Explosão perto de escola durante turno de meninas mata 68 pessoas no Afeganistão

Ataque aumenta preocupação sobre direitos das mulheres após saída da Otan

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Cabul | Reuters

Uma explosão próxima a uma escola de ensino médio, durante as aulas de turmas de meninas, deixou ao menos 68 mortos e mais de 165 feridos neste sábado (8) em Cabul, no Afeganistão. Segundo o Ministério do Interior, as estudantes são a maioria das vítimas. O ataque é o maior desde que o presidente americano, Joe Biden, anunciou, no mês passado, a retirada das últimas tropas do país até setembro.

A destruição diante da escola Sayed Ul-Shuhada, que recebe meninos e meninas em horários alternados, foi causada por um carro-bomba, disseram uma autoridade policial e testemunhas, sob condição de anonimato, à agência de notícias Reuters. Mais duas bombas teriam explodido quando as estudantes tentavam escapar. Por enquanto, nenhum grupo assumiu a autoria da ação.

O presidente Ashraf Ghani culpou o Taleban. "Ao aumentar sua guerra e violência ilegítimas, o Taleban mostrou que não está apenas relutante em resolver a crise atual de maneira pacífica, mas também complicando a situação." O grupo fundamentalista negou ligação com a explosão e condenou o atentado.

A ação aconteceu num distrito de maioria xiita que tem enfrentado atentados brutais promovidos pelo grupo terrorista Estado Islâmico há alguns anos, incluindo um ataque a uma maternidade há um ano. Na semana passada, 44 civis e 139 agentes do governo haviam sido mortos no país, a mais alta taxa em uma única semana desde outubro, segundo dados do New York Times. Foram dias de violência no país, com ofensivas no norte e no sul desde que a retirada das tropas da Otan (aliança militar do Ocidente) começou.

Apenas um dos ataques, com um carro-bomba que explodiu em Logar, uma província ao sul de Cabul, matou mais de 20 pessoas. O atentado deste sábado atingiu a cidade com ruas lotadas, enquanto moradores se preparavam para o fim do mês sagrado islâmico, o ramadã.

Imagens do canal de TV ToloNews mostravam cenas caóticas do lado de fora da escola, com livros e mochilas espalhados por uma rua ensanguentada e moradores correndo para ajudar vítimas. O porta-voz do Ministério da Saúde, Ghulam Dastagir Nazari, afirmou que 46 feridos foram levados a hospitais.

Cabul está em alerta desde que a Casa Branca iniciou os planos de retirar seus militares do país. Em 2020, os americanos assinaram um acordo com o Taleban para encerrar a guerra que começou quando tropas dos EUA e forças aliadas invadiram o Afeganistão em resposta aos ataques do 11 de Setembro.

Arquiteto das ações coordenadas que deixaram quase 3.000 mortos em território americano, o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, era protegido pelo Taleban. Pelo trato, Washington precisa retirar suas tropas (são cerca de 3.500 americanos e 7.000 aliados) em troca de garantias de segurança do grupo extremista.

Desde então, os ataques da facção a forças estrangeiras diminuíram muito, mas eles continuam a mirar forças do governo. Jornalistas, ativistas e acadêmicos também foram mortos em ataques atribuídos ao grupo —que nega. No Twitter, o principal diplomata americano no Afeganistão, Ross Wilson, condenou os ataques deste sábado. "Este ataque imperdoável a crianças é uma ameaça ao futuro do Afeganistão."

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O vizinho Paquistão, que tem influência considerável sobre o Taleban e está estimulando o grupo a reiniciar conversas de paz e concordar com um cessar-fogo, também condenou a explosão na escola.

O novo atentado vem num momento em que grupos de defesa dos direitos humanos expressam preocupação de que a saída dos americanos possa colocar em perigo as afegãs, caso o Taleban consiga aumentar sua influência no país. Nos anos 1990, sob o domínio do grupo, mulheres eram proibidas de ir à escola ou trabalhar e podiam ser espancadas por saírem de casa, entre outras regras opressivas.

Com The New York Times

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