Descrição de chapéu The New York Times

Nova York e Nova Jersey correm para cultivar maconha legalmente, e já há escassez da erva

Empresários estimam que mercado potencial na região densamente povoada alcançará mais de US$ 6 bilhões

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Tracey Tully
The New York Times

Em Nova York e Nova Jersey há uma corrida para cultivar maconha legalmente. No condado de Orange, em Nova York, há um projeto para a construção de uma grande usina de plantio e processamento de cânabis no terreno de um presídio federal desativado.

Cerca de 40 km ao sul, em Nova Jersey, um complexo industrial que já foi propriedade da farmacêutica Merck será transformado em um polo ainda maior de cultivo de maconha.

Em Winslow, em Nova Jersey, a cerca de 48 km de Filadélfia, um novo complexo de plantio em espaço interno acaba de comemorar sua primeira colheita. A chegada da maconha legalizada para uso adulto em Nova York e Nova Jersey é o sonho de empresários —alguns dos quais estimam que o mercado potencial na região densamente povoada alcançará mais de US$ 6 bilhões (R$ 31,8 bilhões) em cinco anos.

Plantação de cânabis em instalação na cidade de Boonton, no estado americano de Nova Jersey
Plantação de cânabis em instalação na cidade de Boonton, no estado americano de Nova Jersey - Mohamed Sadek - 7.mai.21/The New York Times

Mas a corrida para plantar em instalações de produção do tipo industrial salienta outra realidade fundamental na região metropolitana de Nova York: já há escassez de maconha legal.

No mercado de maconha medicinal de Nova Jersey, legalizado há dez anos, a oferta da flor seca de cânabis, a parte mais potente da planta, raramente atende à demanda, segundo lobistas da indústria e autoridades estaduais. No início da pandemia, quando a demanda explodiu, ela se tornou ainda mais rara, dizem pacientes e donos de empresas.

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A lacuna da oferta diminuiu quando o estoque estadual da flor e de produtos feitos com o óleo extraído da planta mais que duplicou entre março do ano passado e esta primavera nos EUA. Mas os pacientes e empresários dizem que os dispensários muitas vezes ficam sem as variedades mais procuradas.

"Há muito pouco estoque", disse Shaya Brodchandel, presidente da Fundação Harmony em Secaucus, em Nova Jersey, e da Associação Comercial de Cânabis de Nova Jersey. "Quase não há atacado. Conforme colhemos, mandamos direto para o varejo."

A Harmony comprou o antigo local da Merck em Lafayette, em Nova Jersey, no final do ano passado e aguarda autorizações para iniciar a construção, disse Brodchandel. Como a maconha é ilegal pela lei federal e não pode ser transportada entre estados, os produtos devem ser cultivados e fabricados em cada estado. A lei bancária federal também torna quase impossível a empresas ligadas à cânabis obterem financiamento convencional, criando um grande obstáculo para pequenas start-ups e uma vantagem implícita a companhias multiestaduais e internacionais com bolsos fundos.

O estado do Oregon, que emitiu milhares de licenças de cultivo depois de legalizar a maconha seis anos atrás, tem um grande excedente do produto. Mas muitos dos outros 16 estados onde a maconha não medicinal já foi legalizada enfrentaram restrições de oferta semelhantes às de Nova York e de Nova Jersey, conforme a produção crescia lentamente para suprir a demanda.

Erva pronta para ser embalada em instalação da empresa TerrAscend em Boonton, no estado de Nova Jersey
Erva pronta para ser embalada em instalação da empresa TerrAscend em Boonton, no estado de Nova Jersey - Mohamed Sadek - 7.mai.21/The New York Times

"Sempre faltam flores em um novo mercado", disse Greg Rochlin, presidente da divisão do nordeste dos EUA da TerrAscend, uma companhia de cânabis que atua no Canadá e nos Estados Unidos e neste mês abriu o 17º dispensário de maconha medicinal em Nova Jersey.

Em Nova York, onde o programa de cânabis medicinal é menor e mais restritivo que o de Nova Jersey, o cardápio de produtos inclui óleos, tinturas e flores moídas finamente, adequadas para cigarros eletrônicos. Mas a venda dos brotos soltos de maconha para fumar é proibida, e só 150 mil dos 13,5 milhões de adultos do estado que têm 21 anos ou mais estão registrados como pacientes.

Com a demanda modesta, houve pouco incentivo para aumentar a oferta. Até agora.

As vendas de maconha para uso adulto poderão começar dentro de um ano em Nova Jersey e no início de 2023 em Nova York, preveem especialistas do setor. "Eu seria tolo se não fizesse o produto", disse Ben Kovler, presidente da Green Thumb Industries, empresa de cânabis que opera nos dois estados.

"Não há muito estoque por aí", disse ele, em um momento em que há uma "onda gigante" de demanda no horizonte. "Não é provável que a oferta seja suficiente", disse Kovler. Sua companhia, segundo ele, espera a aprovação final do estado de Nova York para começar a construção no terreno do Centro Correcional de Mid-Orange, um antigo presídio masculino que fechou em 2011.

A Citiva, uma concorrente, também está construindo um novo polo de produção lá. Um laboratório de testes de cânabis e uma instalação de extração de canabidiol, a urbanXtracts, já estão atuando. "Estamos chamando o lugar de um núcleo de cânabis", disse Michael Sweeton, supervisor da cidade de Warwick.

"É a definição de ironia", acrescentou ele sobre a função reinventada de uma prisão que esteve lotada durante a guerra às drogas, com 750 detentos em certo momento e oferecendo 450 empregos.

A lei de Nova York também permite que indivíduos plantem até seis pés de maconha para uso pessoal; a lei de Nova Jersey não permite o chamado plantio doméstico. Nos próximos meses, os dois estados deverão emitir regulamentos para a nova indústria. Cada um deles enquadrou a legalização como um imperativo de justiça social e dedicou grande parte da receita fiscal prevista para comunidades não brancas desproporcionalmente atingidas pelas desigualdades do sistema de justiça criminal.

Tentar equilibrar o objetivo de construir mercados focados em igualdade social e racial com o inerente domínio das corporações interestaduais que atuaram primeiro na região será crucial, segundo autoridades de Nova York e Nova Jersey. "Eles devem ter essa capacidade de ajudar a lançar o mercado", diz Norman Birenbaum, diretor dos programas de cânabis de Nova York, sobre as dez empresas de maconha medicinal já licenciadas para operar no estado. Mas isso não deve ser "às custas dos recém-chegados", afirma ele.

Jeff Brown, que dirige os programas de cânabis em Nova Jersey, diz que o mercado tem espaço para novatas —e uma necessidade crucial delas. As operadoras atuais no estado, segundo ele, "não poderão fornecer sozinhas para todo o mercado de uso pessoal".

Os desafios da cadeia de suprimento assumiram nova urgência em Nova Jersey, cujos dispensários de maconha medicinal deverão ser os primeiros locais onde adultos poderão comprar maconha legalmente sem receita médica. Primeiro, porém, os dispensários precisarão provar que têm um amplo estoque para pacientes e instalações capazes de acomodar adequadamente os dois tipos de consumidores.

O mercado de Nova Jersey cresceu desde 2019, quando o governador do estado, o democrata Phil Murphy, autorizou uma grande expansão de um programa de maconha medicinal que se arrastava sob seu antecessor, o republicano Chris Christie. O número de dispensários triplicou. Há 500 mil plantas sendo cultivadas em todo o estado, contra 50 mil em 2018, disse Brown.

Em março, 9.000 quilos de produtos de cânabis estavam disponíveis em Nova Jersey, contra 3.600 quilos em março de 2020, disse ele. Mas o preço da flor em Nova Jersey fica entre US$ 350 e US$ 450 a onça (entre US$ 12.200 e US$ 15.680 o quilo, ou R$ 64.660 e R$ 83.104), antes de descontos.

Na Califórnia, o preço médio de uma onça (28,7 g) de maconha de primeira qualidade era cerca de US$ 260 (R$ 1.378), segundo o diretório de preços priceofweed.com, frequentemente citado. "Os produtos mais populares acabam depressa, e os preços ainda estão mais altos do que gostaríamos", disse Brown. "A solução para tudo isso é mais concorrência."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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