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ONG Médicos Sem Fronteiras sofre reveses em semana com mortes e ataques

Entidade suspendeu parte de atividades no Haiti e na Líbia e teve três colaboradores assassinados na Etiópia

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A última semana foi de reveses para a ONG Médicos Sem Fronteiras, que presta ajuda humanitária em mais de 70 países. A entidade teve três colaboradores assassinados e, para proteger outros membros da violência desencadeada por conflitos armados, recuou em duas nações nas quais atua há décadas.

Nesta segunda (28), a entidade suspendeu por uma semana as atividades de seu centro de emergência em Porto Príncipe, capital do Haiti. O anúncio foi feito após o local ter sido alvo de um ataque no fim de semana.

Inaugurada em 2006, a unidade está localizada no distrito de Martissant, palco de uma onda de conflitos entre organizações criminosas. Nenhum membro da equipe ou paciente ficou ferido, mas a ONG evacuou todos os presentes e interrompeu as atividades para avaliar a situação.

Médico atende paciente no hospital de emergência de Martissant, em Porto Príncipe, capital do Haiti
Médico atende paciente no hospital de emergência de Martissant, em Porto Príncipe, capital do Haiti - Valerie Baeriswyl - 31.mai.21/AFP

Na última semana de maio, um colaborador dos MSF que trabalhava no hospital de traumas de Tabarre, também na capital haitiana, foi assassinado a tiros quando retornava para casa. O centro Martissant tem acolhido cada vez mais feridos dos confrontos na região. Segundo informou a ONG no início do mês, a unidade recebeu 42 pacientes com ferimentos à bala somente entre os dias 2 e 4 de junho.

Além de uma onda de manifestações que pedem a renúncia do presidente Jovenel Moïse, acusado de autoritarismo, o país também assiste a conflitos entre facções locais.

"Em um momento no qual deveríamos poder ampliar nossas atividades por causa da Covid-19 e de outras necessidades, estamos lutando para manter nossas estruturas abertas devido às deploráveis condições de segurança", afirmou Alessandra Giudiceandrea, chefe da missão da organização no Haiti.

Com 17.963 casos de coronavírus e 400 mortes em decorrência da doença, segundo a Universidade Johns Hopkins, o país —o mais pobre do Ocidente— ainda não começou a vacinar sua população.

Na sexta (25), três colaboradores dos Médicos Sem Fronteiras foram assassinados na província do Tigré, ao norte da Etiópia, onde um conflito armado entre o Exército nacional e as tropas locais ocorre há mais de sete meses. Poucos dias antes, um ataque aéreo a um mercado local havia deixado ao menos 64 mortos.

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De acordo com a organização, os colaboradores deixaram de fazer contato na noite de quinta e, no dia seguinte, o carro onde viajavam foi encontrado vazio, com seus corpos a alguns metros de distância.

"María, Yohannes e Tedros [nomes dos colaboradores mortos] estavam ajudando a população, e é impensável que tenham perdido suas vidas por isso", disse a entidade em nota. Somente entre novembro e abril, quando se intensificaram os conflitos, a ONG realizou 86 mil atendimentos médicos no Tigré.

Antes, em 22 de junho, os Médicos Sem Fronteiras anunciaram também a suspensão por tempo indeterminado de suas atividades em dois centros de detenção de migrantes em Trípoli, capital da Líbia. Membros da organização afirmam ter presenciado maus-tratos e abusos físicos cometidos por agentes. ​

"Um menino imigrante sem acompanhantes não conseguia caminhar após sofrer graves ferimentos no tornozelo", disse a ONG em nota. "Até que parem os abusos contra as pessoas encarceradas e melhorem as condições de segurança da nossa equipe, não podemos continuar prestando serviços médicos."

O país vive profunda instabilidade desde 2011, quando um levante apoiado pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) levou à morte do ditador Muammar Gaddafi, e se tornou o principal ponto de tráfico de migrantes no norte da África, de onde dezenas de milhares de pessoas tentam chegar à Europa.

Desde então, os campos de detenção têm sido conhecidos pela violência empregada contra os migrantes.

Com AFP

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