Descrição de chapéu União Europeia

Partido de Merkel define conservador moderado como candidato a premiê

Armin Laschet concorrerá ao posto na eleição em setembro após disputa interna com adversário mais popular

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Berlim | Reuters

A CDU (União Democrática Cristã), partido da primeira-ministra Angela Merkel, definiu nesta terça-feira (30) que seu recém-eleito chefe, o conservador moderado Armin Laschet, será o candidato nas próximas eleições alemãs. O pleito vai definir quem irá substituir a atual primeira-ministra no comando do país —ela já anunciou que vai deixar o cargo após 16 anos no poder.

O principal adversário de Laschet na disputa era o premiê da Baviera e líder da sigla associada CSU (União Social Cristã), Markus Söder. Mas depois de uma semana de disputas internas, ele admitiu a derrota nesta terça após constatar que a maioria da cúpula da CDU decidiu apoiar o rival.

"A CDU se reuniu ontem [segunda-feira, 19] e decidiu. Nós aceitamos isso, e eu respeito", disse Söder a jornalistas em Munique. "Liguei para Armin Laschet e o parabenizei. Em nome da CSU e pessoalmente, desejo sucesso a Armin Laschet na difícil tarefa que tem pela frente e lhe ofereço o apoio da CSU."

Armin Laschet, líder da CDU (União Democrata-Cristã) e candidato à sucessão de Angela Merkel, durante entrevista coletiva em Berlim - Tobias Schwarz - 19.abr.21/AFP

Na primeira entrevista coletiva após a formalização de sua candidatura, em Berlim, Laschet falou sobre medidas econômicas em resposta à pandemia de coronavírus, afirmou que sua visão para a Alemanha é "multilateral e democrática" e pediu uma união do bloco conservador.

"É importante que a CDU-CSU entre nesta campanha eleitoral como um único time", disse. “A CDU não vencerá esta eleição sem a CSU, e o contrário também é verdadeiro.”

Desde 1949, CDU e CSU disputam as eleições alemãs como uma coalizão, com a primeira apresentando candidatos apenas na Baviera e, a segunda, no restante do país.

Ao apoiar Laschet, 60, as lideranças da CDU priorizaram a ascensão do partido no bloco conservador em detrimento da candidatura de Söder, 54, de longe o favorito dos alemães para o posto de Merkel, tanto entre os que declaram voto na CDU-CSU quanto entre os eleitores em geral. "Markus Söder foi claramente o candidato que conquistou mais corações", disse o secretário-geral da CSU, Markus Blume. "Mas em uma democracia, e especialmente na democracia da política partidária, a maioria governa."

Uma pesquisa do instituto ARD Deutschlandtrend divulgada na última sexta (16) indicou que 72% dos eleitores conservadores da Alemanha disseram considerar Söder uma alternativa mais adequada para liderar a maior economia da Europa. Em outro levantamento, do instituto Infratest Dimap, indicava 17% de apoio a Laschet.

Merkel, que pela primeira vez em quase duas décadas não disputará as eleições federais previstas para 26 de setembro —depois de conquistar quatro vitórias consecutivas—, parabenizou Laschet pela formalização da candidatura. "Estou ansiosa por nossa cooperação nos próximos meses", disse, de acordo com uma publicação no Twitter feita pelo seu porta-voz. A CDU, que até hoje governou o país em 24 dos 31 anos desde a unificação alemã, é um partido de centro-direita sob o qual se abrigam liberais, cristãos conservadores, conservadores radicais e centristas urbanos mais progressistas.

Jornalista de formação, Laschet é um católico de centro que sempre apoiou as políticas de Merkel, inclusive a que abriu as portas da Alemanha a centenas de milhares de refugiados na crise de 2015.

Como primeiro-ministro da Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso do país, ele assumiu a proteção da indústria como prioridade. Mas sua gestão da pandemia —que na Alemanha é competência estadual— foi mal avaliada pela população. Söder, por sua vez, elevou sua popularidade por manter controle sobre a crise sanitária em seu estado, a Baviera.

Com 36% das intenções de voto na virada do ano, a união governante CDU-CSU começou a cair em fevereiro e chegou ao começo de abril com 27%, segundo pesquisas. Ainda é o partido com maior parcela de votos, mas sua distância para o segundo colocado, o Partido Verde, caiu de 17 pontos percentuais para apenas 5. Nesta segunda, os Verdes formalizaram a candidatura de sua colíder na disputa eleitoral.

Annalena Baerbock, 40, parlamentar, especialista em direito internacional, ecologista e ex-ginasta de trampolim, é o primeiro nome indicado pelo partido para o principal cargo político da Alemanha em mais de 40 anos. Em seu discurso, ela procurou dissipar temores sobre sua relativa falta de experiência em cargos políticos alegando que "a democracia vive da mudança". "Eu defendo a renovação. Outros representam o status quo. Gostaríamos de liderar este governo —mas como a política não é um exercício de realização de desejos, caberá aos eleitores decidir quem sairá desta eleição com quanta força", disse.


Quem é o candidato do partido de Angela Merkel

ARMIN LASCHET, 60

Cargo atual
Primeiro-ministro (equivalente a governador) da Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso da Alemanha. Em janeiro, foi eleito líder da CDU (União Cristã Democrata), partido da premiê Angela Merkel.

Origem
Nasceu em 18.fev.1961, em Aachen (oeste da Alemanha), perto da fronteira com a Holanda e a Bélgica.

Família
Seu pai, de origem belga, trabalhou em minas de carvão e foi professor e diretor de ensino fundamental; sua mãe também era de família católica praticante. Católico, é casado com a francesa Susanne Malangré, que conheceu na infância. Tem dois filhos e uma filha.

Formação
Formou-se em direito nas universidades de Bonn e Munique. Estudou jornalismo e trabalhou como jornalista até os primeiros anos de sua carreira política

Carreira
1994 - Parlamento alemão
1999 - Parlamento Europeu
2005 - ministro estadual (equivalente a secretário) na Renânia do Norte-Vestfália, em duas áreas: Gerações, Família, Mulheres e Integração e Assuntos Federais, Europa e Mídia
2012 - presidente estadual da CDU
2017 - primeiro-ministro da Renânia do Norte-Vestfália

POSIÇÕES POLÍTICAS

Relações exteriores

  • É considerado brando nas relações com a Rússia sob a gestão de Vladimir Putin
  • Nas relações com a China, tem priorizado as exportações industriais alemãs
  • Absteve-se de críticas ao governo Trump e declarou em 2019 que os EUA eram o parceiro mais importante da Alemanha fora da UE

Política social

  • Apoiou a política de Merkel, que abriu a Alemanha a imigrantes na crise de 2015
  • Foi contrário a propostas para proibição da burca, adotadas depois por seu partido
  • Como Merkel, foi contrário ao casamento entre pessoas do mesmo sexo
  • Adotou política de “tolerância zero” contra extremismo e terrorismo em seu estado.

Economia

  • De centro, apoia moderadamente a austeridade fiscal em vez de gastos públicos elevados. Afirma-se como pró-negócios
  • À frente do estado da Renânia do Norte-Vestfália, fortemente industrial e reduto de políticos social-democratas de centro-esquerda, adotou a proteção à indústria como prioridade.

Ambiente

  • Defende o combate a mudanças climáticas, mas já afirmou que é preciso equilibrar políticas ambientais e crescimento da economia.
  • À frente de um estado predominantemente ambiental, defende a necessidade de oferta ampla de energia com custos competitivos

União Europeia

  • Nos anos em que foi eurodeputado (de 1999 a 2005), concentrou-se em temas de política externa, relações internacionais e orçamento
  • Defende a integração europeia em política energética, combate ao terrorismo e ao crime organizado
  • Advoga eleições diretas para a Presidência da Comissão Europeia (Poder Executivo da UE) —hoje quem elege o presidente é o Parlamento Europeu
  • Fluente em francês, é próximo do presidente da França, Emmanuel Macron. Em 2020, foi homenageado pela ajuda a cidadãos franceses durante a primeira onda da pandemia de Covid-19
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.