Descrição de chapéu The New York Times

Donald Rumsfeld, secretário da Defesa dos EUA na Guerra Fria e na Guerra ao Terror, morre aos 88

Ex-autoridade ocupou cargo nos mandatos de Gerald Ford, na década de 1970, e George W. Bush, nos anos 2000

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The New York Times

Donald Rumsfeld, secretário da Defesa dos presidentes Gerald Ford e George W. Bush e responsável por comandar as estratégias dos EUA durante a Guerra Fria nos anos 1970 e, décadas depois, os conflitos no Afeganistão e no Iraque, morreu nesta terça-feira (30) em sua casa em Taos, no estado do Novo México, aos 88 anos. A causa foi mieloma múltiplo, segundo um porta-voz da família.

Repetições são raras em Washington, mas Rumsfeld teve a distinção de ser o único chefe da Defesa que serviu dois mandatos não consecutivos: de 1975 a 1977, sob Ford, e de 2001 a 2006, com Bush. Também foi o mais jovem, aos 43, e o mais velho, aos 74, a ocupar o cargo —primeiro em uma era de perigo nuclear soviético-americano, depois num período de ameaça mais sutil, de terroristas e Estados vilões.

O então secretário de Defesa dos EUA Donald Rumsfeld durante visita à prisão de Abu Ghraib, próximo a Bagdá
O então secretário de Defesa dos EUA Donald Rumsfeld durante visita à prisão de Abu Ghraib, próximo a Bagdá - David Hume Kennerly - 13.mai.04/Reuters

Um firme aliado do ex-vice-presidente Dick Cheney, seu protegido e amigo durante anos, Rumsfeld foi um combatente interno que parecia adorar conflitos, enquanto contestava adversários, congressistas e ortodoxias militares. Em seu segundo turno no cargo ele foi amplamente considerado o mais poderoso secretário da Defesa desde Robert McNamara, durante a guerra do Vietnã.

Assim como seu homólogo fizera décadas antes, Rumsfeld travou no Iraque uma guerra dispendiosa e divisiva, que destruiu sua vida política e sobreviveu à sua atuação por muitos anos. Mas, ao contrário de McNamara, que fez mea-culpa em um documentário de 2003, Rumsfeld não admitiu erros graves e advertiu em um discurso de despedida no Pentágono que deixar o Iraque seria um erro terrível.

"Uma conclusão tirada por nossos inimigos de que os Estados Unidos não têm a vontade ou a decisão para realizar nossas missões, que exigem sacrifício e paciência, é tão perigosa quanto um desequilíbrio de poder militar convencional", disse ele. "Pode ser reconfortante para alguns considerar saídas graciosas das agonias e, de fato, da feiura do combate. Mas o inimigo pensa de forma diferente."

Em seu livro de memórias, lançado em 2011, "Known and Unknown" (conhecido e desconhecido), Rumsfeld, mais de quatro anos após deixar o cargo, ainda não manifestava arrependimento da decisão de invadir o Iraque, o que custou aos Estados Unidos US$ 700 bilhões e 4.400 vidas americanas, insistindo que a remoção do então líder iraquiano Saddam Hussein havia justificado o esforço. "Livrar a região do regime brutal de Saddam criou um mundo mais estável e seguro", escreveu.

Rumsfeld deixou de lado a questão de que a guerra do Iraque desviou recursos do Afeganistão, levando a uma ressurgência do Taleban no país. "Foi exatamente durante o período mais duro da guerra do Iraque que o Afeganistão, com a ajuda da coalizão, deu alguns de seus passos mais importantes em direção a um futuro mais livre e melhor", declarou ele.

Em retrospecto, especialistas fizeram elogios por seu primeiro período no Pentágono e por, no segundo, tentar modernizar os militares. Mas condenaram a condução da guerra no Iraque, responsabilizando-o por maus-tratos a prisioneiros e o acusando de alienar colegas e a população com seu estilo arrogante.

Ele contestou o último ponto, porém. "Beneficiei-me muito das críticas", disse Rumsfeld, invocando o ex-premiê britânico Winston Churchill no dia em que se demitiu, "e em nenhum momento sofri a falta delas".

Em uma declaração divulgada na quarta, Bush disse: "Na manhã de 11 de setembro de 2001, Donald Rumsfeld correu ao incêndio no Pentágono para ajudar os feridos e garantir a segurança dos sobreviventes. Nos cinco anos seguintes, ele esteve em serviço constante como secretário da Defesa em tempo de guerra —dever que desempenhou com força, habilidade e honra".

Rumsfeld foi tema de um documentário, "The Unknown Known" (o desconhecido conhecido), de 2014, do cineasta Errol Morris, que o entrevistou sobre seus anos a serviço do governo. O título, como o das memórias de Rumsfeld acima citado, referia-se a seu comentário em uma entrevista coletiva de 2002 na qual afirmou que um dos principais objetivos do Pentágono era avaliar "conhecidos desconhecidos" —ou "as coisas que você pensa que sabe, e afinal não sabia".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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