Descrição de chapéu África terrorismo

Moçambique anuncia retomada de cidade ocupada por grupo terrorista

Palma, perto de enorme complexo de gás no norte do país, foi atacada em 24 de março

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Maputo | Reuters e AFP

Tomada por terroristas ligados ao Estado Islâmico desde o fim de março, a cidade de Palma, a poucos quilômetros de um enorme complexo de gás no norte de Moçambique, está novamente sob controle das autoridades do governo, de acordo com o porta-voz do Exército, Chongo Vidigal.

Ele anunciou, na noite de domingo (4), em pronunciamento à rede estatal TVM, que “um número importante de extremistas foi morto”. "Houve uma perda significativa de vidas humanas e de infraestrutura destruída. Mas as pessoas estão seguras agora", acrescentou Armindo Ngunga, secretário de Estado da província de Cabo Delgado, à agência de notícias Reuters nesta segunda-feira (5).

Após fugirem de Palma devido a um ataque de terroristas, pessoas recebem ajuda humanitária em centro desportivo na região de Pemba
Após fugirem de Palma devido a um ataque de terroristas, pessoas recebem ajuda humanitária em centro desportivo na região de Pemba - Alfredo Zuniga - 2.abri.21/AFP

O município de 75 mil habitantes na província de Cabo Delgado foi cercado por terroristas no dia 24 de março —mesma data em que o grupo francês Total anunciou a retomada de obras da refinaria de extração de gás— e foi tomado três dias depois.

Houve relatos de que grande parte da cidade tenha sido destruída e de que havia cadáveres estendidos pelas ruas —imagens feitas pela TVM mostraram um soldado cobrindo um corpo caído e edifícios e carros incendiados. O governo disse que dezenas morreram no ataque, sem dar números exatos.

O EI reivindicou a autoria dos ataques por meio de sua agência de notícias, a Amaq, em 29 de março, afirmando ter assumido o controle da cidade após dias de confrontos com forças de segurança. Até aquele dia, o grupo disse ter matado ao menos 55 pessoas, entre as quais soldados, além de ter destruído e tomado prédios, incluindo fábricas e bancos.

Calcula-se que houvesse 60 mil pessoas em Palma àquela altura, e muitas fugiram para a Tanzânia ou para Nangade, perto da fronteira. O município atacado fica na região de bilionários megaprojetos para extração de gás, entre os quais o do grupo francês Total, que suspendeu novamente as operações após as ações terroristas. Na semana passada, entre 6.000 e 10 mil pessoas estavam abrigadas no ultraprotegido complexo da multinacional europeia ou tentando obter acesso, de acordo com a AFP.

Desde outubro de 2017, os extremistas da al-Shabaab, que juraram fidelidade ao Estado Islâmico, têm saqueado vilarejos e cidades em diferentes províncias, o que provocou o êxodo de quase 700 mil pessoas, segundo a ONU. O conflito em Cabo Delgado se estende pelo litoral norte de Moçambique, de Pemba até Palma, na fronteira com a Tanzânia.

Segundo o pesquisador da Anistia Internacional para Moçambique e Angola David Matsinhe, os insurgentes são jovens, em sua maioria do sexo masculino, nascidos na província de maioria muçulmana em um país com predominância católica.

O funcionário da Anistia Internacional explica que os insurgentes são fruto de um longo período de exclusão política, econômica e social. Após séculos sob controle português, Moçambique conquistou sua independência em 1975. Nesses mais de 45 anos como um Estado livre, porém, a região de Cabo Delgado foi ignorada pelo governo central, afirma o pesquisador.

A população local tinha como base de sua sobrevivência os recursos naturais. Para Matsinhe, o conflito se formou quando o governo central descobriu a existência das reservas de gás e começou a explorá-las sem oferecer desenvolvimento econômico e social para os moradores da região.

As multinacionais que possuem projetos em Cabo Delgado, por sua vez, não empregam a população local, diz o pesquisador, mas moçambicanos de outras províncias ou estrangeiros. Antes dos ataques a Palma, os confrontos já somavam 2.658 mortos, dos quais 1.341 são civis, segundo dados mais recentes do Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados —que não incluem esta última ação.

Um ataque com esse grau de coordenação, com armas modernas e combatentes de moral elevada, pelo menos a julgar pelo vídeo da preparação do ataque divulgado pela agência de notícias Amaq, é um sinal de que os insurgentes estão mais sofisticados, com mais treino, logística e parecem muito longe do enfraquecimento que se poderia imaginar da sua luta contra polícias, militares e mercenários.

O Centro para Democracia e Desenvolvimento moçambicano afirmou na última terça (30), em seu boletim, que a empresa privada de segurança sul-africana DAG (Dyck Advisory Group), cujo contrato com o Ministério do Interior para ajudar a polícia expira no dia 6 de abril, chegou a alertar para a iminência de um ataque, mas os avisos foram desconsiderados.

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