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Acusado de inseguro, Biden dá foco à política externa agressiva de Trump

Adversários e alguns aliados passaram a ser tratados com mais assertividade pelos EUA

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São Paulo

Os quatro turbulentos anos de Donald Trump à frente da Casa Branca foram marcados por um misto de agressividade e perda nocional de objetivos na política externa da maior potência econômica e militar do mundo.

Biden anda pelo cemitério militar de Arlington após anunciar o retirada de tropas americanas do Afeganistão
Biden anda pelo cemitério militar de Arlington após anunciar o retirada de tropas americanas do Afeganistão - Brian Smialowski - 14.abr.2021/AFP

Na campanha eleitoral, o republicano buscou impingir a Joe Biden a pecha de fraco e até senil. Vencedor, o democrata tratou de inverter a equação.

Se manteve boa parte dos princípios da política externa de Trump, a começar pela Guerra Fria 2.0 estipulada na relação com a China, Biden mostrou-se surpreendentemente assertivo.

Cercado por profissionais, como o secretário de Estado Antony Blinken, colocou foco onde antes havia só estridência.

Em vez de apenas esbravejar contra Pequim, chamou os chineses para uma reunião de cúpula diplomática. O tom foi duro de lado a lado, mas é possível argumentar que pelo menos as duas potências centrais do século 21 até aqui sentaram à mesa.

Deixou a lassidão com que Trump tratava a Rússia de Vladimir Putin e escolheu o russo como seu vilão de estimação. Adotou um morde-e-assopra com o Kremlin: estendeu um tratado de controle de armas nucleares, mas ao mesmo tempo impôs sanções aos russos.

Foi além, chamando Putin de assassino devido a seu tratamento do opositor Alexei Navalni, mas também ofereceu uma reunião de cúpula quando viu que o russo não estava para brincadeira quando a Ucrânia insinuou resolver à força a questão das áreas separatistas pró-Moscou no Donbass.

Assim como ele ignorou Trump e não desceu a seu nível na campanha, crê que pode desprezar o russo porque ao fim ele não tem musculatura econômica para enfrentar os EUA. Isso é correto, mas pode se provar perigosamente errado dado o histórico de uso da força quando enfraquecido de Putin.

A mesma forma incisiva está sendo dispensada a alguns aliados incômodos, sugerindo que Biden está inclinado a usar a defesa de direitos humanos quando lhe convém.

Afastou-se do príncipe herdeiro saudita, acusado de assassinato e coisas piores, e reconheceu o genocídio armênio nas mãos otomanas, contrariando a Turquia de Recep Tayyip Erdogan.

No primeiro caso, buscou uma posição de força na aliança montada por Trump no Oriente Médio para enfrentar o Irã, com quem gostaria de retomar o acordo nuclear rasgado pelo antecessor. Mas não é de se esperar nenhum rompimento com Riad.

No segundo, deu um doce a seus aliados da Otan, que tem em Ancara um sócio trabalhoso, revertendo os anos de maus-tratos impostos por seu antecessor à aliança atlântica.

Já a relação com Israel, que tinha tudo para ser fria dada a proximidade de Binyamin Netanyahu com Trump, parece estar se acomodando.

Ele ainda não se mexeu em relação à Coreia do Norte, mas poderá ser forçado a isso assim que Kim Jong-un resolver disparar alguns de seus novos mísseis.

Seu maior gesto individual, contudo, dependeu do uso de um instrumento deixado pelo republicano: o acordo de saída do Afeganistão, anunciando o fim da guerra mais longeva da história americana até 11 de setembro deste ano.

No intervalo, Biden busca liderança mundial na questão climática, com a cúpula da semana passada, e tem de lidar com esforços mais amplos para ajudar no controle da pandemia. A distribuição do seu excedente de vacinas é apenas o primeiro passo.

Assim, fica claro que, além dos riscos que o excesso de força retórica pode trazer, o problema à frente do democrata é a tentação de tentar abordar quase tudo ao mesmo tempo. Ainda mais quando ele "só", aspas obrigatórias, pretende reconstruir pilares da economia americana enquanto tudo isso ocorre.

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