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Chefe de gabinete de Trump pressionou Justiça para investigar suposta fraude eleitoral

Mark Meadows insistiu que Departamento de Justiça investigasse teorias conspiratórias

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Washington | The New York Times

Nas últimas semanas de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos, Mark Meadows, seu chefe de gabinete, pressionou com insistência o Departamento de Justiça para investigar teorias conspiratórias sobre a eleição presidencial de 2020, segundo e-mails recém-descobertos e entregues ao Congresso, que foram analisados em parte pelo New York Times.

Mark Meadows em evento da Casa Branca no ano passado
Mark Meadows em evento da Casa Branca no ano passado - Olivier Douliery-21.out.20/AFP

Em cinco e-mails enviados durante a última semana de dezembro e o início de janeiro, Meadows pediu a Jeffrey Rosen, então secretário de Justiça em exercício, para examinar afirmações já refutadas de fraude eleitoral no Novo México e uma série de conspirações sem fundamento que afirmavam que Trump tinha sido o vencedor. Isso incluía uma teoria fantasiosa de que pessoas na Itália tinham usado tecnologia militar e satélites para interferir remotamente nas máquinas de votação nos Estados Unidos e trocar votos em Trump por votos para Joe Biden.

Nenhum dos e-mails mostra Rosen concordando em abrir as investigações sugeridas por Meadows, e ex-autoridades e pessoas próximas disseram que ele não o fez. Um e-mail para outra autoridade do Departamento de Justiça indicou que Rosen se recusou a arranjar uma reunião entre o FBI e um homem que postou vídeos online promovendo a teoria da conspiração italiana, conhecida como Italygate.

Mas as comunicações entre Meadows e Rosen, que não foram divulgadas antes, mostram os esforços cada vez mais urgentes de Trump e seus aliados durante seus últimos dias no cargo para encontrar algum modo de minar, ou mesmo anular, os resultados da eleição enquanto ele ainda detinha o controle do governo.

Nas vésperas do Natal, enquanto Trump pressionava o principal investigador do secretário de Estado da Geórgia para encontrar "desonestidade", Meadows fez uma visita de surpresa ao condado de Cobb, nesse estado, para observar um processo de auditoria eleitoral. Autoridades locais chamaram isso de cena que "cheirava a desespero", pois as investigações não tinham encontrado evidências de fraude.

Meadows também entrou na ligação telefônica feita por Trump em 2 de janeiro para Brad Raffensperger, o secretário de Estado da Geórgia, republicano, em que Trump repetidamente pediu que a principal autoridade eleitoral do estado modificasse o resultado da eleição presidencial.

Mas as mensagens recém-descobertas mostram que os esforços particulares de Meadows beiraram o absurdo e buscaram validação oficial para a desinformação que circulava de forma desbragada entre apoiadores de Trump.

O Italygate foi uma de várias teorias de conspiração infundadas que cercaram as eleições de 2020 e pegaram fogo na internet antes do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro por uma multidão pró-Trump. Essas teorias alimentaram a crença entre muitos baderneiros, instigados por Trump, de que a eleição foi roubada e levaram vários estados liderados por republicanos a aprovar ou propor novas barreiras à votação.

Os e-mails foram descobertos neste ano como parte de uma investigação da Comissão de Justiça do Senado para avaliar se autoridades do Departamento de Justiça estiveram envolvidas em esforços para reverter a derrota de Trump na eleição.

"Essa nova evidência salienta a profundidade dos esforços da Casa Branca para cooptar o departamento e influenciar a certificação do resultado eleitoral", disse em comunicado o senador democrata Dick Durbin, de Illinois, presidente da comissão. "Vou requerer todas as evidências dos esforços de Trump para manipular o Departamento de Justiça em seu esquema eleitoral subversivo."

Um porta-voz de Meadows não quis comentar, assim como o Departamento de Justiça. Rosen não respondeu a um pedido de comentário.

Os pedidos feitos por Meadows refletem a crença de Trump de que ele poderia usar o Departamento de Justiça para promover sua agenda pessoal.

Em 15 de dezembro, um dia após o anúncio de que Rosen seria secretário de Justiça, Trump o convocou ao Salão Oval para pressionar o Departamento de Justiça a apoiar ações que tentavam reverter sua derrota eleitoral. Trump também pediu que Rosen indicasse um advogado especial para investigar a Dominion Voting Systems, empresa de tecnologia de votação.

Nas semanas que levaram ao ataque em 6 de janeiro, Trump continuou pressionando Rosen a fazer mais para ajudá-lo a minar a eleição e até considerou substituí-lo como secretário de Justiça por uma autoridade do departamento que parecia mais aberta a usar o cargo para violar a Constituição e mudar o resultado da eleição.

Durante essas semanas, Rosen disse em privado a Trump que preferia não tomar essas medidas, reiterando uma declaração pública feita por seu antecessor, William Barr, de que o Departamento de Justiça "não viu fraude em uma escala que pudesse ter produzido um resultado diferente na eleição".
O gesto de Meadows a Rosen foi audacioso em parte, porque violou antigas diretrizes que basicamente proíbem quase todos os funcionários da Casa Branca, incluindo o chefe de gabinete, de contatar o Departamento de Justiça sobre investigações ou outras ações judiciais.

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Não obstante, Meadows enviou diversos e-mails a Rosen no final de dezembro e no dia de Ano Novo.
Em 1º de janeiro, Meadows escreveu que queria que o Departamento de Justiça abrisse uma investigação sobre uma teoria desacreditada, promovida pela campanha de Trump, de que anomalias com assinaturas no condado de Fulton, na Geórgia, tinham sido amplas o suficiente para modificar os resultados a favor de Trump.

Meadows tinha previamente enviado a Rosen um e-mail sobre possível fraude na Geórgia que tinha sido escrito por Cleta Mitchell, advogada que trabalhou na campanha de Trump. Dois dias depois que esse e-mail foi enviado a Rosen, Mitchell participou do telefonema em 2 de janeiro, durante o qual ela e Trump pressionaram Raffensperger para reconsiderar suas conclusões de que não houve fraude ampla e que Biden tinha vencido. Durante o telefonema, Trump pediu que Raffensperger "encontrasse" os votos necessários para que ele declarasse vitória na Geórgia.

Meadows também enviou a Rosen uma lista de alegações de possíveis erros eleitorais no Novo México, estado que estaria cheio de fraudes, segundo o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani, havia dito em novembro. Um porta-voz do secretário de estado do Novo México disse na época que suas eleições foram seguras. Para confirmar a precisão da votação, auditores do estado contaram à mão sessões eleitorais aleatórias.

E, em seu pedido de que o Departamento de Justiça investigasse a teoria conspiratória da Itália, Meadows enviou a Rosen um link do YouTube de um vídeo de Brad Johnson, ex-funcionário da CIA que tinha divulgado a teoria em vídeos e declarações que postou online. Depois de receber o vídeo, Rosen disse em um e-mail para outro membro do Departamento de Justiça que ele tinha sido solicitado a marcar um encontro entre Johnson e o FBI, havia recusado e depois foi solicitado a reconsiderar.

A Comissão de Justiça do Senado é uma de três entidades que examinam aspectos dos esforços da Casa Branca para derrubar a eleição nos últimos dias do governo Trump. A Comissão de Supervisão da Câmara e o inspetor-geral do Departamento de Justiça também estão fazendo isso.

Rosen está em conversas com o painel supervisor para falar com investigadores sobre qualquer pressão que o Departamento de Justiça tenha enfrentado para investigar fraude eleitoral, assim como a reação do departamento ao ataque de 6 de janeiro, segundo pessoas inteiradas da investigação.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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