Michael Doughert.

A cunhada do autor disse à polícia que Alissa estava "brincando" com uma arma de fogo, que ela descreveu como semelhante a uma metralhadora, dois dias antes do ataque. A atitude incomodou familiares, segundo seu depoimento.

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, disse que é preciso reforçar o controle do acesso às armas para evitar situações como a desta segunda-feira. A questão é debatida no Congresso, mas congressistas republicanos são contra mudanças no tema.

O governador do Colorado, o democrata Jared Polis, disse em suas redes sociais que estava monitorando os eventos. "Minhas orações estão com nossos companheiros neste momento de tristeza e pesar", escreveu. O FBI, a polícia federal americana, informou que seus agentes auxiliam a polícia local.

Desde o massacre de Columbine, região que fica a cerca de 60 km de Boulder, as polícias passaram a ser treinadas para interferir rapidamente e não cercar a área para esperar a chegada da Swat (unidade tática) antes de entrar. Esta mudança se explica pelo fato de a maioria das vítimas serem mortas nos primeiros minutos dos ataques. O FBI chegou a treinar polícias municipais em prédios vazios de escolas.

Esse é o segundo ataque a tiros de grande repercussão registrado nesta semana nos EUA. Na terça-feira (16), um homem matou oito pessoas —seis delas mulheres de ascendência asiática— em três casas de massagens diferentes. A polícia resiste em dizer que o caso teve motivação racial. Robert Aaron Long, suspeito indiciado na quarta (17) por oito acusações de homicídio, disse a detetives que frequentou esses locais no passado e que fez seus ataques para acabar com compulsões sexuais.

Ainda assim, o ataque desencadeou uma nova onda de medo e revolta entre asiático-americanos, mesmo fora da região de Atlanta. “Muita gente está até com medo de sair de casa agora”, comentou Max Leung, fundador de uma entidade chamada Coletivo de Paz de SF, que patrulha as ruas de San Francisco para proteger as comunidades asiáticas contra violência. “Estão com medo de sair para a rua.”

A deputada democrata Marilyn Strickland, de Washington, disse no plenário do Congresso na quarta: “A violência racialmente motivada deve ser descrita como tal. Temos que parar de apresentar desculpas e de reclassificá-la como ansiedade econômica ou compulsão sexual. Como mulher negra e coreana, tenho consciência aguda de como é a sensação de ser deletada ou ignorada”.

Autoridades e defensores observaram um aumento nos crimes contra americanos de origem asiática durante a pandemia. Alguns puseram a culpa nas palavras do ex-presidente Donald Trump, que reiteradamente chamou o coronavírus, identificado inicialmente na China, de “o vírus chinês”.

Na quinta (19), Biden disse que a tragédia integra um cenário de aumento vertiginoso da violência contra asiático-americanos. "Eles foram atacados, culpados, transformados em bodes expiatórios e assediados. Foram agredidos verbalmente, agredidos fisicamente, mortos", lamentou o presidente, após se reunir com líderes da comunidade em Atlanta. "Passaram um ano temendo por suas vidas."

Kamala Harris, a primeira vice-presidente de ascendência asiática na história americana, relacionou o ataque ao histórico de racismo do país e comparou-o ao ódio contra os muçulmanos após os atentados do 11 de Setembro.

"O racismo é real na América, e sempre foi. A xenofobia é real na América, e sempre foi. Sexismo também", disse. "O presidente e eu não ficaremos calados. Não ficaremos parados. Sempre falaremos contra a violência, contra os crimes de ódio e contra a discriminação, onde e quando ocorrerem."

Com The New York Times. Colaborou Lúcia Guimarães, de Nova York.

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