Descrição de chapéu oriente médio

Marcha da ultradireita em Israel evoca tensões e gera primeiros ataques desde cessar-fogo

Em resposta a lançamento de balões incendiários a partir de Gaza, Exército israelense faz ataque aéreo a campo de treinamento

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Jerusalém | Reuters

Milhares de israelenses participaram nesta terça (15) de uma marcha em Jerusalém Oriental, um evento acompanhado com muita tensão em todo o país. O temor é que o ato reacenda os confrontos entre judeus e palestinos menos de um mês após o cessar-fogo que encerrou o conflito de 11 dias entre os dois lados.

Mesmo antes da marcha, balões incendiários lançados da Faixa de Gaza causaram diversos incêndios em campos de comunidades de judeus perto da fronteira com o enclave palestino. A ação provocou, já na madrugada de quarta, no horário local, um ataque aéreo do Exército israelense, que se disse "pronto para todos os cenários, incluindo a retomada dos combates em face dos contínuos atos terroristas de Gaza".

De acordo com uma estação de rádio do Hamas, grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza, a investida de Israel visava um centro de treinamento dos palestinos. Esse tipo de incidente não era registrado desde o acordo de cessar-fogo, estabelecido em 20 de maio.

Mais cedo, dançando, carregando bandeiras israelenses e entoando frases como "o povo de Israel vive" e, ainda que em menor frequência, "morte aos árabes", uma multidão encheu a praça em frente ao Portão de Damasco, uma das entradas da Cidade Antiga. O grupo, acompanhado por um grande contingente de policiais, era formado principalmente por judeus, nacionalistas e apoiadores da ultradireita.

Antes e durante a marcha, agentes montados em cavalos e equipados com escudos e cassetetes coordenaram a dispersão de palestinos do local, tradicionalmente um ponto de encontro, o que não impediu as manifestações de hostilidades.

Forças de segurança de Israel dispersam palestinos em local próximo ao Portão de Damasco, em Jerusalém Oriental
Forças de segurança de Israel dispersam palestinos em local próximo ao Portão de Damasco, em Jerusalém Oriental - Ahmad Gharabli/AFP

"Deem uma boa olhada em nossa bandeira. Vivam e sofram", gritava um dos participantes da marcha, com um megafone em uma das mãos e um charuto na outra, a comerciantes palestinos do outro lado das barreiras erguidas pela polícia em Jerusalém Oriental. Sentado em um banco fora do cordão de isolamento policial, o palestino Khalil Mitwani, 50, disse que os manifestantes estão "causando um grande problema em Jerusalém". "Todas as pessoas aqui querem paz. Por que criar problemas aqui?"

Considerando a marcha uma provocação, palestinos convocaram protestos na Faixa de Gaza e em áreas da Cisjordânia ocupada por Israel. O chamado "dia de fúria" evoca as memórias ainda frescas dos confrontos entre palestinos e policiais israelenses às vésperas do conflito que eclodiu no mês passado.

"Advertimos sobre as repercussões perigosas que podem resultar da intenção da potência ocupante de permitir que colonos israelenses extremistas realizem a Marcha das Bandeiras na Jerusalém ocupada", disse o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh.

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Antes de os nacionalistas chegarem ao Portão de Damasco, milhares de palestinos estavam reunidos nas proximidades e ao menos 27 ficaram feridos durante embates com as forças de segurança israelenses, de acordo com informações do Crescente Vermelho Palestino.

O Hamas —grupo considerado uma organização terrorista por Israel, EUA e União Europeia— alertou sobre o perigo de novas hostilidades durante a marcha. A declaração foi vista como um teste para o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, que tomou posse nesta segunda (14). O sucessor de Binyamin Netanyahu, que ficou 12 anos no poder em Israel, lidera um partido de ultradireita cuja base religiosa poderia se enfurecer caso a marcha fosse submetida a uma alteração no trajeto ou a um novo adiamento.

Originalmente, a Marcha das Bandeiras estava agendada para 10 de maio, como parte das festividades do Dia de Jerusalém, data em que Israel celebra a captura da região oriental da cidade em 1967, na Guerra dos Seis Dias. Pouco antes de começar, no entanto, a marcha foi desviada do Portão de Damasco, numa ação insuficiente para dissuadir o Hamas de lançar foguetes contra Jerusalém.

O ataque marcou o início do conflito mais recente com Israel.

"As tensões estão aumentando novamente em Jerusalém em um momento muito frágil e sensível de segurança e política, enquanto a ONU e o Egito estão ativamente engajados em solidificar o cessar-fogo", disse Tor Wennesland, enviado das Nações Unidas para o Oriente Médio, em uma publicação no Twitter.

O diplomata exortou todas as partes a "agirem com responsabilidade e evitarem quaisquer provocações que possam levar a outra rodada de confrontos".

Jerusalém está no centro do conflito israelense-palestino. De um lado, Israel reivindica a cidade inteira, incluindo seu setor oriental capturado na guerra de 1967, como sua capital. Os palestinos, do outro, buscam fazer de Jerusalém Oriental a capital de um futuro Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza.

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