Descrição de chapéu Governo Biden

Separados em dois hotéis, Irã e EUA começam negociações indiretas para reviver acordo nuclear

Enviados dos dois países concordaram em estabelecer grupos de trabalho em Viena

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São Paulo e Viena | Reuters

Os Estados Unidos e o Irã concordaram, nesta terça-feira (6), em estabelecer dois grupos de trabalho para tentar fazer com que os dois países voltem a cumprir o acordo nuclear entre os iranianos e as maiores potências do mundo. Um relatório inicial deve ser apresentado no fim desta semana.

A decisão marca o primeiro dia de negociações em Viena, onde o pacto foi originalmente firmado em 2015. O Irã se reuniu com os outros membros atuais do acordo —Reino Unido, China, França, Alemanha, Rússia e o coordenador-chefe da União Europeia— em um grande salão de hotel, enquanto a equipe americana, liderada pelo enviado especial Robert Malley, trabalhou separadamente em um hotel próximo, a cinco minutos de distância.

Diplomatas da União Européia, China, Rússia e Irã no início das negociações nesta terça-feira (6) num hotel em Viena
Diplomatas da União Europeia, China, Rússia e Irã no início das negociações nesta terça-feira (6) num hotel em Viena - Lars Ternes/AFP

Sem negociações cara a cara —o Irã se recusou a se encontrar diretamente com os EUA—, os europeus trabalham numa espécie de diplomacia intermediária, deslocando-se entre as delegações dos dois países.

Após as reuniões, todas as partes concordaram em estabelecer um grupo de trabalho para alinhar os interesses dos EUA e do Irã e apresentar um relatório na sexta-feira (9).

Assim, um grupo vai se concentrar em como fazer Washington voltar ao acordo retirando sanções econômicas impostas após a saída do pacto, decidida pelo então presidente Donald Trump em 2018. O outro grupo, por sua vez, formulará como fazer o Irã voltar a cumprir as limitações do tratado em torno do enriquecimento de urânio. Por ora, Teerã e Washington deram um aceno positivo às conversas. O principal negociador do lado iraniano, Abbas Araqchi, disse que as primeiras conversas foram "construtivas".

"Estamos confiantes de que estamos no caminho certo e, se a vontade, seriedade e honestidade dos EUA forem provadas, pode ser um bom sinal para um futuro melhor para este acordo", acrescentou o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabiei. “Embora não estejamos nos reunindo diretamente com os iranianos, essas discussões são um passo bem-vindo,” disse o porta-voz do do Departamento de Estado, Ned Price, em entrevista coletiva na capital americana.

O enviado de Moscou e embaixador em organizações internacionais em Viena, Mikhail Ulyanov, disse que os grupos já começaram seus esforços para identificar medidas concretas para avançar, mas ressaltou que as negociações não devem dar resultados imediatos. “A restauração do acordo não acontecerá imediatamente. Vai levar algum tempo. Quanto tempo? Ninguém sabe”, escreveu em redes sociais.

Tanto o Irã quanto os EUA insistem que querem voltar ao acordo, mas discordam sobre quem deve dar o primeiro passo. Por isso, as negociações atuais também têm como objetivo criar um roteiro para um retorno sincronizado ao cumprimento do pacto. Mesmo que haja acordo, a verificação ainda pode demorar algum tempo devido às complicações técnicas e à falta de confiança de ambas as partes.

Destacando as dificuldades de um avanço, Majid Takht-Ravanchi, enviado do Irã às Nações Unidas e ex-negociador nuclear, colocou a responsabilidade sobre Washington. "Os EUA até agora não honraram a promessa de campanha [de Joe Biden] de voltar ao acordo. Portanto, esta oportunidade não deve ser desperdiçada", disse ele em suas redes sociais. "Se os EUA suspenderem todas as sanções, o Irã suspenderá todas as medidas corretivas."

Biden prometeu voltar ao acordo, o que significaria remover as cerca de 1.600 sanções impostas ao Irã depois que Trump desistiu dele. A política de pressão máxima do republicano impediu empresas europeias e outras de fazer negócios com o país persa, e os signatários falharam em fornecer os benefícios econômicos devidos. Depois de cerca de um ano do rompimento, o Irã começou a violar os limites de enriquecimento estabelecidos no pacto.

O democrata também já afirmou que quer construir um "acordo mais longo e mais forte" que trataria de outras questões, incluindo o programa nuclear de longo prazo do Irã, seu desenvolvimento de mísseis balísticos e seu apoio a governos do Oriente Médio.

O líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final em todas as questões nacionais, se opôs a qualquer flexibilização gradual das sanções. Ainda do lado iraniano, o país realizará eleições presidenciais em junho, e o governo claramente quer mostrar progressos nas conversas para retirar as punições estrangeiras à economia local.

Com The New York Times

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