Um garoto marroquino usou garrafas plásticas amarradas ao corpo para flutuar e conseguir chegar, a nado, nesta quarta (19), ao enclave espanhol de Ceuta, no norte da África. Segundo o soldado espanhol que o recebeu, ele disse que preferia morrer a ter de voltar ao Marrocos.
O menino chegou sozinho e chorando. "Ele não queria ser mandado de volta, não tinha nenhuma família no Marrocos e não se importava se morresse de frio", disse Rachid Mohamed al Messaoui, 25.
"Nunca ouvi algo assim de alguém tão jovem", completou.
Soldados acompanharam o garoto, ao lado de outros imigrantes, até o portão que separa os países. Um porta-voz do Exército disse não saber o que aconteceu com ele depois disso. É ilegal deportar imigrantes menores de idade na Espanha, e centenas estão em um centro provisório em Ceuta.
O garoto é uma das mais de 8.000 pessoas que nadaram ou escalaram uma cerca para entrar no enclave nesta semana. A Espanha enviou tropas para patrulhar a região e ajudar a controlar a entrada dos imigrantes. Com população de 80 mil pessoas, Ceuta fica a centenas de metros da ponta do país africano.
Na segunda-feira (17), pelo menos 2.700 imigrantes em situação irregular, incluindo mil menores de idade, entraram no território, segundo o governo da Espanha. Foi um recorde para um único dia.
Os viajantes chegavam por mar a nado, a bordo de flutuadores ou botes infláveis e até a pé, quando a maré baixa permitia. Outros tentavam cruzar a fronteira terrestre, protegida por uma cerca dupla.
As chegadas de migrantes ao enclave ocorrem em um contexto de tensão entre a Espanha e o Marrocos, devido à presença no país europeu do líder do movimento de independência do Saara Ocidental.
O governo marroquino reagiu com indignação à notícia de que o chefe da Frente Polisário, Brahim Ghali, encontra-se internado desde meados de abril em um hospital espanhol para ser tratado de Covid-19.
A Frente Polisário, apoiada pela Argélia, luta há décadas pela independência do Saara Ocidental, uma ex-colônia espanhola controlada em sua maioria pelo Marrocos, que quer manter a região sob seu comando.
Ceuta e Melilla, o outro enclave da Espanha no norte da África, são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com a África, o que as torna duas importantes portas de entrada para migrantes sem documentos em busca de uma vida melhor.
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