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Apoiadores de Keiko e de Castillo vão às ruas em meio a incertezas sobre futuro eleitoral do Peru

Votação apertada, denúncias de fraude, renúncia em órgão de revisão e áudios vazados atrasam resultado da eleição

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Lima | AFP e Reuters

Três semanas após a votação que vai determinar quem será o próximo presidente do Peru, milhares de pessoas foram às ruas de Lima neste sábado (26) em meio a incertezas sobre o futuro eleitoral do país.

De um lado, apoiadores do esquerdista Pedro Castillo, candidato que, segundo a apuração oficial, recebeu 50,125% dos votos. De outro, eleitores da direitista Keiko Fujimori, que obteve 49,875%.

A pequena vantagem de Castillo, equivalente a cerca de 44 mil votos, ainda não foi suficiente para que os órgãos eleitorais do país o declarem presidente eleito, visto que as autoridades ainda estão investigando supostas fraudes denunciadas por Keiko.

Apoiadores de Keiko Fujimori, candidata à Presidência do Peru, durante manifestação em Lima
Apoiadores de Keiko Fujimori, candidata à Presidência do Peru, durante manifestação em Lima - Janine Costa - 26.jun.21/AFP

Com faixas gigantes e fotos de seu candidato, os apoiadores de Castillo marcharam no centro de Lima em direção à Praça San Martín, que fica a uma quadra da sede do Júri Nacional de Eleições (JNE), órgão responsável por analisar a impugnação de atas de votação. Keiko, mergulhada em um discurso de que houve fraude no pleito, pediu a revisão de 300 mil votos e a anulação de outros 200 mil.

"Não somos chavistas, não somos comunistas, não vamos tirar propriedade de ninguém, isso é falso. Somos democráticos", disse Castillo a seus eleitores.

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A cerca de dois quilômetros de distância, milhares de apoiadores de Keiko também erguiam bandeiras e faixas que diziam "não à fraude" na praça Francisco Bolognesi, onde um palco foi erguido para receber a candidata conservadora. Em seu discurso, ela disse que simplesmente quer justiça eleitoral. "O que queremos é que todas essas irregularidades sejam analisadas."

Apoiadores de Pedro Castillo, candidato à Presidência do Peru, durante manifestação em Lima - Ernesto Benavides - 26.jun.21/AFP

Como se a polarização do país não fosse suficiente para acirrar as tensões, o processo eleitoral pendente mergulhou ainda mais em incertezas quando um dos quatro magistrados que examinavam as cédulas de votação renunciou ao cargo no JNE após divergências com outros membros do órgão.

Em sua carta de demissão, ele acusou os colegas de parcialidade ao rejeitar os primeiros dez pedidos de anulação de votos apresentados por Keiko. O partido da candidata, o Fuerza Popular, disse então que, diante da renúncia do magistrado, o governo peruano deveria solicitar à Organização dos Estados Americanos (OEA) uma auditoria no processo eleitoral semelhante à feita na Bolívia em 2019.

Em nota, a OEA disse que seus enviados ao Peru não encontraram falhas na condução da eleição, reiterando comunicado prévio divulgado no início do mês, pouco depois de Keiko fazer as primeiras denúncias de fraude.

Neste sábado, um novo magistrado foi nomeado para substituir o desistente, o que deve permitir a retomada do trabalho de revisão nesta segunda-feira (28), de acordo com um porta-voz do JNE. O presidente do órgão, Jorge Salas, que havia classificado a renúncia de "um atraso nos trabalhos", afirmou que "a justiça eleitoral não pode ser paralisada ou bloqueada" e que "atos interruptivos não prosperarão".

Na quinta-feira (24), uma série de áudios vazados tornou ainda mais tensa a espera pela decisão sobre quem ocupará a Presidência do Peru. Nas ligações telefônicas gravadas, Vladimiro Montesinos, ex-chefe dos serviços de inteligência peruanos e braço direito do autocrata Alberto Fujimori, pai de Keiko, propõe o pagamento de suborno a membros do JNE para favorecer a candidata da direita.

O Ministério Público investiga o caso, assim como a Marinha, pois Montesinos, que cumpre pena de 25 anos em uma base naval, fez os telefonemas a um militar reformado fujimorista a partir da prisão, embora só tivesse permissão para ligar para a sua companheira. Quatro oficiais do serviço penal da Marinha foram afastados dos cargos neste sábado.

No primeiro de 17 telefonemas, Montesinos pede ao comandante reformado Pedro Rejas que fale com o advogado Guillermo Sendón para que ele faça contato com três dos quatro membros do JNE. O intuito seria suborná-los e impedir que eventualmente proclamem Castillo como o vencedor do pleito.

As conversas vazadas permitem inferir que o plano era pagar até US$ 3 milhões (R$ 14,76 milhões) para "comprar" os magistrados. "Não tem outro [jeito], porque passou tempo demais, mas você faça entender ao papai ou à garota [Alberto ou Keiko], não sei com quem você fala, que estamos tentando ajudar em um objetivo comum", diz Montesinos a Rejas em uma das gravações.

"O que eu ganho com isso? Nada. Não me interessa e também nunca vou pedir nada a eles. Simplesmente estou tentando ajudar, porque, se não, eles se ferram: a garota [Keiko] vai acabar presa."

Se perder a disputa presidencial, como os dados oficiais indicam, Keiko deverá ir a julgamento por lavagem de dinheiro pelo escândalo de aportes ilegais da empreiteira brasileira Odebrecht, em que também se envolveram quatro ex-presidentes peruanos.

A candidata, que nega as acusações, poderá ser condenada a 30 anos de prisão.

Durante o ato deste sábado, Keiko tentou minimizar o impacto das gravações vazadas. "Ouvimos com indignação os áudios, escutando a voz de um homem [Montesinos] que traiu todos os peruanos. Eu rejeito este tipo de insinuações, em que se nota ainda que isso foi armado de forma grosseira."

Montesinos caiu em desgraça em 2000, quando foram divulgados vídeos em que ele aparece oferecendo suborno em troca de apoio de legisladores da oposição a Fujimori, que acabara de se reeleger para um terceiro mandato. O ex-chefe de inteligência chegou a fugir do país para a Venezuela, até ser detido em junho de 2001 e, posteriormente, condenado à pena de 25 anos que ainda cumpre.

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