Descrição de chapéu The New York Times

Policial atacado na invasão do Congresso dos EUA morreu de AVC, aponta legista

Autópsia afirma que substância borrifada pelos invasores não foi responsável pela morte do agente

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Adam Goldman
Washington | The New York Times

O guarda Brian Sicknick, membro da Polícia Legislativa dos EUA, sofreu um acidente vascular cerebral (AVCs) horas depois de enfrentar uma multidão pró-Donald Trump durante a invasão do Congresso em 6 de janeiro e morreu devido a causas naturais, disse o médico legista de Washington na segunda-feira (19).

A determinação provavelmente complicará os esforços do Departamento de Justiça para processar alguém pela morte de Sicknick, 42. Dois homens foram acusados de atacá-lo borrifando uma substância química não identificada sobre ele na área externa do Capitólio.

Foto do policial Brian Sicknick, durante homenagem no Capitólio - Brendan Smialowski - 2.fev.21/AFP

Mas uma autópsia não encontrou evidências de que Sicknick teve uma reação alérgica a produtos químicos ou de algum ferimento interno ou externo, segundo disse o médico legista Francisco J. Diaz ao jornal The Washington Post. "Tudo o que aconteceu teve influência na condição dele", disse o legista.

Seu escritório disse que uma morte é classificada como de causas naturais quando pode ser atribuída somente a uma determinada enfermidade e que, "se a morte é apressada por um ferimento, a morte não é considerada natural". Sicknick foi uma das cinco pessoas que morreram após o ataque. Um dos manifestantes, Ashli Babbitt, foi morto a tiros por outro policial do Capitólio. Dois outros morreram por complicações de doença cardíaca e uma morte foi acidental, decidiu Diaz.

Sicknick morreu de "infartos agudos do tronco encefálico e cerebelo devidos a trombose arterial basilar", concluiu Diaz, o que significa um AVC grave. A artéria que abastece o tronco encefálico —o principal controlador das funções corporais como respiração e batimentos cardíacos— foi bloqueada por um coágulo, que bloqueou o fluxo sanguíneo para o cerebelo, na parte posterior do cérebro.

Os derrames que envolvem o tronco encefálico são devastadores e geralmente fatais, disse o doutor Lee Schwamm, especialista em AVC da Universidade Harvard. Eles geralmente são causados por aterosclerose na artéria que alimenta o tronco cerebral ou por um grande coágulo que se origina no coração e se aloja nessa artéria.

Dois homens foram acusados no mês passado de atacar Sicknick, mas os promotores evitaram ligar o ataque à sua morte. Ele foi ferido "em consequência de ser borrifado no rosto" com uma substância não identificada, segundo documentos do tribunal. O Departamento de Justiça acusou os suspeitos, George Pierre Tanios, 39, de Morgantown, na Virgínia Ocidental, e Julian Elie Khater, 32, de State College, no estado da Pensilvânia, de agirem juntos "para atacar oficiais de polícia com uma substância química não identificada, borrifando os policiais diretamente no rosto e nos olhos".

Tanios e Khater foram acusados de conspiração para ferir um policial, de atacar um policial com arma perigosa, de distúrbio civil, de obstrução de procedimento policial e de outros crimes relacionados à conduta violenta na área do Capitólio.

A determinação de Diaz provavelmente será usada por apoiadores do ex-presidente Donald Trump e outros que tentaram atenuar a invasão do Capitólio. Cerca de 140 policiais foram atacados durante o tumulto, incluindo 80 da Polícia Legislativa e 60 da Polícia Metropolitana de Washington, segundo o Departamento de Justiça. Dois outros policiais que tentaram impedir o ataque morreram mais tarde por suicídio.

Mais de 410 pessoas foram detidas em pelo menos 45 estados.

Em um comunicado divulgado na segunda-feira (19), a Polícia Legislativa disse que aceita as conclusões do legista, mas acrescentou: "Isso não muda o fato de que o policial Sicknick morreu na linha de frente, corajosamente defendendo o Congresso e o Capitólio".

Sicknick entrou para o departamento em julho de 2008 e recentemente servia em sua unidade de primeira reação. Ele era um veterano da Guarda Aérea Nacional que serviu na Arábia Saudita e no Quirguistão.

A Polícia Legislativa havia dito anteriormente em um comunicado que Sicknick morreu de ferimentos sofridos "enquanto enfrentava fisicamente os manifestantes". Os homens borrifaram Sicknick e outros agentes pouco antes da queda da barreira que a polícia montou a oeste do Capitólio —foi depois disso que os invasores assumiram o controle do local, como mostrou um vídeo obtido pelo New York Times.

Sicknick e dois outros policiais ficaram feridos e temporariamente cegos "em consequência de serem borrifados no rosto" com uma substância não identificada por Khater e Tanios, segundo o FBI, a Polícia Federal americana.

Os homens foram vistos no vídeo no início da tarde de 6 de janeiro parados a alguns metros dos policiais, incluindo Sicknick, disse o FBI. Em um vídeo do ataque, Khater diz "me dê isso" e pega a mochila de Tanios. Tanios protesta que era muito cedo, aparentemente para atacar os policiais com o spray. Khater retruca que ele acabara de ser borrifado e ergue uma lata de spray químico.

As autoridades disseram que Sicknick e dois outros policiais, que estavam parados perto de Khater, reagiram ao spray e foram forçados a recuar. Depois de desmaiar naquela noite, Sicknick foi levado ao hospital, onde morreu mais tarde. Investigadores abriram uma investigação por homicídio imediatamente depois de sua morte, na esperança de determinar se alguém que lutou com ele contribuiu para sua morte.

Policiais descreveram os acontecimentos de 6 de janeiro como "medievais" devido ao combate manual e ao uso de objetos como tacos de beisebol, mastros de bandeira e canos como armas. É extremamente improvável que o spray tenha causado os derrames de Sicknick, disse Schwamm. A explicação mais provável, segundo ele, foi uma terrível coincidência de tempo, quando os coágulos sanguíneos que ocorreram por outras razões subiram ao cérebro quando o policial estava numa situação aterrorizante.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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