Descrição de chapéu The New York Times

Vídeo de morte de homem negro em prisão da Carolina do Sul causa indignação nos EUA

Policiais usaram arma de choque e gás de pimenta contra Jamal Sutherland, que tinha transtornos mentais

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Charleston (EUA) | The New York Times

A morte de um homem negro em uma prisão, após a polícia usar arma de choque e gás de pimenta contra ele, despertou indignação e apelos por mudanças no tratamento de detentos com transtornos mentais.

Imagens divulgadas na noite de quinta-feira (13) mostram agentes policiais do condado de Charleston enquanto tiram Jamal Sutherland de sua cela em 5 de janeiro e, depois, usam um taser e gás de pimenta contra o homem, que grita de dor. Sutherland foi declarado morto pouco depois.

Na sexta-feira (14), as imagens fortes levaram a denúncias sobre a ação dos oficiais. Trechos do vídeo – em um deles, um policial ajoelha nas costas de Sutherland, enquanto o preso afirma “não consigo respirar”— remetem a outros episódios recentes de violência policial contra negros que desencadearam movimentos a favor de justiça racial e reforma da polícia nos EUA.

“Jamal Sutherland foi tratado como um animal pelos agentes da carceragem, que não levaram em consideração o estado mental alterado dele”, dizia nota divulgada por uma coalizão de grupos ativistas da Carolina do Sul na sexta-feira (14). Segundo a nota, o vídeo da morte revelou as condições desumanas às quais Sutherland foi submetido, “que, sem dúvida, agravaram seu estado de perturbação mental”.

Os dois agentes policiais do condado de Charleston que interagiram com Sutherland, Lindsay Fickett e Brian Houle, foram afastados, e a promotora local, Scarlett Wilson, afirmou que está examinando as conclusões de uma investigação. Wilson afirmou que deve decidir até o fim de junho se irá apresentar uma denúncia criminal contra os agentes.

Imagens de câmera de segurança mostram o homem negro Jamal Sutherland pouco antes de morrer
Imagens de câmera de segurança mostram o homem negro Jamal Sutherland pouco antes de morrer - Condado de Charleston/Reprodução

Na sexta, líderes da sociedade civil pediram calma para a população em Charleston e arredores. Em maio de 2020, houve protestos na região, com depredações e saques, após um policial matar um homem negro desarmado, George Floyd, em Minneapolis. “Entendemos que as emoções estão à flor da pele e que as preocupações são justificadas, mas é importante que nós abordemos o episódio como uma comunidade, de forma calma e unida”, disse Teddie Pryor, presidente da comissão do condado de Charleston.

Sutherland estava em uma unidade para tratamento de transtornos mentais, mas foi preso no local em 4 de janeiro, depois de uma briga. Funcionários da unidade afirmaram aos policiais que ele havia agredido um integrante da equipe. Ele e outro paciente foram presos, acusados de agressão.

Sutherland foi então levado à prisão de Charleston. Imagens dele no dia em que foi preso mostram o detento em surto, gritando “me soltem” e falando sobre teorias da conspiração, com referências aos Illuminati, grupos (reais e fictícios) que viveram séculos atrás e tinham conhecimentos especiais.

Na manhã seguinte, Fickett e Houle foram até a cela de Sutherland para levá-lo para a audiência de fiança. Imagens das câmeras corporais dos agentes e de segurança foram divulgadas pela delegada do condado de Charleston, Kristin Graziano. Ela afirmou ter esperado a família de Sutherland autorizar a divulgação.

No vídeo, os agentes pedem várias vezes a Sutherland, que estava gritando em sua cela, que vá até a porta e coopere. A certa altura, quando começam a retirá-lo do local, um dos agentes afirma que profissionais de saúde estão a postos. As cenas mostram os agentes jogando gás de pimenta dentro da cela duas vezes e fechando a porta depois de cada uma —e insistindo para ele sair. Aí eles abrem a porta e começam a gritar para ele deitar no chão de barriga para baixo.

Nas imagens, Sutherland parece estar lentamente se arrastando em direção à porta da cela, mas não de bruços. Um dos agentes tenta algemá-lo. Nesse momento, o vídeo o mostra gritando e se debatendo enquanto os agentes tentam dominá-lo. Atingido por um taser, ele começa a se contorcer com os choques elétricos. Um agente está com o joelho nas costas do detento. “Não consigo respirar”, diz ele.

No final, os agentes conseguem algemá-lo e colocá-lo em uma cadeira, mas, nessa altura, ele parece ter perdido a consciência. Houle afirmou que Sutherland foi atingido pelo taser entre 6 e 8 vezes.

​O senador estadual democrata Marlon Kimpson afirmou que, aparentemente, os policiais não estavam treinados para lidar com detentos com transtornos mentais. “Pareceu ser uma quebra de protocolo –se não foi, precisamos mudar o protocolo", disse ele. O governador Henry McMaster, que é republicano, afirmou, em comunicado, que a morte de Sutherland foi “uma tragédia”. “O vídeo do incidente revela questões que precisam ser abordadas nos treinamentos, sobre procedimentos e políticas que devem ser adotadas para policiais lidando com pessoas com transtornos mentais.”

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