Presidente eleito do Irã descarta reunião com Biden e negociação de pacto nuclear 'por prazer'

Ebrahim Raisi exige que Washington suspenda sanções e elenca alianças regionais como prioridade na política externa

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Teerã | AFP e Reuters

Em sua primeira entrevista coletiva como presidente eleito do Irã, o juiz ultraconservador Ebrahim Raisi manteve a dureza no discurso contra os Estados Unidos, disse que não se encontraria com Joe Biden mesmo se as sanções americanas fossem suspensas —uma de suas exigências— e elencou a relação com países vizinhos no Golfo Árabe como a prioridade de sua política externa.

Raisi, 60, conhecido por ser um crítico estridente do Ocidente, foi eleito em primeiro turno com 61,95% dos votos. Além de marcado pelo menor comparecimento às urnas desde a instauração da República Islâmica, em 1979, o pleito teve alguns dos principais candidatos desclassificados pelo Conselho de Guardiões —órgão em que, como chefe do Judiciário, Raisi tinha a prerrogativa de indicar metade dos membros.

O futuro presidente deve assumir o cargo em agosto, substituindo Hasan Rowhani, enquanto o Irã busca contornar as dificuldades econômicas por meio do fim das sanções impostas pelos EUA em resposta ao descumprimento do acordo nuclear entre os dois países.

O presidente eleito do Irã, Ebrahim Raisi, durante entrevista coletiva em Teerã - Majid Asgaripour/Wana - 21.jun.21/Reuters

Nesta segunda (21), em Teerã, Raisi disse que Washington violou o pacto e que a União Europeia também não cumpriu seus compromissos. Em tom de exigência, afirmou ainda que todas as sanções impostas ao Irã devem ser suspensas imediatamente e que não vai tolerar "negociações pelo prazer de negociar".

"Apoiamos as negociações que garantem nossos interesses nacionais. A América deve retornar imediatamente ao acordo e cumprir suas obrigações", disse. Quando questionado se, diante de um possível fim das sanções, aceitaria se encontrar com Biden, Raisi simplesmente respondeu: "Não".

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As tratativas em torno de uma possível retomada do acordo estão em andamento em Viena desde abril.

Sob o governo de Donald Trump, os EUA deixaram o pacto e voltaram a impor sanções contra o país persa. Teerã, por sua vez, violou os termos do acordo sobre enriquecimento de urânio, embora negue que tenha a ambição de desenvolver armas nucleares.

Apesar das exigências dos países árabes do Ocidente e do Golfo para que o programa iraniano de mísseis balísticos seja incluído nas negociações para reviver o acordo, Raisi considera o tema inegociável. "Eles [os EUA] não cumpriram o acordo anterior. Como querem entrar em novas discussões?"

O próprio Raisi é alvo de sanções impostas por Washington devido à participação no que os EUA e grupos de defesa de direitos humanos classificam de assassinato extrajudicial de milhares de prisioneiros políticos na República Islâmica em 1988. Como juiz, Raisi teria autorizado mortes e torturas, segundo denúncias de dissidentes e investigações internacionais.

A jornalistas o presidente eleito disse que sempre defendeu os direitos humanos e que foi punido pelos EUA por fazer seu trabalho como juiz quando, na perspectiva dele, deveria ter sido recompensado por defender os direitos e a segurança do povo iraniano.

A eleição de Raisi, porém, não deve alterar a posição do Irã em questões fundamentais. Primeiro porque decisões como as que envolvem o acordo nuclear não cabem ao presidente, e sim ao aiatolá Ali Khamenei, que tem a palavra final na condução das políticas iranianas.

Além disso, para os analistas, o país deve adotar uma política externa pragmática; se não por convicção, por necessidade, já que as sanções agravaram drasticamente a economia.

Embora a atenção internacional se concentre nessa questão, Raisi afirmou que a política externa iraniana não se limitará ao acordo nuclear. "O Irã quer interação com o mundo. A prioridade do meu governo será melhorar os laços com nossos vizinhos na região."

Nesse sentido, o presidente eleito pediu à Arábia Saudita que pare imediatamente a interferência no Iêmen. Uma coalizão liderada pelos sauditas interveio na guerra do país em 2015, depois que as forças houthi apoiadas pelo Irã expulsaram o governo local.

A Arábia Saudita, país de maioria muçulmana sunita, e o Irã, em que predomina a população xiita, travam, há décadas, guerras por procuração em vários países do Oriente Médio. Em 2016, romperam relações.

Em abril, com o objetivo de conter a escalada de tensões, Teerã e Riad iniciaram negociações diretas no Iraque. Nesta segunda, Raisi disse que a reabertura da embaixada saudita não seria um problema, e a retomada das atividades seria ao menos um sinal de avanço para as alianças regionais iranianas.

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