Ex-funcionário mata 8 pessoas a tiros em centro de operações da FedEx nos EUA

Autor de ataque em Indianápolis tinha 19 anos, histórico de doenças mentais, e já havia sido detido pelo FBI em 2020

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Washington | AFP e Reuters

Um atirador matou oito pessoas e feriu várias outras em um centro de operações da empresa de entregas FedEx em Indianápolis, nos EUA. O caso ocorreu na noite de quinta (15), por volta das 23h (0h de sexta em Brasília), num prédio perto do aeroporto da cidade, de cerca de 860 mil habitantes.

Segundo a polícia, o atirador cometeu suicídio. Ele foi identificado como Brandon Hole, 19, um ex-funcionário da empresa com um histórico de doenças mentais que o levou a ser detido por agentes do FBI (a polícia federal americana) para averiguações no ano passado.

As autoridades ainda investigam qual teria sido a motivação do ataque, e o número exato de feridos não foi informado.

Trabalham no local mais de 4.000 pessoas, segundo a imprensa da região. "[A situação] é de partir o coração. Os policiais vieram, entraram e fizeram seu trabalho. E muitos deles estão tentando encarar isso, porque é uma cena que ninguém nunca deveria precisar ver", disse Genae Cook, porta-voz da polícia local.

Viatura em rua de Indianápolis após ataque a instalação da empresa de entregas FedEx
Viatura em rua de Indianápolis após ataque a instalação da empresa de entregas FedEx - Kevin Powell/Indy First Alert via Reuters

Imagens de TV mostraram familiares das vítimas, amigos e colegas de trabalho, todos com máscaras devido à pandemia de coronavírus, em um ponto de encontro montado perto de um hotel.

Um homem que trabalha no local viu o momento em que o homem começou a atirar. "Vi um cara com uma submetralhadora, ou fuzil automático, e ele estava atirando a céu aberto. Eu imediatamente me abaixei, fiquei com medo", disse Jeremiah Miller. Timothy Boillat, outro funcionário da instalação, disse ao canal WISH-TV ter testemunhado o ataque e visto diversas viaturas no local. "Depois de ouvir os tiros, eu vi um corpo no chão. Felizmente, eu estava suficientemente longe, e [o atirador] não me viu".

Um porta-voz da FedEx disse que a empresa está chocada e triste pela perda de seus funcionários e cooperando com as investigações. Ele não esclareceu se todas as vítimas eram empregados da empresa.

De acordo com o FBI, o atirador foi detido temporariamente em março do ano passado depois que sua mãe chamou a polícia alegando que ele poderia tentar cometer “suicide by cop” (suicídio por policiais, em livre tradução). A prática consiste em provocar deliberadamente alguma situação ameaçadora —como um ataque a tiros em um lugar público— para ser morto pela polícia.

Na ocasião, Brandon Hole foi investigado pelos agentes, mas acabou liberado depois que o inquérito não identificou violações da lei e concluiu que não havia sinais de "nenhuma ideologia de extremismo violento com motivação racial". Uma espingarda encontrada na residência de Hole foi apreendida.

Investigadores no local do ataque em Indianápolis, na manhã desta sexta (16) - Jeff Dean/AFP

Esse foi o segundo ataque a tiros em Indianápolis neste ano. Em janeiro, um adolescente atirou e matou quatro membros de sua família e uma mulher grávida.

Em âmbito nacional, ao menos 30 pessoas foram mortas em crimes semelhantes no último mês. Em 16 de março, oito pessoas foram assassinadas por um homem em três casas de massagem em Atlanta, na Geórgia —seis vítimas tinham ascendência asiática, o que reacendeu o debate sobre crimes motivados por questões raciais nos EUA.

Seis dias depois, em 22 de março, dez pessoas foram mortas em um ataque em um supermercado em Boulder, no estado do Colorado. No dia 31, quatro pessoas, incluindo uma criança, foram baleadas e mortas em um prédio comercial, em Orange, nos arredores de Los Angeles.

No ataque em Indianápolis, apesar de nenhuma vítima ter sido formalmente identificada, membros da comunidade Sikh, uma religião monoteísta com origem na Índia, estão entre os mortos e feridos, de acordo com o grupo ativista Sikh Coalition, de Nova York.

A entidade estima que haja cerca de 8.000 sikhs em Indiana e, de acordo com a imprensa local, o chefe de polícia de Indianápolis foi informado que a maioria dos funcionários da FedEx faz parte dessa etnia.

Na semana passada, o presidente Joe Biden anunciou uma série de medidas para conter o que chamou de epidemia da violência provocada pelas armas de fogo no país. Entre as ações, está um plano para prevenir a propagação das chamadas "armas fantasmas", kits com peças e instruções que permitem ao comprador montar o próprio armamento "em menos de 30 minutos", driblando, assim, a fiscalização.

O presidente também anunciou que vai aumentar as regulamentações para os "cintos estabilizadores", dispositivos que servem de suporte para o braço e tornam os disparos mais precisos e, portanto, mais letais. O autor do ataque no Colorado usava um desses equipamentos.

Biden anunciou que suas propostas são um ponto de partida e reforçou um pedido ao Congresso pela aprovação de medidas mais abrangentes. Atualmente, dois projetos de lei aprovados pela Câmara, que prevêem a ampliação da checagem de antecedentes de quem compra armas pela internet e o aumento do prazo entre a venda e a entrega para até dez dias —o que daria mais tempo para analisar o histórico do comprador— aguardam votação no Senado.

O aumento do controle de acessos a armas, no entanto, é barrado no Legislativo por políticos ligados ao Partido Republicano, que veem o direito de portar armas como um símbolo da liberdade e da visão de país que defendem.

Em 2020, houve alta no número de mortes por armas de fogo no país, com 19.380 mortos e 39.427 feridos por tiros nos EUA no ano passado, segundo dados da entidade Gun Violence Archive. Desde 2016, essa média ficava em torno de 15 mil mortes por ano.


PRINCIPAIS LEIS SOBRE ARMAS NOS EUA


1791
2ª Emenda Constitucional
Diz apenas: "Uma milícia bem regulada, sendo necessária para a segurança de um Estado livre, o direito de manter e portar armas não deve ser infringido".

1934
National Firearms Act (Lei nacional de armas de fogo)
Primeira lei federal a regulamentar e taxar a fabricação e a venda de armas de maior calibre. Pistolas ficaram de fora das regras.

1938
Federal Firearms Act (Lei federal de armas de fogo)
Exigiu que fabricantes, importadores e vendedores de armas tenham licença para atuar e impediu a venda de armas a ex-condenados pela Justiça, entre outras categorias

1968
Gun Control Act (Lei de controle de armas)
Expandiu a lista de restrições à compra, determinou que as armas tivessem um número de registro e vetou a importação, exceto para fins esportivos —mas sem definir o que seriam “fins esportivos”.

1986
Firearms Owners' Protection Act (Lei de proteção aos donos de armas)
Retirou várias restrições à compra, legalizou a venda em feiras de armas e afrouxou as exigências para que comerciantes mantenham registros sobre os produtos vendidos.

1993
Brady Act (Lei Brady)
Estabeleceu prazo de cinco dias entre a compra e a entrega, para haver mais tempo para a checagem de antecedentes do cliente. Nos anos seguintes, a norma foi flexibilizada e, atualmente, é permitida uma avaliação rápida em muitos casos.

1994
Federal Assault Weapons Ban (Veto federal às armas de assalto)
Baniu a fabricação, venda e posse de armas semiautomáticas e de maior poder de fogo. A medida expirou em 2004 e não foi renovada.

2005
Protection of Lawful Commerce in Arms Act (Proteção ao comércio legal de armas)
Proibiu que fabricantes e vendedores sejam processados caso seus produtos sejam usados em crimes e passou a exigir que as armas sejam transportadas e mantidas de forma segura.

2007
NCIS Improvement Amendments Act (Lei de melhoria no sistema nacional de checagem de informações criminais)
Deu estímulos financeiros para que os estados melhorem as bases de dados a serem consultadas pelos vendedores antes de entregar as armas aos compradores.

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