Marcada por diversidade, corrida pela prefeitura de Nova York esquenta com ataques públicos

Pré-candidatos democratas e republicanos disputarão prévias no fim de junho

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Washington

Um empresário de origem asiática, um ex-policial negro e uma funcionária pública branca são até agora os favoritos para a eleição à prefeitura de Nova York e refletem a diversidade da maior e mais importante cidade dos EUA.

Filiados ao Partido Democrata, Andrew Yang, Eric Adams e Kathryn Garcia dão tração à disputa que, nos últimos dias, ganhou contornos imprevisíveis e transformou monótonos debates virtuais em deliberados ataques públicos.

O candidato democrata à prefeitura de Nova York Andrew Yang discursa durante evento de campanha no City Hall Park; favorito até março, ele tem perdido fôlego nos últimos dias após série de gafes
O pré-candidato democrata à prefeitura de Nova York Andrew Yang discursa durante evento de campanha no City Hall Park; favorito até março, ele tem perdido fôlego nos últimos dias após série de gafes - Michael M. Santiago - 24.mai.21/AFP

Em 22 de junho, democratas e republicanos vão escolher seus candidatos oficiais para a eleição de novembro. Mas, em uma cidade majoritariamente progressista —com amplas comunidades de pessoas negras e imigrantes—, quem vencer as primárias do partido de Joe Biden deve também ser eleito para substituir o atual prefeito, Bill de Blasio.

O novo líder terá o desafio de recuperar a cidade dos efeitos da pandemia e de crises que sobrepõem problemas de economia, desigualdade e segurança pública —este o principal tema da disputa hoje. No entanto, o caminho que se apresenta até lá é marcado por novas regras de votação, pesquisas pouco precisas e acusações de assédio sexual e de violação das leis de arrecadação de recursos de campanha.

Com 8,3 milhões de habitantes, Nova York abriga Wall Street, o centro financeiro dos EUA, e tem uma população bastante diversa: 32,1% de pessoas brancas, 24,3% negras, 29,1% latinas e 14,1% asiáticas. Os 15 candidatos que vão às prévias em três semanas —13 democratas e 2 republicanos— refletem a variedade dessa demografia.

Entre os correligionários de Biden que querem chegar à prefeitura de Nova York, há quatro homens negros, dois asiáticos e três brancos, além de quatro mulheres, três delas negras. Fora dos holofotes, mas ainda brigando para ser a cara dos republicanos na disputa da maior cidade do país, estão dois homens, um deles de origem latina.

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Apesar da diversidade e do histórico progressista dos nova-iorquinos, os nomes nas pontas das pesquisas são de perfis moderados do Partido Democrata. Os obstáculos da ala que em 2018 elegeu a deputada Alexandria Ocasio-Cortez vão desde a reação ao atual prefeito, que venceu com apoio deste eleitorado, até uma nova onda de crimes violentos, que despertou pedidos de policiamento mais rígido. Como agravante, a acusação de assédio sexual contra Scott Stringer, principal candidato ligado à esquerda progressista, que mexeu no tabuleiro de apoios e mudou os números das pesquisas.

Até março, o favorito era Andrew Yang, empresário da área de tecnologia, com seu discurso otimista e popularidade impulsionada por sua pré-candidatura à Casa Branca no ano passado. O ex-capitão do Departamento de Polícia de Nova York e hoje presidente do distrito do Brooklyn, Eric Adams, e Stringer, chefe da controladoria da cidade, vinham em seguida, em uma corrida que parecia estática.

No fim de abril, uma ex-funcionária de Stringer afirmou que ele tentou beijá-la e apalpá-la sem o consentimento dela durante uma campanha em 2001. O democrata nega as acusações e disse que teve um relacionamento amoroso consensual com a mulher.

Os reflexos políticos do caso, porém, foram imediatos. O mais poderoso deputado de origem latina da cidade, Adriano Espaillat, retirou o apoio a Stringer e se tornou entusiasta de Adams, que se consolidou em segundo lugar —latinos representam cerca de 20% dos votos nas primárias democratas.

Enquanto isso, as progressistas Maya Wiley, professora e ex-conselheira de Bill de Blasio, e Dianne Morales, executiva de organizações sem fins lucrativos, tentam ocupar o espaço deixado por Stringer, mas ainda não decolaram.

A mais recente mudança no tabuleiro foi a arrancada de Kathryn Garcia, ex-chefe do Departamento de Saneamento de Nova York no governo de Blasio. Ela ganhou o apoio de editoriais dos jornais The New York Times e The New York Daily News e, na semana passada, apareceu como líder em uma das pesquisas locais.

Os levantamentos são falhos por diversos motivos —o voto não é obrigatório nos EUA— e nem mesmo especialistas têm se arriscado a dizer quem deve ganhar a nomeação democrata em 22 de junho.

A nova regra das prévias que permite ao eleitor votar em até 5 candidatos —por ordem de preferência e com várias rodadas de eliminação dos menos votados— também dá margem para mudanças bruscas e de última hora, sendo que grande parte do eleitorado ainda não escolheu nem mesmo sua primeira opção.

As indefinições ampliaram o ringue entre os democratas, que têm batido boca via imprensa. Um dos principais alvos, Yang tem perdido fôlego nos últimos dias após uma série de gafes que reforçam as críticas de que ele tem pouco conhecimento da cidade e nenhuma experiência em cargos públicos. O empresário se atrapalhou ou não sabia respostas a diversas perguntas de jornalistas sobre o funcionamento de órgãos e leis do município.

Seus adversários dizem ainda que Yang aceita doações de milionários em troca de favores, violando regras de financiamento de campanha, o que ele nega.

Em contragolpe, o empresário acusou Adams de adotar esse tipo de prática, após reportagem do New York Times revelar que o ex-policial misturava dinheiro arrecadado com outras ambições políticas, principalmente no setor imobiliário.

Adams também nega as acusações, enquanto Yang diz que os ataques que sofre são racistas. "Alguns dos meus oponentes nesta corrida caracterizam alguns de nós como mais nova-iorquinos do que outros", disse Yang em um evento de campanha.

Apesar do pouco impacto na eleição geral, a disputa entre os candidatos republicanos segue roteiro estridente. Na semana passada, os novatos políticos Curtis Sliwa, fundador da ONG de combate à violência Anjos da Guarda, e o empresário Fernando Mateo protagonizaram um debate em que discordaram sobre quase tudo e tiveram seus microfones desligados em momentos diferentes pelo moderador.

Na próxima quarta (2), será a vez dos principais candidatos democratas se encontrarem em um esperado debate presencial. Em meio à corrida turbulenta e imponderável, o evento pode ser definidor para os eleitores da única disputa local que é acompanhada de perto em todo o país.

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