Descrição de chapéu The New York Times

Igreja Luterana dos EUA elege primeira pessoa abertamente transgênero como bispo

Megan Rohrer, 41, exercerá mandato de seis anos e comandará cerca de 200 congregações

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Jesus Jiménez
The New York Times

Em eleição ocorrida no último sábado (8), um pastor da Califórnia se tornou a primeira pessoa abertamente transgênero escolhida para o cargo de bispo em uma grande denominação cristã americana. Ele vai liderar parte da Igreja Luterana Evangélica da América.

O reverendo Megan Rohrer, 41, exercerá um mandato de seis anos como bispo do sínodo de Sierra Pacific, assembleia sediada em Sacramento que abrange cerca de 200 congregações na região norte e central da Califórnia e no norte do estado de Nevada.

Megan Rohrer, 41, que vai assumir o cargo de bispo a partir de julho
Megan Rohrer, 41, que vai assumir o cargo de bispo a partir de julho - Meghan Rohrer via The New York Times

Em email na segunda (10), Rohrer —que assumirá o novo cargo no dia 1ª de julho— disse sentir muito orgulho de sua religião. “Rezo que minha eleição pelos fiéis do sínodo de Sierra Pacific lembre às pessoas constantemente que o fabuloso amor de Deus não é limitado pelas opiniões ou pela legislação de outros.”

A bispa Elizabeth A. Eaton, que preside a Igreja Luterana Evangélica da América, disse em comunicado divulgado na segunda-feira que o sínodo de Sierra Pacific reconheceu o dom de liderança de Rohrer.

“Quando dizemos que todos são bem-vindos, queremos dizer isso mesmo”, afirmou Eaton. “Cremos que o Espírito concedeu dons a cada um de nós para juntos construirmos o corpo de Cristo.”

Rohrer, que usa os pronomes “they” e “them” (que, em inglês, não distinguem gêneros e, em português, podem ser traduzidos tanto como “eles/deles” quanto como “elas/delas”), serve a Igreja Luterana Evangélica Grace, em San Francisco. Rohrer tem mestrado em teologia e pós-graduação em educação cristã, títulos obtidos na Pacific School of Religion, de Berkeley, segundo seu perfil no site da igreja.

“Quero ser o tipo de bispo que remove os obstáculos que podem ter sido colocados diante de você, que torce por você e ora com você”, disse Rohrer antes da eleição no sábado. Depois da votação, manifestou humildade e gratidão pela deferência que lhe foi concedida.

“Minha esperança é que seus netos os procurem, que seus filhos os procurem, seus amigos os procurem e lhes perguntem sobre sua fé”, disse Rohrer. “E, quando o fizerem, digam a eles o quanto vocês amam Jesus e por que a fé que vocês têm em Jesus os levou a confiar em mim.”

Rodrigo Heng-Lehtinen, vice-diretor executivo do Centro Nacional de Igualdade de Transgêneros, disse na segunda-feira que a eleição de Rohrer foi revolucionária e dará inspiração e esperança a muitas pessoas.

“As pessoas transgêneras frequentemente são rejeitadas por suas congregações e sofrem por isso”, explicou. “A eleição de Rohrer mostra que o progresso é possível e confirma que quanto mais os americanos comuns conhecerem seus próximos transgêneros, mais vão perceber que compartilhamos muitos dos mesmos sonhos e valores. Todos, incluindo transgêneros, merecem ser acolhidos em sua fé.”

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Segundo a biografia de Rohrer publicada no site da Igreja Luterana Evangélica Grace, anos antes de sua eleição para o cargo de bispo, o reverendo foi barrado na igreja devido às políticas “contrárias a gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e pessoas queer”. Rohrer foi ordenado em 2006 graças ao então Projeto de Candidatura Extraordinária, hoje conhecido como Ministérios Luteranos Extraordinários. Essa ação nasceu no início dos anos 1990 como forma de resistência a uma norma da Igreja Luterana Evangélica que exigia que seus clérigos homossexuais fossem celibatários.

“Megan sempre caminhou em solidariedade com aqueles que erguem as vozes por justiça e sempre procurou lhes dar segurança”, disse o projeto em comunicado divulgado no sábado. “Hoje foi feita história em nossa igreja! O projeto Ministérios Luteranos Extraordinários celebra uma igreja que hoje reconhece os dons de líderes queer como o bispo eleito Rohrer e antevê o dia em que líderes pastorais queer serão incluídos no ministério sem obstáculos ou entraves e afirmados em suas vocações recebidas de Deus.”

Em julho de 2010, Rohrer foi um de sete pastores abertamente homossexuais antes impedidos de exercer o ministério a serem reconhecidos como membros do clero pela Igreja Luterana Evangélica na América, que tem 3,3 milhões de fiéis. Em entrevista coletiva após o reconhecimento dos pastores, Rohrer falou dos desafios que enfrentou na adolescência no estado de Dakota do Sul e da discriminação que sofreu, como quando jogaram água benta em uma suposta tentativa de exorção.

“As trevas nunca podem superar a luz”, disse Rohrer na época. “Mesmo que seja apenas uma centelha.”

Tradução de Clara Allain

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