Banqueiro Guillermo Lasso vence aliado de Correa e é eleito no 2º turno no Equador

Com 97% das urnas apuradas, Andrés Arauz admite a derrota após atingir 47,5% dos votos

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Buenos Aires

“La tercera es la vencida” (a terceira é a vencida) é uma expressão muito conhecida nos países de língua espanhola. Na noite deste domingo (11), no Equador, ela pode ser usada para definir a trajetória política do centro-direitista Guillermo Lasso, 65.

Após concorrer à Presidência de seu país em duas ocasiões, por fim o banqueiro e ex-diretor-executivo da Coca-Cola venceu a eleição, colocando um freio à tentativa do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) de voltar ao poder —ainda que por meio de um apadrinhado, o economista de esquerda Andrés Arauz.

Eleito presidente do Equador, o banqueiro Guillermo Lasso celebra vitória em centro de convenções de Guayaquil - Fernando Mendez/AFP

Com 97,9% das urnas apuradas, Lasso tinha 52,5%, ante 47,5% de Arauz, que admitiu a derrota. “Seguirei servindo o povo equatoriano”, disse ele. O derrotado afirmou ainda que será "uma oposição séria e democrática". Já o vencedor agradeceu a Deus e à família. "Hoje podemos todos dormir em paz."

Desde o primeiro turno, quando chegou atrás de Arauz, Lasso adotou uma linguagem mais moderna em sua comunicação, concentrou-se no eleitor mais jovem e se afastou do seu nicho original —o meio empresarial e os anti-correístas de centro-direita. Em entrevista à Folha, após o primeiro turno, afirmou: "Eu ouvi as urnas no último dia 7 de fevereiro e vi que a preocupação dos equatorianos, principalmente dos jovens, em relação ao meio ambiente e aos direitos da comunidade LGBT é muito grande. E, portanto, como candidato no segundo turno, é meu dever incorporá-los".

Na mesma ocasião, respondendo à pergunta sobre como seria sua relação com os países em que a esquerda recentemente voltou ao poder, afirmou que "todo líder da região será tratado com igual respeito". "As minhas preferências pessoais deixam de existir se passo a exercer essa função."


resultado da eleição no equador*

52,5% dos votos foram conquistados por Guillermo Lasso, vencedor do pleito

47,5% foi a fatia obtida por Andrés Arauz

* com 97,9% das urnas apuradas


Lasso foi presidente-executivo do Banco Guayaquil, governador da província de Guayas e ministro da Energia. Nasceu em Guayaquil, coração econômico do país, em uma família de classe média. Entre seus amigos próximos estão o ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar, o Nobel peruano Mario Vargas Llosa e o ex-presidente argentino Mauricio Macri, que o cumprimentou antes mesmo que a vitória do agora eleito tivesse sido anunciada oficialmente.

O Itamaraty, em nota divulgada nesta segunda-feira (12), também cumprimentou Lasso antes da confirmação oficial. "O governo brasileiro felicita o povo equatoriano pela realização do segundo turno das eleições presidenciais", disse o texto.

Lasso também foi ministro da Economia em 1999, quando o presidente era Jamil Mahuad, que implementou a dolarização do país, substituindo a moeda nacional, o sucre. "Estou me preparando para ser presidente há mais de dez anos", disse Lasso à Folha no ciclo eleitoral de 2017. O eleito é um liberal na economia e conservador nos costumes. Católico, é contra o aborto, mas respeita o matrimônio igualitário.

Diante das críticas ao sistema de contagem rápida, que falhou na primeira fase da disputa presidencial no Equador, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) afirmou que o método não seria usado no segundo turno, neste domingo. Isso significa que a apuração seria feita voto a voto.

Os números com a apuração praticamente concluída eram os mesmos da pesquisa de boca de urna divulgada pelo instituto Cedatos logo após o fechamento dos locais de votação. Uma outra pesquisa, da Clima Social, anunciou empate técnico e não informou os números —a lei eleitoral equatoriana proíbe a divulgação quando a diferença é de até 3 pontos percentuais. A TV local, no entanto, disse ter tido acesso aos resultados, que mostravam Arauz com 50,8%, e Lasso com 49,2%.

Candidato presidencial Andrés Arauz participa de campanha no dia da eleição no Equador - Luisa Gonzalez/Reuters

As pesquisas eleitorais não costumam ser confiáveis no país, e a situação fica mais complicada com a dificuldade de acesso a regiões afastadas devido às restrições impostas pela pandemia de coronavírus. Depois da divulgação das pesquisas de boca de urna, Arauz disse ter "certeza de que ganhamos". "[Mas] é preciso esperar os resultados oficiais. Os números que temos nos dão a vitória, mas temos de esperar".

As palavras empolgaram apoiadores em seu comitê de campanha, em Quito, que começaram a soltar fogos e a comemorar. Também houve festa no comitê de Lasso, em Guayaquil.

No primeiro turno, o CNE decidiu interromper a contagem rápida com quase 90% das atas contabilizadas porque verificou um empate técnico entre Lasso e o líder indígena Yaku Pérez.

Indígena vota em Pujili, no Equador - Santiago Arcos/Reuters

Como consequência, os equatorianos tiveram que esperar a contagem manual. Além disso, os dois rivais pediram mais de uma recontagem das atas em várias províncias do país. Lasso reclamou do CNE, que divulgou uma projeção quando havia 20% da contagem rápida realizada, afirmando que Pérez estava mais próximo de ir ao segundo turno.

O líder indígena, por sua vez, desde o primeiro dia convocou vigílias, nas quais apoiadores se manifestavam diante das sedes dos órgãos eleitorais. Segundo o esquerdista, seu adversário poderia recorrer a métodos fraudulentos para garantir a continuidade na disputa e, por ser um candidato milionário, teria recursos para subornar juízes eleitorais e fiscais.

Por fim, o país demorou duas semanas para conhecer os candidatos que iriam ao segundo turno das eleições —e os dois pediram votos até o último momento neste domingo. Em Quito, a capital do país, Andrés Arauz apareceu animado e pediu que as pessoas saíssem de casa para exercer seu direito democrático: "Hoje começamos a escolher o destino do país, cada voto conta".

A apoiadores, depois de votar, disse que governaria "com humildade e firmeza, para deixar a dor e o sofrimento para trás e começar uma gestão humana. Estamos motivados em levar o país adiante".

Na cidade costeira de Guayaquil, o candidato de centro-direita entrou no local de votação sob os gritos de "Lasso presidente" e cercado de apoiadores e familiares.

"Este é um dia de festa democrática em que todos os equatorianos nos encontramos para que, com o poder do voto, possamos escolher o futuro que viverão nossos filhos", disse, depois de votar. "Todos desejamos um Equador de oportunidades, livre, onde todas as famílias possam alcançar a prosperidade."

Quarto colocado no primeiro turno, com mais de 15% dos votos, o esquerdista Xavier Hervas também votou pela manhã em Quito. E pediu que os eleitores não votassem nulo ou em branco. "Mesmo que nenhuma das propostas seja a ideal, devemos escolher aquele que esteja mais perto de nossos valores", afirmou, na saída do colégio San Gabriel, em Quito. Hervas apoiou Lasso neste segundo turno.

Segundo Diana Atamaint, presidente do CNE, não havia relatos de aglomerações nos centros de votação no país. "O ingresso aos recintos eleitorais se produz de forma fluida e organizada", afirmou.

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