Descrição de chapéu União Europeia oriente médio

Incidentes antissemitas durante protestos contra Israel preocupam Europa

Embora minoritários, ataques a sinagogas e slogans incitando violência contra judeus acenderam alerta e levaram a prisões

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Bruxelas

Incidentes antissemitas em meio a protestos —majoritariamente pacíficos— contra o conflito Israel-Gaza fizeram soar o alerta em governos de vários países europeus. Eventos racistas foram relatados na Alemanha, na Áustria e no Reino Unido, e a Justiça da França proibiu manifestações para evitar conflitos.

As marchas pediam em sua maioria o fim dos ataques de Israel a Gaza —o mais recente conflito entre forças israelenses e o Hamas já matou 201 palestinos e ao menos 10 israelenses. Neste domingo (16), 10 crianças e 32 adultos foram mortos em Gaza, segundo autoridades locais de saúde.

Policiais em frente a sinagoga durante vigília contra o antissemistismo em Gelsenkirchen, na Alemanha
Policiais em frente a sinagoga durante vigília contra o antissemistismo em Gelsenkirchen, na Alemanha - Ina Fassbender - 14.mai.21/AFP

Apesar de minoritários, episódios racistas nas manifestações pró-palestinos preocuparam governos. "Não vamos tolerar a queima de bandeiras israelenses em solo alemão nem ataques a instalações judaicas", declarou o ministro do Interior (responsável por segurança), Horst Seehofer, após relatos de atentados contra sinagogas e faixas e cantos antissemitas em manifestações no sábado (15).

Em Gelsenkirchen, cidade de 260 mil habitantes no oeste da Alemanha, cerca de 200 pessoas marcharam até uma sinagoga gritando slogans de ódio e jogaram pedras contra as janelas do edifício. A polícia prendeu manifestantes, e ativistas organizaram uma vigília em frente ao templo, em repúdio ao antissemtisimo.

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Num país marcado pela perseguição nazista aos judeus, manifestações antissemitas de qualquer grau são consideradas crime, e a violência deve ser punida com "toda a força da lei", afirmou nesta segunda Wolfgang Schäuble, presidente do Bundestag (equivalente à Câmara dos Deputados). "A política de Israel pode ser duramente criticada, mas não há justificativa para antissemitismo, ódio e violência", disse ele.

A condenação dos políticos aos ataques contra judeus foi apoiada por entidades pró-palestinos, como o Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha —que chamou os incidentes de "ataques nojentos contra nossos concidadãos judeus"— e a União Turco-Islâmica para Assuntos Religiosos, que pediu aos muçulmanos que se afastassem de extremistas.

O governo britânico também prendeu quatro manifestantes que atravessaram uma região de Londres onde se concentram judeus gritando, entre outros insultos, que iriam “estuprar suas filhas”. Eles serão investigados por “crimes contra a ordem pública racialmente agravados”.

As tensões no Reino Unido começaram a esquentar na última terça (13), quando pró-israelenses abriram bandeiras de Israel durante um protesto pró-palestinos. Manifestantes críticos de Israel tentaram atacá-los aos gritos de “malditos judeus”, mas foram contidos pela polícia.

Nos dias seguintes, mais bandeiras israelenses foram queimadas e, em Norwich, no leste da Inglaterra, uma sinagoga foi pichada com mensagens antissemitas, incluindo uma suástica. Nas redes sociais, a Federação Sionista da Grã-Bretanha desmarcou um ato em apoio a Israel que aconteceria no sábado: “Por enquanto, é muito perigoso para nós e para a polícia estar nas ruas”.

Nesta segunda, o prefeito de Londres, Sadiq Khan, afirmou na TV que elevou o policiamento na cidade "para tranquilizar os londrinos, especialmente aqueles de comunidades judaicas". O premiê britânico, Boris Johnson, também condenou os incidentes e disse que “não há lugar para antissemitismo no Reino Unido”.

Na Áustria, manifestantes ameaçaram judeus citando a batalha de Khaybar —oásis na Arábia Saudita em que judeus foram derrotados por tropas lideradas por Maomé, no ano 628. "Judeus, lembrem-se de Khaybar, o exército de Maomé está voltando" era o slogan gritado e repetido por manifestantes, segundo jornais austríacos.

Na França, país onde convivem a maior população muçulmana da Europa (quase 6 milhões de pessoas, ou 8,8% da população) e a terceira maior comunidade judaica do mundo (cerca de 550 mil pessoas, atrás de Israel e EUA), a polícia conseguiu na Justiça a proibição das manifestações, por temer confrontos violentos como os que ocorreram em 2014, também detonados por conflitos entre Israel e palestinos.

"Todos nós nos lembramos daquele protesto extremamente preocupante onde frases terríveis como 'morte aos judeus' foram gritadas", disse a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, à agência de notícias AFP. No episódio, sinagogas e instituições judaicas e israelenses foram atacadas.

Neste final de semana, mais de 4.000 policiais foram colocados nas ruas para impedir que cerca de 5.000 pessoas se reunissem nos arredores de Paris, onde há concentração de imigrantes muçulmanos. As marchas foram dispersadas com gás lacrimogêneo e jatos d'água.

Além dos confrontos físicos, autoridades policiais e ativistas mencionam uma escalada de ataques e insultos pelas redes sociais. Para eles, se o conflito entre Israel e Gaza se acentuar, a tendência é de escalada também no extremismo e na violência na Europa. A Comissão Europeia afirmou estar "profundamente preocupada com os recentes ataques contra comunidades e instalações judaicas na UE" e pediu aos países-membros que fiquem vigilantes contra o antissemitismo.

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