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A estratégia de comunicação de Macron para atingir o público jovem na França

Em vídeo no YouTube, presidente da França participa de 'concurso de piadas' com youtubers populares no país

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Astrid Pilpe
RFI

O presidente francês continua a resistir a qualquer categorização dentro de "o que um presidente não deve fazer". Em uma conversa gravada de 30 minutos no Palácio do Eliseu, na capital francesa, Emmanuel Macron interagiu ao lado dos youtubers mais populares da França, Mcfly e Carlito, apontando se as piadas contadas por um ou outro eram falsas ou verdadeiras.

O concurso de piadas entre o presidente, francês Emmanuel Macron, e os youtubers Mcfly et Carlito
O concurso de piadas entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e os youtubers Mcfly e Carlito - Reprodução Mcfly et Carlito no YouTube

O vídeo já conta com mais de 12 milhões de visualizações, enquanto a mídia francesa continua se perguntando como interpretar a comunicação híbrida do "macronismo", que não é inteiramente política, nem inteiramente entretenimento, e qual é a eficácia simbólica de um chefe de Estado no Youtube.

Em entrevista realizada pelo jornal francês Le Figaro, o analista de língua francesa Raphaël Llorca mostra que, para interpretar o "mistério de Macron", é necessário observar três fenômenos em sua encenação: inversão, simulação e intuição.

Uma inversão: da oferta à demanda

Em 2017, no ano de sua eleição, Macron mostrou uma forte inclinação para a oferta, ignorando as aspirações contraditórias da sociedade francesa, e construindo a sua própria "marca" (ou dispositivo de representação) sobre valores, história e signos.

No vídeo com Mcfly e Carlito, no entanto, ele investe numa lógica de demanda, apostando numa abordagem de marketing bastante assumida, onde procura posicionar a sua mensagem perante segmentos da população dotados de expectativas bem definidas. Macron imita os códigos e usos dos youtubers, inclusive com seu tom de voz e vocabulário.

O especialista afirma que essa estratégia geralmente dá certo, pois Macron se destaca na atuação. De fato, no vídeo ele interpreta o "presidente legal, como pode ter feito anteriormente o presidente militar, o presidente monarca ou o presidente epidemiologista, mudando seu guarda-roupa de acordo com as expectativas do público francês", avalia Llorca.

"Inicialmente, o público só pede coisas triviais, redondas, sem aspereza. Com o marketing sob demanda, só se consegue uma imagem fluida que desliza e não dura", lembra Llorca, citando o famoso publicitário Jacques Pilhan. E ele comenta que Macron deve ter cuidado com as demandas ganhas imediatamente, pois "corre-se o risco de reduzir seu potencial simbólico a longo prazo".

A simulação: conflito minimizado

"Uma das características mais marcantes do macronismo é a rejeição do conflito: ou ele o evita ou suaviza, ou o impede ou sufoca", diz Llorca. No entanto, o especialista reconhece que o que chama a atenção na transmissão do YouTube com Mcfly e Carlito é a "encenação de um confronto simbólico entre o presidente e os influenciadores, o que multiplica os sinais de irreverência".

Por um lado, o youtuber Mcfly está vestido com uma camiseta amarela brilhante, faz flexões e mostra seus músculos, faz uma careta para o presidente e rola pelo jardim do Eliseu. Por outro lado, Carlito conta piadas sobre "substâncias" ilícitas, faz perguntas desestabilizadoras e desafia abertamente a autoridade presidencial ("aqui não há hierarquias", "somos os patrões de qualquer maneira").

Longe de ser cenário de um verdadeiro pesadelo para Macron, tudo isso é na verdade uma grande simulação "que lembra o Carnaval: o conflito é muito mais aceito e aceitável para o espectador que está circunscrito, no tempo e no espaço", diz o analista.

Assim como no final do Carnaval, a autoridade do governante surge até aumentada porque "o domínio social, ao permitir que o reverso da medalha prevalecesse por um período muito curto, provocou o desejo de sua reintegração em todo o corpo da sociedade, para acabar com o experiência de desordem", disse o historiador das ideias Jean Starobinski, citado por Llorca.

Intuição: várias imagens

Como gerenciar o peso simbólico de um presidente na era das redes sociais? Deve-se continuar a acreditar nos efeitos de "poucas palavras", ou devemos aumentar sua presença nas redes e na mídia?

O interessante sobre a "competição de piadas" entre Macron, Mcfly et Carlito, "é que parece que uma nova abordagem está sendo testada, baseada em uma intuição: na era das telas múltiplas, você tem que construir um dispositivo de imagem múltipla", analisa Raphaël Llorca.

"Formal no canal de TV BFM, Macron pode parecer marcial e solene nos canais France 2 ou TF1, coloquial no Twitch e ousado no YouTube. A manobra é inteligente porque permite o envio de mensagens com amplo espectro de conteúdos e tons para objetivos muito diversos ", continua o analista. Além disso, permite "neutralizar" a oposição, que não sabe qual discurso escolher para atacar.

"Cada homem tem seis ou sete rostos diferentes dentro de si. A arte da comunicação não consiste em mostrá-los todos de uma vez, nem mesmo em escolher qual seria o verdadeiro. Trata-se de encontrar a pessoa certa, na hora certa", disse Jacques Pilhan. E embora com este vídeo Macron confirme o seu fascínio pelo signo e pelo símbolo, a longo prazo será necessário ver que vestígios essas "manipulações simbólicas" vão deixar na opinião pública, conclui Llorca.

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