EUA dizem que Bolsonaro 'foi construtivo', mas credibilidade se apoiará 'em planos sólidos'

Porta-voz do Departamento de Estado afirma que país manterá 'foco implacável nos resultados'

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Washington

O discurso de Jair Bolsonaro na Cúpula de Líderes sobre o Clima, nesta quinta-feira (22), foi visto como "positivo" e "construtivo" pelo governo americano, mas auxiliares de Joe Biden dizem que a credibilidade do presidente brasileiro se apoiará em "planos sólidos".

De acordo com um porta-voz do Departamento de Estado americano, o tom do discurso de Bolsonaro na cúpula foi bom e até surpreendente, mas a credibilidade dos EUA sobre o Brasil se apoiará “em planos sólidos, na execução do trabalho e em um foco implacável nos resultados.”

Acompanhado de ministros, o presidente Jair Bolsonaro, segundo da esq. para a dir., ouve discurso de Joe Biden na Cúpula do Clima
Acompanhado de ministros, o presidente Jair Bolsonaro, segundo da esq. para a dir., ouve discurso de Joe Biden na Cúpula do Clima - Marcos Correa/Presidência da República via AFP

Durante a apresentação na cúpula, Bolsonaro ofereceu uma fala que causou, no mínimo, estranhamento a quem observa a política ambiental considerada negligente de seu governo. O presidente brasileiro afirmou ter determinado a duplicação dos recursos destinados às ações de fiscalização ambiental no Brasil, comprometeu-se a alcançar a neutralidade climática até 2050 —dez anos antes da meta estabelecida anteriormente— e repetiu a promessa de acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

Os americanos ainda cobram, nos bastidores, que o discurso seja refletido em ações práticas e que resultados tangíveis sejam vistos ainda neste ano. Por outro lado, celebram o que consideram uma moderação retórica do brasileiro. Ainda segundo o porta-voz do Departamento de Estado, alcançar a neutralidade de carbono até 2050, dez anos antes do compromisso anterior e sem pré-condições, é significativo, assim como o compromisso de dobrar os fundos disponíveis para fiscalização.

A visão otimista é vantajosa para Biden, que tenta se consolidar como líder na reconfiguração da geopolítica mundial, ditada pelo clima, em que o Brasil é um personagem-chave. Conseguir um comprometimento de Bolsonaro era considerado pela Casa Branca uma vitória, apesar de os americanos esperarem um cronograma mais detalhado sobre como o país vai atingir suas metas, o que não apareceu no discurso elaborado no Planalto.

Orientado pela ala mais moderada do Itamaraty, o presidente brasileiro não deixou de pedir dinheiro aos países estrangeiros para ajudar na proteção das florestas, mas não exigiu recursos antecipados, como queria Ricardo Salles (Meio Ambiente), o que também foi visto de forma positiva pelos americanos.

Diplomatas do governo Biden não gostaram da postura considerada chantagista do ministro, que chegou a pedir US$ 1 bilhão para se comprometer com a redução de até 40% do desmate da Amazônia no próximo ano. Após a fala de Bolsonaro, os americanos disseram que "alcançar metas ambiciosas requer recursos" e que "os EUA estão comprometidos com a parceria com os brasileiros nesses esforços".

Por fim, o porta-voz do Departamento de Estado disse que os EUA estão satisfeitos que Bolsonaro tenha reconhecido o importante papel do setor privado em ajudar os americanos a encontrarem soluções.

"Concordamos com sua ênfase no envolvimento necessário dos povos indígenas e comunidades tradicionais na proteção das florestas em pé e da biodiversidade e com seu reconhecimento do importante papel do setor privado em nos ajudar a encontrar soluções", completou.

Em coletiva de imprensa na Casa Branca após o discurso do presidente brasileiro, o enviado do clima de Biden, John Kerry, disse que se surpreendeu com alguns dos comentários de Bolsonaro, mas questionou se o ele vai cumprir o que prometeu.

“Alguns dos comentários que Bolsonaro fez hoje me surpreenderam. Isso é muito bom, isso funciona se você fizer essas coisas. A pergunta é: eles farão essas coisas? E como seguirão e aplicarão, fiscalizarão tudo isso?”

Kerry confirmou que vai seguir conversando com o Brasil, mas que não planeja viajar para o país em breve.

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