Descrição de chapéu Governo Biden

Biden expulsa diplomatas russos e impõe sanções a Moscou por interferência em eleições

Kremlin reage, convoca embaixador americano e diz que alguém precisará pagar pelos danos às relações entre os países

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BAURU (SP)

O governo de Joe Biden anunciou nesta quinta (15) a expulsão de dez diplomatas russos dos EUA e a imposição de novas sanções econômicas contra Moscou, em resposta à interferência do Kremlin nas eleições americanas e às operações de hackers do país em agências do governo e empresas privadas.

Segundo o anúncio da Casa Branca, os EUA impuseram sanções contra 32 entidades e indivíduos russos devido a campanhas de desinformação com o objetivo de interferir na eleição presidencial de 2020, na qual Biden foi eleito ao derrotar o republicano Donald Trump.

O governo americano também se juntou a União Europeia, Reino Unido, Austrália e Canadá ao anunciar medidas contra oito pessoas e entidades associadas à ocupação russa na Crimeia, exigindo que o país de Vladimir Putin "cesse imediatamente seu acúmulo militar e retórica inflamada".

A região, anexada pela Rússia em 2014, tem sido palco de movimentações militares recentes que acentuaram os sinais de uma crise diplomática envolvendo Moscou, Washington, Kiev e a Otan, a aliança militar ocidental liderada pela Casa Branca.

Os presidentes dos EUA e da Rússia, Joe Biden e Vladimir Putin - Eric Baradat e Pavel Golovkin/AFP

"O governo Biden deixou claro que os EUA desejam um relacionamento estável e previsível com a Rússia. Não achamos que precisamos continuar em uma trajetória negativa", diz o comunicado divulgado pela Casa Branca. "No entanto, também deixamos claro —pública e privadamente— que defenderemos nossos interesses nacionais e imporemos custos para as ações do governo russo que buscam nos prejudicar."

Além das acusações de interferência na eleição presidencial, os EUA acusam a Rússia de se envolver em "atividades cibernéticas maliciosas", de usar a "corrupção transnacional" para influenciar outros governos, de agir contra dissidentes e jornalistas, de minar a segurança de países e regiões aliados dos americanos e de "violar princípios consagrados do direito internacional".

Biden também assinou um decreto em que instrui o Tesouro americano a proibir instituições financeiras dos EUA de participarem de negociações envolvendo novos títulos públicos emitidos pela Rússia a partir de 14 de junho. Esses títulos são utilizados por governos de todo o mundo como forma de se financiarem.

Assim, a medida anunciada por Washington tem como objetivo dificultar o acesso de Moscou a esse mecanismo, em uma tentativa de asfixiar economicamente a Rússia —algo que as sanções impostas anteriormente foram incapazes. A ordem executiva ainda designa como alvos seis empresas russas que teriam dado suporte a ataques cibernéticos orquestrados pelo serviço de inteligência de Putin.

Esta foi a primeira vez que o governo americano acusou formalmente o Serviço de Inteligência Estrangeiro da Rússia (SVR) pelo ataque, no passado, à empresa de software SolarWinds. Considerada uma das ações de espionagem cibernética mais audaciosas de que se tem notícia, a inserção de vírus em aplicativos da SolarWinds permitiu que hackers se infiltrassem em órgãos do governo americano e empresas do porte da Microsoft, o que pode levar ao roubo de informações secretas por um longo período.

O conjunto de sanções também é apontado pelo governo Biden como uma resposta aos relatórios da inteligência americana que acusam a Rússia de ter oferecido recompensas ao Taleban para matar tropas da coalizão liderada pelos EUA no Afeganistão. Nesta quarta-feira (14), Biden divulgou um plano para a retirada de soldados americanos e da Otan do país até a simbólica data de 11 de setembro.

Antes mesmo do anúncio, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, adiantou que Moscou consideraria ilegais as sanções americanas e que reagiria com base no princípio da reciprocidade. Após tomar conhecimento das novas medidas, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, disse que as sanções contradizem o desejo declarado de Biden de normalizar os laços com Moscou.

"Advertimos repetidamente os EUA sobre as consequências de seus passos hostis, que aumentam perigosamente a temperatura do confronto entre nossos países", disse Zakharova, em entrevista coletiva.

“Esse comportamento agressivo sem dúvida receberá uma rejeição decisiva. Precisamos reconhecer que alguém precisa pagar pela degradação em nossas relações bilaterais. A responsabilidade pelo que está acontecendo é inteiramente dos Estados Unidos.”

A porta-voz disse ainda que o embaixador dos EUA em Moscou, John Sullivan, foi convocado para consultas no Ministério das Relações Exteriores. "Eu dificilmente teria dito isso antes, mas posso dizer agora: não será um encontro agradável para ele", afirmou.

Na última terça (13), Biden e Putin conversaram por telefone para, segundo o Kremlin e a Casa Branca, tratarem da piora na crise envolvendo as atividades militares em torno da Ucrânia. Na ocasião, o americano alertou que os EUA agiriam para proteger seus interesses, mas também levantou a perspectiva de uma cúpula entre os dois líderes. Ainda não está claro quando —ou se— essa reunião vai acontecer, mas o anúncio das novas sanções se tornou um obstáculo nas relações entre os dois presidentes, que já vinham protagonizando altercações desde que Biden tomou posse, em janeiro.

No mês passado, durante entrevista à emissora ABC, Biden prometeu que Putin sofreria as consequências de ações contra os EUA e, ao ser questionado se considerava o líder russo um assassino, assentiu e disse que sim. Putin, por sua vez, reagiu com ironia. "Sempre observamos nos outros nossas próprias qualidades e pensamos que eles são iguais a nós", disse ele, antes de propor um debate ao vivo com seu homólogo americano —algo que parece longe de acontecer.


ATRITOS ENTRE EUA E RÚSSIA NOS ÚLTIMOS ANOS

Interferência nas eleições

Agências de inteligência dos EUA concluíram que a Rússia interferiu na campanha presidencial de 2016, com o objetivo de eleger o republicano Donald Trump. Moscou teria envolvimento na invasão à conta de email da então candidata democrata, Hillary Clinton, e no vazamento das informações confidenciais. O Kremlin nega todas as acusações.

Já no pleito de 2020, as agências de inteligência americanas produziram um relatório no qual afirmam que o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou esforços para interferir na campanha presidencial americana em benefício de Trump, uma operação que contou com ações de inteligência para influenciar pessoas próximas ao agora ex-presidente e para prejudicar a imagem de Joe Biden.

Ataques hackers

Doze agentes de inteligência russos foram acusados de promoverem um ataque hacker aos computadores do Partido Democrata e da campanha de Hillary em 2016. Segundo denúncia do Departamento de Justiça, que isentou a campanha do republicano de ter se aliado à Rússia, eles trabalhavam para o GRU, o departamento central de inteligência do governo Putin.

Os agentes chegaram, sem sucesso, a tentar invadir os sistemas dos órgãos eleitorais que comandam a votação nos estados americanos. Em um deles, os russos conseguiram roubar nomes, endereços, data de nascimento e número de documento de 500 mil eleitores.

No fim de 2020, o governo Trump reconheceu que hackers agindo sob comando de um governo estrangeiro —provavelmente uma agência de inteligência russa, de acordo com especialistas federais e privados— invadiram uma série de redes governamentais, incluindo as dos departamentos de Tesouro e do Comércio, e tiveram livre acesso aos seus sistemas de email.

Sanções no caso Alexei Navalni

O governo Biden anunciou, no mês passado, sanções contra autoridades acusadas de tramar a prisão de Alexei Navalni, opositor russo detido assim que voltou à Rússia após tratar-se por 150 dias na Alemanha. As medidas incluem o banimento de viagem aos EUA e o congelamento de bens no exterior.

O grupo inclui o diretor do Serviço Federal de Segurança, apontado pela Casa Branca como responsável pelo envenenamento de Navalni, dois ministros-adjuntos da Defesa, dois responsáveis por política doméstica do Kremlin, o procurador-geral e o administrador do Serviço Penitenciário Federal.

Com Reuters

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