Descrição de chapéu The New York Times

Divulgação de vídeo de morte de menino de 13 anos por policial gera atos em Chicago

Gravação provocou nova onda de consternação devido à conduta de agentes da cidade

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Chicago | The New York Times

Um vídeo trêmulo e rápido divulgado em Chicago na quinta (15) mostra um policial perseguindo um menino por um beco escuro, gritando para ele parar. "Pare agora mesmo!", berra o policial, enquanto xinga, dizendo-lhe para soltar a arma. "As mãos, mostre suas mãos. Largue isso. Largue!" Quando o menino se vira, levantando as mãos, ouve-se um tiro, e o menino cai. Adam Toledo estava morto. Ele tinha 13 anos.

A divulgação da gravação da câmera do policial provocou uma nova onda de consternação devido à conduta da polícia de Chicago, ao mesmo tempo em que instiga um debate sobre o que as imagens —granuladas e imprecisas— realmente mostravam. Ativistas anunciaram protestos contra abusos da polícia no centro de Chicago, e a prefeita Lori Lightfoot pediu calma, mesmo quando se emocionou ao falar sobre a morte de Adam e sua própria dor ao ver o vídeo, que chamou de "agonizante".

Ativista antirracismo levanta os branços durante manifestação em frente à sede do Departamento de Polícia de Chicago
Ativista antirracismo levanta os branços durante manifestação em frente à sede do Departamento de Polícia de Chicago - Kamil Krzaczynski - 15.abr.21/Getty Images/AFP

Adam, que vivia em Little Village, bairro de maioria hispânica na zona oeste de Chicago, foi uma das pessoas mais jovens a serem mortas pela polícia no estado de Illinois em muitos anos.

Vídeos de mortes em ações da polícia têm perturbado os EUA. A divulgação da gravação em Chicago ocorre simultaneamente ao julgamento de Derek Chauvin, ex-policial acusado pela morte de George Floyd, e à acusação de uma policial de Minnesota, Kimberly Potter, pela morte a tiros de Daunte Wright, 20.

No caso de Chicago, que ocorreu nas primeiras horas de 29 de março, as autoridades disseram que dois policiais estavam respondendo a queixas sobre tiros quando viram duas pessoas em um beco e começaram a persegui-las. Os promotores disseram que Adam segurava uma arma quando correu pelo beco, e o oficial lhe pediu para parar e largar a arma.

Adeena Weiss Ortiz, advogada que representa a família Toledo, disse em uma entrevista coletiva na quinta que o vídeo mostra que Adam, um jovem hispânico que estava na sétima série da escola elementar Gary, tentou acatar as ordens do policial. "Ele jogou a arma", disse ela. "Se ele tinha uma arma, ele a jogou fora. O policial disse: 'Mostre suas mãos'. Ele obedeceu. Ele se virou."

Os fatos ocorreram em questão de um segundo. Em uma análise, o New York Times reduziu a velocidade do vídeo da polícia, assim como de outro dos 21 vídeos liberados pelas autoridades. Quando o policial, identificado como Eric Stillman, 34, dispara um único tiro, Adam está levantando os braços e parece ter as mãos vazias. No momento logo antes do tiro, Adam pode ser visto segurando o que parece ser uma arma atrás das costas, que ele joga atrás de uma cerca de madeira pouco antes de levantar as mãos.

Depois de atirar, Stillman chamou uma ambulância, procurou o ferimento e começou o procedimento de ressuscitação com a ajuda de outro policial. "Fique comigo", disse ele para Adam mais de uma vez. O Escritório Civil de Responsabilização da Polícia, órgão independente que investiga tiroteios da polícia em Chicago, divulgou os vídeos na quinta, depois de resistir a torná-los públicos devido à idade de Adam.

Quando as imagens se disseminaram nas redes sociais, ativistas comunitários e outros manifestaram revolta. Alguns disseram que a policial não tinha motivo para atirar no menino. "Foi difícil de assistir", disse Baltazar Enriquez, presidente do Conselho Comunitário de Little Village, dizendo que considerou o tiro um assassinato. "Adam levanta as mãos, e então o policial atira nele."

Enriquez disse que estão planejadas manifestações para quinta e sexta, com moradores exigindo que o dinheiro do orçamento da polícia seja encaminhado para programas comunitários. "Todo mundo está com muita raiva", disse. "Não precisamos de policiais enraivecidos. Precisamos de assistentes sociais."

A família de Adam foi autorizada a assistir ao vídeo na noite de terça. Depois, a família divulgou um comunicado chamando a experiência de "extremamente difícil e destruidora para todos os presentes".

Alguns detalhes dos eventos que levaram à morte de Adam surgiram no tribunal na semana passada.

Ruben Roman, 21, que, segundo as autoridades, estava com Adam no momento do tiro, depôs em uma corte do condado de Cook no sábado (10). Ele foi acusado de crime grave, de atirar descuidadamente, de uso ilegal de arma e de pôr uma criança em risco e foi detido com fiança estipulada em US$ 150 mil.

Segundo promotores, o vídeo capta Roman e Adam caminhando juntos por uma rua da zona oeste por volta das 2h30. Roman, segurando uma arma, parece disparar vários tiros contra um alvo não identificado.

Nos últimos dias, a mãe de Adam disse que não tinha ideia de que ele havia saído na noite dos tiros; ela pensava que ele estivesse em segurança em seu quarto nessa hora. Adam esteve desaparecido durante vários dias, disse ela, mas tinha voltado para casa e entrado no quarto que dividia com seu irmão.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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