Laudo de engenheiro em 2018 apontou danos na estrutura de prédio que desabou em Miami

Buscas por sobreviventes entram no terceiro dia; último balanço é de 5 mortos e 156 desaparecidos

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Surfside (Flórida) | Reuters e AFP

As operações de busca por sobreviventes do desabamento de um prédio em Miami entraram neste sábado (26) em seu terceiro dia. Um corpo foi encontrado nos destroços, elevando o total de mortos na tragédia para cinco, enquanto 156 pessoas seguem desaparecidas —o que diminui a esperança de que mais moradores sejam resgatadas dos escombros com vida.

Entre amigos e familiares das vítimas, também vem ganhando espaço a indignação devido à informação divulgada pelo New York Times de que, em 2018, o laudo de um engenheiro apontou falhas na estrutura do condomínio Champlain Towers South, na cidade de Surfside, ao norte de Miami Beach, na Flórida.

De acordo com o jornal, o relatório aponta que havia evidências alarmantes de "grandes danos estruturais" na laje de concreto abaixo do deck da piscina do prédio e "abundantes" rachaduras em colunas, vigas e paredes do estacionamento.

Equipes de resgate buscam sobreviventes entre escombros de prédio colapsado em Surfside, na Flórida
Equipes de resgate buscam sobreviventes entre escombros de prédio colapsado em Surfside, na Flórida - 25.jun.21/Condado de Miami-Dade via Reuters

À época, o engenheiro foi contratado para ajudar a formular um projeto de reforma multimilionário, mas que ainda não havia começado, quase três anos após a constatação dos problemas.

“Embora alguns desses danos sejam pequenos, a maior parte da deterioração do concreto precisa ser reparada em tempo hábil”, escreveu Frank Morabito no relatório de outubro de 2018. O engenheiro não deu nenhuma indicação de que a estrutura estava em risco de desabamento, mas observou que os reparos necessários seriam destinados a “manter a integridade estrutural” do edifício e de suas 136 unidades.

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A causa da tragédia ainda é desconhecida. Segundo Kenneth Direktor, que representa a associação dos moradores do condomínio, a torre vinha passando por inspeções devido ao processo de recertificação obrigatório para prédios com mais de 40 anos e à construção de um edifício nas proximidades.

Nas análises, disse Direktor, não havia nada que sugerisse que o desmoronamento tivesse algo a ver com os problemas identificados na inspeção dos engenheiros. O advogado diz que qualquer edifício à beira-mar com a mesma idade do Champlain Towers South teria algum nível de corrosão e deterioração do concreto devido à exposição aos sais do oceano que podem enferrujar os componentes de aço.

Para Eliana Salzhauer, comissária de Surfside, os problemas identificados no relatório de Morabito podem ter contribuído para o desabamento. "É perturbador ver esses documentos, porque o conselho de administração do condomínio foi claramente informado de que havia problemas e, aparentemente, as questões apontadas não foram abordadas."

Imagens capturadas por uma câmera de segurança nas proximidades mostraram um lado inteiro do prédio desmoronando em duas seções, uma após a outra, levantando nuvens de poeira por volta de 1h30 (2h30, no horário de Brasília) de quinta-feira.

Ainda não está claro quantas pessoas moravam no prédio nem quantas estavam nele no momento do acidente. Alguns moradores conseguiram sair sozinhos pelas escadas, enquanto outros tiveram de ser resgatados pela varanda. Segundo os registros públicos, o prédio foi construído em 1981 e tinha 136 unidades —cerca de 80 das quais estavam ocupadas e 55 foram atingidas.

As equipes de busca por sobreviventes usam técnicas criadas a partir do trabalho de resgate em tragédias como o ataque a um prédio federal em Oklahoma City, em 1995, e a derrubada do World Trade Center por terroristas, em Nova York, em 2001. As técnicas incluem dividir a área em zonas e usar equipamentos para tentar identificar sons dos sobreviventes nos escombros. Enquanto alguns profissionais buscam vítimas, outros atuam para estabilizar o terreno, de modo a evitar novos colapsos em meio aos destroços.

Uma criança brasileira de cinco anos e seu pai, o italiano Alfredo Leone, estão entre os desaparecidos. A mãe do garoto, Raquel Oliveira, estava visitando familiares em uma cidade no estado do Colorado no momento do colapso. Em seu perfil no Facebook, ela diz que o marido e o filho estavam dormindo quando o prédio desabou e que aguarda notícias deles.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do subtítulo desta reportagem afirmava incorretamente que havia 159 feridos no desabamento do prédio. Na verdade, são 159 desaparecidos. O texto foi corrigido.​

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