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Militares do Mali detêm líderes do governo de transição, e articulador de golpe assume o poder

Presidente e primeiro-ministro foram presos após remodelarem cargos da administração sem consultar chefe da junta militar

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Bamaco (Mali) | AFP e Reuters

Menos de um ano após o golpe que depôs o presidente democraticamente eleito do Mali, oficiais militares detiveram nesta segunda-feira (24) os três principais nomes do governo de transição, aprofundando a instabilidade política que atinge o país situado na África Ocidental.

O presidente interino Bah Ndaw, o primeiro-ministro Moctar Ouane e o ministro da Defesa Souleymane Doucoure foram levados a uma base militar em Kati, próxima à capital, Bamaco. As detenções se seguiram a uma remodelação do governo que excluiu de seus ministérios dois oficiais que participaram ativamente do golpe em agosto do ano passado, o que teria provocado a insatisfação dos militares.

O coronel Assimi Goita, líder da junta militar que depôs o ex-presidente e líder em exercício do Mali, durante cerimônia em Bamaco, capital do país - Michele Cattani - 18.set.20/AFP

De acordo com o vice-presidente interino, o coronel Assimi Goita, Ndaw e Ouane foram destituídos por não o terem consultado sobre as mudanças no governo, o que teria violado os termos da carta de transição. Goita, que liderou o golpe que levou à queda do presidente Ibrahim Boubacar Keita e é agora o presidente em exercício, disse que os últimos acontecimentos não alteram o planejamento das eleições previstas para o próximo ano. O coronel disse que "se viu obrigado a agir para defender a república".

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O cenário político no Mali é visto com desconfiança pela comunidade internacional, e até a França, antiga colonizadora e aliada militar do país africano, fez coro contra as prisões e pela soltura imediata dos envolvidos. "Estamos preparados para impor sanções nas próximas horas", disse o presidente Emmanuel Macron, que chamou a crise de "golpe dentro de um golpe".

A Organização das Nações Unidas (ONU), a União Europeia (UE), a União Africana, a Comunidade de Estados da África Ocidental (Cedeao), os Estados Unidos e outros países europeus divulgaram um comunicado conjunto em que pedem a libertação imediata das autoridades detidas e condenam "energicamente a tentativa de golpe".

Lideranças da Cedeao disseram estar a caminho de Bamaco nesta terça para acompanhar as próximas etapas da política malinesa. A entidade desempenhou papel fundamental após o golpe de agosto para a formação do governo interino, o mesmo que agora está ameaçado por nova interferência militar.

Em nota, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que estava "profundamente preocupado" com as detenções e pediu calma às autoridades do país e a libertação incondicional dos detidos. Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, ameaçou impor sanções "contra aqueles que estão no caminho da transição".

Coronel reformado e ex-ministro da Defesa, Bah Ndaw, 70, havia sido indicado pela junta militar que depôs o presidente Keita para liderar o Mali em setembro por um período de transição de 18 meses. A promessa, à época, foi que, ao fim desse período, o poder seria devolvido aos civis.

Keita, eleito presidente em 2013 e reeleito em 2018, renunciou no dia do golpe, 18 de agosto, quando já estava detido. Em seu pronunciamento, o hoje ex-presidente também dissolveu o Parlamento e afirmou que não queria que sangue fosse derramado para que ele se mantivesse no poder.

O golpe aconteceu após protestos antigoverno iniciados no começo de junho do ano passado e que tomaram as ruas de Bamaco. Os manifestantes reclamavam da corrupção no governo, da crise econômica e da ineficiência da coalizão que tenta combater os extremistas islâmicos no norte do país.

Os atos se mantinham pacíficos até a polícia reprimir os manifestantes, deixando dezenas de mortos. A partir de então, o movimento passou a pedir a renúncia do presidente. A Cedeao tentou apaziguar a situação em três oportunidades. Na última antes do golpe, após uma conferência extraordinária com todos os Estados-membros, o bloco fez recomendações para pacificar a oposição e os manifestantes.

Entre elas, a formação de um governo de união nacional que incluísse a oposição e a renúncia de 31 deputados eleitos após controversa decisão do Tribunal Constitucional que favoreceu o governo de Keita, além da recomposição do próprio tribunal, dissolvido em resposta aos atos. O governo tentou colocar as recomendações em prática, mas a oposição não cedeu e seguiu pedindo a queda do presidente.

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