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No aniversário de um ano da morte de George Floyd, família cobra reforma policial

Familiares se encontram com Joe Biden na Casa Branca; diversas cidades americanas realizam atos

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São Paulo, Washington e Minneapolis | AFP e Reuters

Um ano após George Floyd ser morto por um policial branco em Minneapolis, a família do ex-segurança negro foi até a Casa Branca nesta terça-feira (25) para conversar com o presidente Joe Biden sobre racismo e cobrar uma reforma no sistema policial americano.

Atos também foram marcados em diversas cidades do país em memória de Floyd, que em 25 de maio do ano passado foi morto sufocado por um agente que ajoelhou em seu pescoço por quase 10 minutos —o caso fez eclodir uma onda de protestos antirracistas nos EUA.

Familiares de George Floyd fazem homenagem a ele no jardim da Casa Branca após encontro com o presidente Joe Biden
Familiares de George Floyd fazem homenagem a ele no jardim da Casa Branca após encontro com o presidente Joe Biden - Kevin Lamarque/Reuters

O encontro com Biden foi fechado para os jornalistas, mas na saída da reunião o irmão de Floyd falou com a imprensa e afirmou que a prioridade da família é lutar para que cenas de violência policial contra negros não se repitam. “Se vocês podem fazer leis federais para proteger a ave [nacional], que é a águia, vocês podem fazer leis federais para proteger pessoas negras”, afirmou Philonise Floyd depois de se encontrar com o presidente e a vice, Kamala Harris —a primeira pessoa negra a ocupar o posto na história do país.

Na sequência, os familiares repetiram um dos lemas comuns nos protestos contra o racismo e, com os punhos levantados ainda no jardim da Casa Branca, gritaram: “Digam seu nome! George Floyd!”. Quem liderou a homenagem foi Gianna, 7, filha do ex-segurança, ao lado de seus tios e primos.

Mais cedo, a família já tinha visitado o Congresso, onde se reuniu com a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e com outros deputados democratas. Nos dois encontros, Philonise cobrou apoio à chamada Lei George Floyd de Justiça no Policiamento, a principal iniciativa federal na área.

Em março, a Câmara aprovou a nova legislação, que proíbe táticas policiais controversas, como o estrangulamento, e facilita o caminho para ações judiciais contra agentes que violarem direitos de suspeitos. Mas a medida parou no Senado, onde precisa de 60 dos 100 votos da Casa para ser efetivada.

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Os senadores estão divididos hoje entre 50 votos para os democratas e 50 para os republicanos —com desempate nas mãos de Kamala—, e analistas são céticos quanto ao apoio de ao menos 10 republicanos. A oposição critica, especialmente, o ponto que facilita a abertura de processos contra policiais.

Biden chegou a anunciar que esperava que a lei fosse aprovada nas duas Casas até esta terça, mas desistiu da ideia dada a lentidão das negociações. Em comunicado divulgado após o encontro com a família de Floyd, ele cobrou a aprovação da lei.

“A batalha pela alma da América tem sido uma constante disputa entre o ideal americano de que todos somos criados iguais e a dura realidade de que o racismo há muito nos separa. Nos nossos melhores momentos, o ideal americano vence. É isso que deve acontecer de novo”, disse o presidente.

Apesar das grandes manifestações que tomaram os EUA contra a violência policial após a morte de Floyd, poucas propostas de mudança de fato saíram do papel. O ex-presidente Barack Obama, o primeiro negro a ocupar a Casa Branca, disse que mesmo assim vê com esperança o atual momento e que mais pessoas hoje percebem o racismo do que há um ano.

Em Minneapolis, a Câmara Municipal chegou a prometer no ano passado desmantelar o Departamento de Polícia e reconstruir o sistema de segurança com a ajuda da comunidade, mas a proposta acabou naufragando. O prefeito Jacob Frey, do Partido Democrata, é contrário à ideia, e vereadores que antes defendiam a proposta recuaram diante da pressão de moradores.

Às 13h do horário local (15h no horário de Brasília), Frey e outras lideranças locais participaram de um ato em um parque na cidade, no qual os participantes ficaram em silêncio por 9 minutos e 29 segundos —foi exatamente esse o tempo que o então policial Derek Chauvin ficou ajoelhado sobre Floyd.

No final de abril, o ex-agente foi considerado culpado pelo assassinato e condenado em três categorias de homicídio. A pena, que ainda não foi anunciada, pode chegar a 40 anos de prisão.

No cruzamento onde George Floyd foi morto, agora transformado em memorial, manifestantes ajoelharam e também ficaram em silêncio por quase 10 minutos. De manhã, um carro passou atirando nas proximidades do local, deixando os manifestantes apreensivos. Apesar da correria, uma pessoa ficou ferida sem gravidade pelos tiros —a polícia investiga o incidente.

Durante a tarde, pequenos grupos se reuniram no local para um momento festivo, com atividades musicais e para crianças. Um novo mural deve ser pintado na praça. Homenagens também foram organizadas em Nova York, com a participação do prefeito, o democrata Bill De Blasio, e em cidades como Los Angeles, Houston e Portland. No início da noite, nova-iorquinos foram para a frente do Museu do Brooklyn para lembrar um ano da morte de Floyd.

Na mesma região, foi realizada uma manifestação ruidosa, mas pacífica, na qual os cerca de 300 participantes gritavam: "Sem justiça, sem paz". Outro grupo com entre 300 e 400 pessoas marchou pela ponte do Brooklyn. O aniversário da morte de Floyd também coincidiu com o juramento de Kristen Clarke como secretária de Justiça assistente para os direitos civis, o que a coloca no comando de uma investigação sobre possíveis padrões de má conduta policial em Minneapolis.

Com a indicação aprovada pelo Senado nesta terça, Clarke se torna a primeira mulher e a primeira negra confirmada para esse cargo. Após a cerimônia de posse no Departamento de Justiça, Kamala deu crédito à família de Floyd por sua atuação em defesa de justiça. "Eles mostraram tanta dignidade diante de uma tragédia tão atroz", disse a vice-presidente. "George Floyd deveria estar vivo hoje."

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