Descrição de chapéu Diplomacia Brasileira

Após fala de Fernández, Bolsonaro compara presidente argentino a ditador da Venezuela

Líder brasileiro diz a apoiadores que conversou com Macri depois de declaração do peronista

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou nesta quinta (10) a responder à declaração racista de Alberto Fernández e comparou o líder da Argentina ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.

Nesta quarta, o peronista disse, durante encontro com o premiê da Espanha, em Buenos Aires, que "os mexicanos vieram dos indígenas, os brasileiros, da selva, e nós [os argentinos], chegamos em barcos". "Eram barcos que vinham da Europa", afirmou, apontando para Pedro Sánchez.

O presidente Jair Bolsonaro durante evento evangélico em Anápolis
O presidente Jair Bolsonaro durante evento evangélico em Anápolis - Pedro Ladeira - 9.jun.21/Folhapress

Bolsonaro, que no mesmo dia da declaração postou uma foto nas redes sociais em que aparece ao lado de indígenas acompanhada da palavra "SELVA!", disse nesta quarta que, para o presidente argentino e o ditador venezuelano, "não tem vacina". A fala dá a entender que, para o líder brasileiro, Fernández e Maduro são irremediáveis.

"Lembro que, logo que o [Hugo] Chávez morreu, assumiu o Maduro [na Venezuela], e ele falava que conversava com os passarinhos que estavam encarnados na figura do Chávez", disse o presidente brasileiro a um grupo de apoiadores. "Acho que o Maduro e o Fernández, para eles não tem vacina."

​Em seguida, no entanto, Bolsonaro disse que não há nenhum problema entre o Brasil e o povo argentino. "Troquei mensagem no WhatsApp hoje com o ex-presidente [Mauricio] Macri, da Argentina. Não tem nenhum problema entre nós nem com o povo argentino. Rivalidade com a Argentina é só no futebol."

Auxiliares do ex-presidente argentino disseram à Folha que Macri enviou, na noite de quarta (9), uma mensagem por WhatsApp a Bolsonaro pedindo desculpas pela fala de Fernández.

Macri, que manteve boa relação com Bolsonaro quando estava na Presidência, ressaltou que as palavras usadas por seu sucessor não representam o pensamento do povo argentino. Bolsonaro, ainda de acordo com interlocutores, agradeceu o gesto e respondeu que a relação entre os dois países é positiva.

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A fala de Fernández gerou críticas no Brasil e no México, além de reações da oposição argentina.

O deputado Facundo Suárez Lastra, da União Cívica Radical, afirmou que "sempre há um nível mais baixo para que o presidente desça na escada do ridículo e da vergonha". "Ofende países irmãos e aparece como um ignorante. Nem professor nem acadêmico."

Também da UCR, partido que fazia parte da base de apoio do ex-presidente Mauricio Macri, Karina Banfi pediu que Fernández se desculpasse por sua ignorância e discriminação com os povos originários, com os países da região e com todos os argentinos e argentinas".

Após a repercussão da declaração, o presidente argentino publicou uma mensagem no Twitter na qual diz que "nossa diversidade é um orgulho". "Mais de uma vez foi dito que 'os argentinos descendemos dos barcos'. Na primeira metade do século 20 recebemos mais de 5 milhões de imigrantes que conviveram com os nossos povos originários. Nossa diversidade é um orgulho." Na sequência, acrescentou que "não quis ofender ninguém" e pediu desculpas "a quem tenha se sentido ofendido ou invisibilizado".

Ao realizar a declaração na quarta, Fernández acreditava fazer menção a uma frase incorretamente atribuída ao escritor mexicano Octavio Paz (1914-1998), Nobel de literatura em 1990, em que ele teria discorrido sobre a raiz asteca dos mexicanos e a origem inca dos peruanos. Fernández, porém, confundiu-se, e a frase é na verdade parte de uma canção do compositor Litto Nebbia.

A frase foi dita em meio a um dos momentos mais tensos na relação entre Argentina e Brasil. Bolsonaro é um crítico de Fernández e já disse que os argentinos escolheram mal ao elegê-lo como presidente. Os dois países também estão em polos opostos numa delicada negociação sobre reformas no Mercosul.

Assim, a declaração do argentino tem sido utilizada por aliados de Bolsonaro nas redes sociais. Filho do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) fez publicações ridicularizando a fala de Fernández e disse que “o barco que está afundando é o da Argentina”.

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