Israel suspende bloqueios em Jerusalém após noites de violência entre policiais e palestinos

Depois do fim das restrições, manifestantes palestinos retiraram gradis nas áreas de acesso à Cidade Antiga; bloqueios eram uma das causas dos confrontos

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Jerusalém | AFP e Reuters

A polícia de Israel decidiu reabrir na noite deste domingo (25) as áreas próximas às entradas da Cidade Antiga de Jerusalém. As restrições eram uma das causas da insatisfação de manifestantes palestinos, que entraram em confrontos com as forças de segurança nos últimos dias.

A polícia anunciou a permissão por megafone perto do Portão de Damasco, uma das entradas ao local. Em seguida, manifestantes palestinos celebraram a decisão e retiraram os gradis que isolavam a área.

Um porta-voz da polícia disse à agência de notícias AFP que a decisão foi tomada "depois de consultas com autoridades locais e clérigos e de uma avaliação da situação, levando em conta os comerciantes que precisam sobreviver e [os esforços] para reduzir o nível de violência". "Nossas forças continuam operando na região e não permitiremos o retorno da violência", acrescentou o porta-voz.

Aglomeração de pessoas em escadaria com bandeira palestina estendida
Manifestantes palestinos comemoram suspensão dos bloqueios nos acessos à Cidade Velha de Jerusalém - Ahmad Gharabli/AFP

Agora, as autoridades israelenses esperam a desescalada da violência em Jerusalém. No sábado (24), a polícia de Israel e grupos de palestinos voltaram a se enfrentar na terceira noite consecutiva de confrontos na cidade. Na medida em que as tensões no país aumentam desde o início do ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, protestos se espalharam também por várias cidades na Cisjordânia e ao longo da fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza.

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, chegou a convocar uma reunião de emergência e pediu calma a todas as partes envolvidas. O pedido, no entanto, não cessou os enfrentamentos.

Embora menos violentos, os confrontos da noite de sábado incluíram centenas de policiais com equipamento de choque agindo com cassetetes, canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo contra palestinos que atacavam arremessando pedras e garrafas.

Palestinos entoam palavras de ordem e queimam pneus durante protesto em Gaza - Mahmud Hams - 24.abr.21/AFP

No Portão de Damasco, um dos principais meios de acesso à Esplanada das Mesquitas, localizada na Cidade Antiga, aconteceram alguns embates mais leves após a última oração do dia. Segundo a polícia, grupos de jovens colocaram fogo em lixeiras e foram dispersos pelos agentes.

"A polícia está causando os problemas. As pessoas querem se sentar aqui no Portão de Damasco no ramadã", disse Fares, 22, um palestino de Jerusalém Oriental, à agência de notícias Reuters. Ele não quis dar seu nome completo. "Todos os outros lugares estão fechados devido ao vírus, todos estão em casa. O Portão de Damasco é muito importante para os palestinos e é o caminho para nossos lugares sagrados."

Segundo Netanyahu, a liberdade de culto está sendo mantida para todos os residentes e visitantes de Jerusalém. Em Gaza, mais três foguetes foram disparados contra Israel: um foi interceptado pelo escudo antimísseis israelense, outro explodiu num terreno baldio e o último caiu no território da Faixa de Gaza.

O número de foguetes é apenas uma fração dos 36 que foram disparados contra Israel na noite de sexta-feira, mas é um novo sinal de alerta para os ataques que interromperam a sequência de meses de relativa quietude da fronteira entre Israel e Gaza.

No mesmo comunicado em que afirmou o desejo do governo de "manter a lei e a ordem pública" e pediu calma a todos os envolvidos, Netanyahu disse que o Exército de Israel está "preparado para qualquer cenário". Benny Gantz, ministro da Defesa israelense, também declarou que o Exército estava preparado para uma eventual escalada. "Se a calma não for mantida no sul, Gaza será duramente atingida, e os responsáveis serão os líderes do Hamas", disse.

O Hamas, grupo islâmico que controla Gaza e é considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, tem expressado apoio aos palestinos em Jerusalém e feito ameaças contra Israel. Posições identificadas pelo Exército como pertencentes ao Hamas também foram alvo de disparos de foguetes por Israel e monitoradas por tanques, caças e helicópteros militares.

O cenário em Jerusalém voltou a gerar preocupação internacional na última quinta. Palestinos, impedidos de realizar reuniões noturnas, sentiram-se especialmente provocados quando um grupo de israelenses ultranacionalistas fez uma marcha, organizada pelo movimento judaico de extrema direita Lahava, em direção ao Portão de Damasco, entoando gritos de "morte aos árabes" e "morte aos terroristas".

Houve confrontos entre os dois grupos, e a polícia dispersou manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e canhões de água. O saldo foi de ao menos 120 feridos e 50 presos.

Jerusalém está no centro do conflito israelense-palestino. Israel reivindica a cidade inteira, incluindo seu setor oriental capturado na guerra de 1967, como sua capital. Os palestinos buscam fazer de Jerusalém Oriental a capital de um futuro Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza.

A poucos minutos a pé do Portão de Damasco, em contraste com a violência dos últimos dias, cerca de 150 ativistas pacifistas israelenses realizaram uma manifestação.

“Queremos enviar uma mensagem tanto ao governo [israelense] quanto aos nossos vizinhos palestinos de que não ficaremos calados diante da violência, do incitamento e do racismo. Defenderemos o direito de todos de viver pacificamente em Jerusalém", disse Shaqued Morag, líder do grupo Peace Now (paz agora).

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