De saída, governo de Netanyahu autoriza marcha de nacionalistas de direita em Jerusalém

Hamas ameaçou nova escalada de tensões caso evento passe por área muçulmana

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Jerusalém | Reuters e AFP

O governo de Israel autorizou a realização na próxima semana de uma marcha de militantes da direita nacionalista em Jerusalém, anunciou nesta terça-feira (8) o gabinete do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, que está de saída.

O evento pode levantar novamente a temperatura da crise com o grupo palestino radical Hamas, que controla a Faixa de Gaza e já tinha ameaçado uma nova escalada de tensões caso os ativistas percorram o bairro muçulmano da Cidade Velha de Jerusalém.

A marcha original, convocada para 10 de maio, foi interrompida por um foguete disparado pelo Hamas em direção a Jerusalém, no início do conflito entre o grupo palestino e Israel —que durou 11 dias, deixou ao menos 240 mortos e foi encerrado após um cessar-fogo.

Jovens com bandeira de Israel participam de marcha em meio à tensão entre Israel e Palestina
Jovens com bandeira de Israel participam de marcha em meio à tensão entre Israel e Palestina - Nir Elias - 10.mai.21/Reuters

Os organizadores haviam remarcado o evento para a próxima quinta (10), mas não obtiveram autorização da polícia para o percurso que gostariam de fazer.

Nesta terça, após uma reunião do gabinete de segurança, o governo autorizou que o ato seja feito no dia 15 —desde que os organizadores e a polícia cheguem a um acordo sobre a rota a ser seguida.

Com o adiamento, a marcha agora está marcada para dois dias após a votação no Parlamento israelense que deve aprovar o novo governo formado por oposicionistas a Netanyahu. O acordo para a coalizão foi fechado na quarta (2), após dias de negociações lideradas por Yair Lapid, líder do bloco.

Lapid recebeu no início de maio do presidente Reuven Rivlin a tarefa de montar em até 28 dias o novo governo e usou quase todo o tempo disponível para negociar a formação de um heterogêneo bloco de sustentação no Parlamento —a coalizão une partidos que vão da ultraesquerda à direita nacionalista.

Para consolidar o novo gabinete e Netanyahu deixar o cargo, o Parlamento precisa aprovar o acordo —a votação está prevista para o domingo (13).

Embora Lapid seja o chefe da oposição por comandar o maior partido do bloco —o centrista Yesh Atid, que detém 17 cadeiras—, quem vai assumir o cargo de primeiro-ministro nos primeiros dois anos do novo governo será Naftali Bennett, líder da legenda de ultradireita Yamina, que tem apenas seis assentos.

No total, a coalizão será formada por oito partidos: Yamina, Israel Nossa Casa, Nova Esperança (as três de direita), Yesh Atid, Azul e Branco (ambas de centro), Trabalhista, Meretz (dupla de esquerda) e Ra’am (sigla conservadora islâmica). Inicialmente, a expectativa era a de que o Ra’am apenas apoiasse a aliança no Parlamento, sem fazer parte formalmente do governo. Na segunda (31), no entanto, o líder da sigla, Mansour Abbas, afirmou que irá fazer parte do grupo e que espera indicar alguns nomes para o segundo escalão —será a primeira vez na história que uma legenda árabe vai integrar o governo israelense.

A união entre diferentes forças do espectro político foi a maneira encontrada para pôr fim à atual crise política em Israel, que já dura mais de dois anos. Nesse período foram realizadas quatro eleições, mas todas terminaram com resultados inconclusivos, com um bloco de apoio a Netanyahu e, outro, de oposição —nenhum dos dois lados tinha cadeiras suficientes para governar sozinho, criando um impasse.

Lá Fora

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Após o anúncio do acordo, Netanyahu adotou em suas redes sociais uma estratégia de combate ao bloco de oposição. Na quinta (3), em publicações no Twitter, ele disse que "todos os legisladores eleitos por votos da direita devem se opor a este perigoso governo de esquerda".

Em outra publicação na rede social, o premiê destacou os vínculos da nova aliança com Mansour Abbas, líder do Ra'am, partido que representa a minoria árabe em Israel e compõe a coalizão. A postagem inclui um vídeo em que Bennett aparece dizendo que Abbas "visitou terroristas assassinos na prisão" após um ataque em 1992 no qual cidadãos árabes de Israel mataram três soldados.


O caminho para a formação do novo governo

23.mar Israel realiza sua quarta eleição em dois anos, e, assim como nos demais pleitos, nenhum partido conquista maioria do Parlamento. A sigla Likud, de Netanyahu, tem o maior número de assentos, com Yesh Atid (Lapid) em segundo lugar

6.abr Presidente do país dá o prazo de 28 dias para que o atual premiê forme um governo. Ele tenta atrair partidos religiosos e de direita menores, incluindo o Yamina, mas acaba falhando

5.mai Rivlin dá o mesmo prazo a Lapid, que busca unir partidos de lados opostos do espectro político, como os árabes que normalmente se opõem à agenda mais à direita de alguns membros da coalizão

10.mai Conflito entre Israel e Hamas começa em Gaza, e protestos eclodem em muitas cidades com população judia e árabe em Israel, pausando as negociações

21.mai Negociações voltam com a declaração de um cessar-fogo

30.mai Bennett anuncia que irá aderir à coalizão ao lado de rivais centristas para tirar Netanyahu do poder

2.jun O prazo para o acordo de um novo governo ser fechado encerra às 23h59, e Lapid informa Rivlin que conseguiu formar a coalizão cerca de uma hora antes do horário limite

Meados de junho O novo governo deve tomar posse

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