Rei da Jordânia diz que reprimiu tentativa de golpe e que país está estável

Ex-príncipe herdeiro Hamza bin Hussein foi detido acusado de conspiração com agentes estrangeiros

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Amã e Washington | Reuters

O rei Abdullah da Jordânia anunciou nesta quarta (7) que a suposta tentativa de golpe no país foi reprimida e que a situação está controlada. É a primeira declaração após a crise com seu meio-irmão, o ex-príncipe herdeiro Hamza bin Hussein, acusado de ter conspirando com agentes estrangeiros para desestabilizar o país.

O monarca afirmou que a ofensiva foi especialmente dolorosa porque veio de uma pessoa de dentro da família real. "Nada se compara ao que senti —choque, dor e raiva— como irmão e guardião da família Hachemita e líder deste querido povo", afirmou ele em uma carta transmitida à nação.

No sábado (3), as Forças Armadas do país prenderam 20 pessoas em uma operação e alertaram o governo a respeito de ações contra a “segurança e estabilidade” da Jordânia —país aliado dos EUA.

O ex-herdeiro da Jordânia Hamza bin Hussein durante evento em Amã
O ex-herdeiro da Jordânia Hamza bin Hussein durante evento em Amã - Ali Jarekji - 21.ago.2004/Reuters

Em vídeo, o príncipe Hamza, 41, negou a acusação e afirmou estar em prisão domiciliar. Ele disse que não participou de um complô e acusou as autoridades do seu país de corrupção e incompetência.

Dois dias depois, porém, após mediação da família real, ele assinou uma carta declarando lealdade ao rei. Abdullah disse que decidiu lidar com o caso "dentro da estrutura da família Hachemita". “Quanto aos demais aspectos, estão sob investigação, de acordo com a lei”, afirmou na carta.

Segundo a agência de notícias estatal, Hamza já vinha sendo investigado e, entre as comunicações interceptadas, havia conversas entre agentes de inteligência estrangeira e a esposa do príncipe para organizar o envio de um avião para tirar o casal do país.

Cerca de 16 pessoas foram presas em conexão com o suposto complô. Estão entre os detidos de sábado Sharif Hassan Ben Zaid, um membro da família real, e Bassem Awadallah, um confidente do rei que depois se tornou ministro das Finanças e conselheiro do príncipe saudita Mohammad bin Salman, o que levantou a hipótese de a Arábia Saudita ter algum tipo de envolvimento num suposto plano na Jordânia.

O presidente dos EUA, Joe Biden, ligou para o rei Abdullah nesta quarta para dizer que Washington apoiava as ações da Jordânia "para preservar sua segurança e estabilidade", confirmaram os governos de ambos países —os EUA já haviam declarado seu apoio após as detenções de sábado, quando o Departamento de Estado disse que Abdullah é um "parceiro-chave".

Questionado por repórteres se ele estava preocupado com a situação na Jordânia, Biden disse que não. "Acabei de ligar [ao rei Abdullah] para dizer que ele tem um amigo na América [e que] fique firme."

O país proibiu todos os meios de comunicação e usuários de mídia social nesta terça-feira (6) de publicar qualquer conteúdo relacionado às investigações sobre Hamza. Os acontecimentos podem afetar a imagem da Jordânia como uma ilha de estabilidade no turbulento Oriente Médio.

Hamza foi criado por sua mãe, a rainha Noor, para suceder o rei Hussein (1935-1999), que governou por quase cinco décadas. No entanto, outro filho, Abdullah, foi apontado como herdeiro e assumiu o trono em 1999. Em 2004, Abdullah tirou Hamza do posto de príncipe herdeiro e deu a posição a um filho dele, também chamado Hussein.

Desde então, Hamza tenta ganhar popularidade entre tribos proeminentes do país. Figuras da oposição têm se aproximado dele, algo visto com reservas pelo rei. Essas tribos de oposição, chamadas Herak, vêm convocando protestos contra a corrupção na Jordânia, onde a pandemia de Covid-19 causou desemprego recorde e aumentou a pobreza. Elas também tiveram uma participação importante nos protestos da Primavera Árabe no país.

O rei Abdullah conseguiu levar estabilidade política para o país e ganhar estatura como um proeminente líder árabe cuja mensagem encontrou eco especialmente em fóruns ocidentais.

Uma ex-autoridade dos EUA com conhecimento das ações na Jordânia afirma que o suposto plano não envolveria um "golpe físico", mas protestos que pareceriam ser uma "insurgência popular nas ruas".

Após as detenções, a corte real saudita expressou total apoio ao rei Abdullah, assim como Egito, Líbano e Bahrein. A rainha Noor defendeu seu filho. "Rezando para que a verdade e a Justiça prevaleçam para todas as vítimas inocentes desta calúnia perversa", escreveu a monarca em suas redes sociais.

A maioria dos políticos acha que o príncipe Hamza não representa uma ameaça, dado que as Forças Armadas e de segurança apoiam fortemente o rei Abdullah. "Acredito que o rei tenha reforçado sua autoridade e que o filho dele, Hussein, consolidou-se como herdeiro do trono”, disse Jawad al Anani, que foi o último chefe da corte do reinado do rei Hussein.

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