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Ilhas Maldivas atraíram turistas de volta, mas agora precisam de enfermeiros

País depende de trabalhadores estrangeiros, principalmente da Índia, que enfrenta explosão de casos de Covid-19

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Maahil Mohamed Mike Ives
Malé, Ilhas Maldivas | The New York Times

O maior centro de tratamento de coronavírus nas Ilhas Maldivas tem cerca de 300 leitos e um suprimento constante de oxigênio. Mas, no mês passado, quando o país relatou algumas das maiores taxas de casos da doença per capita, as alas de pacientes com Covid precisavam de outro recurso: trabalhadores.

"No pior momento, tínhamos um enfermeiro para atender 20 pacientes nas alas gerais", disse Mariya Saeed, diretora do Centro Médico Hulhumalé, na capital,Malé. "Precisávamos de recursos humanos para oferecer atendimento adequado a muitos idosos internados, mas os enfermeiros estavam exaustos."

A pandemia levou a uma escassez de trabalhadores de saúde em todo o mundo, obrigando governos a agirem com urgência. A Espanha, por exemplo, lançou um plano de emergência para recrutar estudantes de medicina e médicos aposentados. E, na Índia, no mês passado, o premiê Narendra Modi pediu às autoridades locais que começassem a recrutar alunos do último ano de medicina.

Avião da Air India com doses da vacina Covishield, produzida na Índia, no aeroporto de Velana, na capital das Maldivas, Malé
Avião da Air India com doses da vacina Covishield, produzida na Índia, no aeroporto de Velana, na capital das Maldivas, Malé - 20.jan.21/AFP

Mas o arquipélago das Maldivas, com cerca de 1.200 ilhas no Oceano Índico, enfrenta desafios ímpares.

O governo não pode convocar facilmente um grande número de estudantes, porque só tem uma universidade com faculdade de medicina. E não pode contar só com os cidadãos do país, porque seu sistema de saúde depende amplamente de trabalhadores estrangeiros. Muitos médicos e enfermeiros vêm da Índia, país que enfrenta um surto gigantesco.

Uma consequência é que as Maldivas, que têm abordado a pandemia com atenção meticulosa aos detalhes, não tem certeza de como vai equipar seus hospitais para a próxima crise. "Conversamos com países como Bangladesh e Índia" sobre recrutar médicos e enfermeiros, disse o presidente Ibrahim Mohamed Solih. "Mas eles não conseguem dar assistência devido às suas próprias situações de Covid."

As Maldivas, país de maioria muçulmana com uma população de aproximadamente 540 mil pessoas, criaram um modelo de resposta à pandemia para países pequenos. Usando um forte rastreamento de contatos e contando com a distância entre as ilhas para conter o ritmo dos surtos, o governo manteve a taxa de transmissão de Covid baixa o suficiente para suspender as medidas de contenção e atrair novamente os turistas para seus resorts de luxo, um sustentáculo da economia.

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Em abril, permitiu as festas de ramadã e a realização normal de eleições locais em todo o país.

"Nunca se sabe o que vai acontecer amanhã", disse Thoyyib Mohamed, diretor da agência de relações-públicas do país, ao New York Times em fevereiro. "Mas por enquanto devo dizer que este é um bom estudo de caso para o mundo todo, especialmente destinos tropicais."

Embora 59% da população tenha recebido ao menos uma dose da vacina para Covid-19, o surto recente cobrou um preço alto. Quase metade das 200 mortes pela doença no país durante toda a pandemia foi registrada em maio. Muitas pessoas em Malé hoje têm algum parente que morreu de Covid, disse Marjan Montazemi, representante da Unicef nas Maldivas. "Como os números não são altos como os de outros países, não chamam muita atenção", disse ela. "Mas para nós foi muito difícil."

As autoridades não confirmaram quantas variantes estavam presentes no último surto, mas médicos locais dizem que a mutação delta, detectada primeiro na Índia, país vizinho, provavelmente teve influência.

Enquanto os casos cresciam para mais de 1.500 por dia no mês passado, centenas de pacientes de Covid chegavam ao Centro Médico de Hulhumalé. Apesar de ter sido construído no ano passado com a finalidade de tratar pacientes com Covid, a instalação —com 16 médicos e 89 enfermeiros— não estava preparada. "Estamos sempre prontos para um possível surto, mas uma onda tão repentina e maciça não era esperada", disse Nazla Musthafa, assessora de saúde do governo.

Para compensar a escassez de médicos e enfermeiros, a faculdade de medicina da Universidade Nacional das Maldivas —inaugurada em 2019 e com um total de 115 estudantes— enviou dezenas de alunos para ajudar no trabalho nas alas de Covid em Malé. O governo também chamou enfermeiros aposentados e recrutou voluntários sem experiência médica. O gargalo salienta a dependência de trabalhadores de saúde estrangeiros, algo que o governo sabia ser um problema mesmo antes da pandemia.

Em 2018, estrangeiros constituíam um quinto dos cerca de 900 médicos das Maldivas e mais da metade dos quase 3.000 enfermeiros do arquipélago, causando uma alta rotatividade que afeta a qualidade do atendimento de saúde, segundo um relatório do governo.

Outros países, como Irlanda, Israel e Nova Zelândia, também contam fortemente com expatriados para o trabalho em saúde. Mas, ao contrário deles, as Maldivas não são ricas. Isso significa que não podem competir na atração de médicos e enfermeiros estrangeiros, especialmente durante uma pandemia que deixou quase todos os países com escassez desses profissionais.

S. Irudaya Rajan, presidente do Instituto Internacional de Migrações e Desenvolvimento, organização sediada no sul da Índia, disse que esperava que os países que exportam grande número de profissionais de saúde, como Índia e Filipinas, modificassem as políticas para evitar a saída de trabalhadores.

As Maldivas precisam de uma estratégia melhor para garantir um suprimento mais constante de médicos e enfermeiros estrangeiros, disse Rajan. Uma opção, afirma ele, seria patrocinar estudantes de medicina na Índia e exigir que eles trabalhem nas Maldivas durante alguns anos depois de formados.

"Uma lição que todo país deve aprender com a Covid-19 é: não explorem os países pobres como a Índia e as Filipinas", afirmou Rajan. "Invistam neles e em seu povo, e eles poderão beneficiar vocês. Atualmente é difícil empregar profissionais da Índia, de Bangladesh e do Sri Lanka. Especialmente do Sri Lanka, é quase impossível. Estou tentando há muitos dias."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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