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Jovem usa discurso de formatura para criticar lei de aborto no Texas

Nova legislação proíbe o procedimento a partir da 6ª semana de gravidez no estado

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Christine Hauser
The New York Times

Paxton Smith, a oradora de sua turma num colégio em Dallas, no Texas, pretendia fazer um discurso de formatura sobre a mídia. Mas quando ela subiu ao palco na Escola Secundária Lake Highlands, no domingo (30), usou seus três minutos para abordar o que considera um assunto mais importante: a nova legislação do aborto do Texas.

A lei, que entrará em vigor em 1º de setembro, proíbe o aborto depois de seis semanas de gravidez, mesmo que ela seja consequência de estupro ou incesto. Conhecida como "lei do batimento cardíaco", é uma das medidas sobre o aborto mais restritivas do país.

Paxton Smith na cerimônia de formatura da escola Lake Highlands, em Dallas
Paxton Smith na cerimônia de formatura da escola Lake Highlands, em Dallas - Arquivo pessoal/via NYT

Enfrentando o que parecia ser uma multidão de milhares, incluindo estudantes, famílias e administradores, reunida no estádio de futebol da escola, Smith, 18, se pronunciou contra a lei e o impacto que ela teria sobre as mulheres, dizendo que uma "decisão que afetará o resto de suas vidas" foi "tomada por um estranho".

"Eu tenho sonhos, esperanças e ambições. Todas as garotas que se formam hoje têm", disse. "E passamos toda a nossa vida trabalhando pelo nosso futuro, e sem nossa opinião e sem nosso consentimento, o controle do nosso futuro foi tirado de nós."

Sob alguns aplausos, ela continuou: "Estou aterrorizada que se meu anticoncepcional falhar, estou aterrorizada que se eu for estuprada, minhas esperanças e aspirações, sonhos e esforços por meu futuro não importarão mais".

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Assim como a legislação, que teve o apoio de grupos antiaborto e a condenação de ativistas dos direitos reprodutivos, o discurso de Smith atraiu fortes reações de ambos os lados do debate.

O distrito escolar de Richardson, que inclui a escola Lake Highlands, disse em comunicado que vai rever os protocolos de discurso de estudantes para as cerimônias de formatura no próximo ano.

"O conteúdo da mensagem de cada estudante é a expressão privada e voluntária do estudante individual, e não reflete o apoio, censura, posição ou expressão do distrito ou de seus funcionários", disse, segundo a agência de notícias Associated Press.

O discurso teve cobertura na mídia nacional e internacional, e um vídeo dele foi compartilhado amplamente nas redes sociais.

Smith disse em entrevista que, enquanto estava falando, percebeu uma mulher na lateral do palco sinalizando "agressivamente" para cortarem seu microfone —o que não aconteceu.

O governador do Texas, o republicano Greg Abbott, assinou a lei do aborto em 19 de maio. A medida, na prática, significa uma proibição quase total do aborto, pois muitas mulheres não sabem que estão grávidas na sexta semana, ponto em que o procedimento passa a ser vetado.

A medida também vai permitir que cidadãos privados processem os médicos ou funcionários de clínicas de aborto que realizam ou arranjam meios para o procedimento.

Smith disse que apresentou seu discurso original sobre a mídia à administração da escola para aprovação. Mas cerca de dez dias antes da cerimônia ela tentava terminar um projeto acadêmico quando percebeu como estava perturbada pela nova lei. "Eu comecei a escrever meu discurso então", disse.

Smith afirmou que não apresentou o novo discurso sobre o aborto para revisão da escola. "É um assunto polêmico, e eu acho que as escolas geralmente gostam de ficar afastadas de temas polêmicos."

Antes da cerimônia, a jovem passou algum tempo avaliando se deveria seguir em frente. "Eu disse: eu poderia falar em um comício, mas as pessoas que estão lá já concordam com você", explicou. "Então eu pensei: não há momento e lugar melhores para alcançar um grupo de pessoas de diferentes meios que vão escutá-la."

No domingo à noite, depois que foi apresentada por seu professor de geometria e estatísticas, Brody Lyons, Smith se aproximou do pódio, cheia de apreensão.

Ela disse ao público que a lei era "desumana" e que a formatura era "um dia em que vocês estão mais propensos a escutar uma voz como a minha, a voz de uma mulher, lhes dizer que isso é um problema, e que esse problema não pode esperar".

"Não posso desistir desta plataforma para promover a complacência e a paz, quando há uma guerra sobre o meu corpo e os meus direitos", concluiu. "Uma guerra aos direitos de suas mães, uma guerra aos direitos de suas irmãs, de suas filhas. Não podemos ficar em silêncio."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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