A polícia da Nicarágua deteve neste sábado (5) o segundo aspirante à Presidência em menos de uma semana. Arturo Cruz, 67, opositor à ditadura de Daniel Ortega, foi preso no aeroporto de Manágua quando voltava dos Estados Unidos, sob a acusação de atentar "contra a sociedade nicaraguense e os direitos do povo", de acordo com o Ministério Público.
Na última quinta-feira (2), outra pré-candidata, Cristiana Chamorro, foi colocada em prisão domiciliar.
Arturo Cruz apresentou há dois meses sua candidatura às eleições presidenciais do dia 7 de novembro pela Aliança Cidadã pela Liberdade (CLX), de direita.
A polícia declarou que "encaminhará o investigado às autoridades competentes para seu julgamento e a determinação de suas responsabilidades penais".
Cruz foi embaixador da Nicarágua nos Estados Unidos entre 2007 e 2009, sob o governo sandinista de Ortega.
Após renunciar ao cargo, retornou a suas atividades acadêmicas no Instituto Centro-americano de Administração de Empresas. Neste sábado, voltou dos EUA ao seu país, sem que fosse informado o motivo dessa viagem.
Segundo a polícia nicaraguense, Cruz é investigado por delitos contemplados na Lei de Defesa dos Direitos do Povo e Soberania, aprovada em dezembro.
A lei pune aqueles que "incitem à ingerência estrangeira nos assuntos internos, peçam intervenções militares, se organizem com financiamento de potências estrangeiras para executar atos de terrorismo e desestabilização".
Um dia antes de sua detenção, Cruz havia advertido no Twitter que considerava se retirar da disputa eleitoral se as autoridades "continuarem a dança das inibições e ficarmos sem outros candidatos". "A lógica é que este servidor não participe do processo", escreveu.
Para o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH), a captura de Cruz responde a uma "estratégia perversa" da ditadura de Daniel Ortega para inibir seus inimigos políticos.
"Não se trata de investigações penais, mas de perseguição política", declarou.
"Sob Ortega, a Nicarágua está se convertendo em um pária internacional e se distanciando mais da democracia", escreveu no Twitter a secretária-adjunta do Departamento de Estado dos EUA para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Julie Chung. "Os Estados Unidos pedem a liberação imediata [de Cruz]", acrescentou ela.
No dia 2 de junho, outra pré-candidata presidencial foi detida e está em prisão domiciliar: Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro.
O governo pediu que o Ministério Público investigue Chamorro por suposta lavagem de dinheiro por meio da fundação que leva o nome de sua mãe, acusação que a candidata considera "uma farsa" para tirá-la da disputa eleitoral.
"Se algo acontecer tanto com Cristiana Chamorro quanto com Arturo Cruz, serei a primeira a me encarregar de que esta administração elimine a Nicarágua do tratado de livre comércio DR-CAFTA [entre EUA, América Central e República Dominicana] e de qualquer outro benefício econômico", escreveu no Twitter a congressista americana Elvira Salazar.
Familiares de Chamorro, 67, denunciaram que ela se encontra incomunicável em sua casa e sob vigilância policial. No seu caso, meios de comunicação oficialistas afirmam que a fundação que ela liderou serve aos EUA como aparato de propaganda contra o governo.
Segundo pesquisas de opinião, Chamorro é a opositora com maior apoio e seria a segunda na preferência do eleitorado, atrás de Ortega, que está no poder desde 2007 e que ainda não oficializou sua candidatura a um quarto mandato.
O tribunal eleitoral, integrado por magistrados afins ao governante Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN, de esquerda), já tirou da disputa o Partido de Restauração Democrática (PRD, evangélico) e Conservador (PC, direita), um dos mais antigos do país.
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