Família real barrou funcionários 'imigrantes e negros', diz jornal britânico

Segundo documentos obtidos pelo Guardian, não brancos só eram contratados para serviços domésticos ao menos até fim dos anos 1960, e casa real negociou isenção em lei antidiscriminação

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Bruxelas

O palácio de Buckingham evitou a contratação de “imigrantes de cor ou estrangeiros” em funções administrativas até ao menos o final dos anos 1960, mostram documentos obtidos com exclusividade pelo jornal britânico The Guardian.

Nos papéis, descobertos nos Arquivos Nacionais, o gerente financeiro da rainha informa em 1968 que “não era, de fato, prática nomear imigrantes negros ou estrangeiros” para funções administrativas no palácio, embora eles tivessem permissão para trabalhar como empregados domésticos.

O palácio de Buckingham não respondeu a perguntas sobre a proibição nem sobre quando ela foi revogada. Afirmou apenas que pessoas de minorias étnicas eram empregadas pela família real na década de 1990 e que, antes disso, não havia registros sobre as origens raciais dos funcionários.

Menino de franja olha para câmera enquanto caminha ao lado de homem lato de terno e óculos escuros e mulher de tailleur e óculos escuros, em foto em preto e branco
O príncipe Andrew, o príncipe Philip e a rainha Elizabeth 2ª (da esq. para a dir.) em 1968, quando o palácio de Buckingham negociou isenção em lei antidiscriminação racial - Central Press - 28.abr.1968/AFP

A reportagem retoma a discussão sobre racismo na família real, que veio à tona em março, quando Meghan Markle, duquesa de Sussex e mulher do príncipe Harry —neto de Elizabeth 2ª—, disse em entrevista que a realeza havia se preocupado com a cor de seu primeiro filho, Archie, nascido em 2019.

Meghan afirmou que havia "preocupações e conversas sobre o quão escura a pele dele seria quando nascesse”. Segundo a duquesa, a família mantinha essas conversas com Harry, que as relatava a Meghan —ela não revelou os envolvidos. Na ocasião, a rainha disse que as declarações seriam “levadas muito a sério”. Dias depois, o príncipe William —segundo na linha de sucessão ao trono britânico, atrás de seu pai, o príncipe Charles— criticou a entrevista e afirmou que a família real não era racista.

Os papéis publicados nesta quarta (2) surgiram durante investigação do Guardian sobre o procedimento chamado “consentimento da rainha”, pelo qual a família real influencia o conteúdo das leis britânicas.

De acordo com os documentos, a rainha Elizabeth 2ª e sua família se isentaram de leis que evitam discriminação racial e sexual. A exceção, que permanece até hoje, foi negociada em 1968, quando o então secretário do Interior, James Callaghan, propôs expandir as leis de discriminação racial para proibi-la no mercado de trabalho ou em serviços públicos, e não apenas na presença em lugares públicos.

Em fevereiro daquele ano, um funcionário do Ministério do Interior relatou as discussões ao responsável por administrar as finanças privadas da realeza, lorde Tryon, que, segundo os documentos, respondeu que Buckingham cumpriria a nova lei desde que gozasse de isenções semelhantes às do serviço diplomático, que permitem rejeitar candidatos que residam no Reino Unido há menos de cinco anos.

Como resultado dessa isenção, o Conselho de Relações Raciais, que recebeu a tarefa de investigar a discriminação racial, enviaria quaisquer reclamações de funcionários da família real ao secretário do Interior, e não aos tribunais. Em 1997, Buckingham havia afirmado ao jornal Independent descumprir política de monitorar equipes para garantir igualdade de oportunidades.

Nesta quarta (2), um porta-voz do palácio disse que a rainha e a casa real “cumprem as disposições da Lei da Igualdade, em princípio e na prática”. “Isso se reflete nas políticas, procedimentos e práticas de diversidade, inclusão e dignidade no trabalho dentro da casa real”, afirma a assessoria do palácio.

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