Descrição de chapéu oriente médio

Quase 500 mil morreram em 10 anos de guerra na Síria, afirma ONG

Maioria das mortes ocorreu entre fim de 2012 e de 2015, de acordo com observatório

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Beirute | AFP

Quase 500 mil pessoas morreram em dez anos de guerra na Síria, anunciou nesta terça (1º) o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), em balanço atualizado que inclui mais de 100 mil óbitos confirmados recentemente pela ONG.

O conflito, que explodiu em 2011, com a repressão a manifestações pró-democracia, e envolveu diversos atores regionais e grandes potências, forçou milhões de pessoas a partir para o exílio desde então.

Homem carrega mulher ferida após bombardeio na província de Idlib, na Síria
Homem carrega mulher ferida após bombardeio na província de Idlib, na Síria - Abdulaziz Ketaz - 26.mai.19/AFP

Segundo a ONG, com sede em Londres e que dispõe de uma ampla rede de fontes militares e médicas em todo o país, a guerra provocou 494.438 mortes —a maioria dos óbitos confirmados pelo órgão aconteceu entre o fim de 2012 e o de 2015, afirmou à agência AFP o diretor do observatório, Rami Abdel Rahman.

No balanço anterior, publicado em março, o OSDH contabilizava 388 mil mortes desde o início da guerra.

Desde então, a ONG conseguiu confirmar os óbitos de outras 105.015 pessoas. Quase metade (42.103) se refere a civis que perderam a vida torturados nas prisões do regime. Assim, desde o início do conflito, 159.774 civis foram mortos, incluindo 25 mil menores de idade, de acordo com o OSDH. O observatório afirma ainda que os ataques do regime sírio e de suas milícias são responsáveis pela maioria das mortes.

Milhares de mortes sem confirmação

Fora da esfera civil, os confrontos provocaram a morte de 168 mil combatentes pró-regime, metade dos quais soldados sírios. Também morreram estrangeiros aliados de Damasco, assim como 1.707 membros do movimento xiita libanês Hizbullah. O conflito também provocou a morte de 79.844 rebeldes e 68.393 extremistas, principalmente do Estado Islâmico e do Hayat Tahrir al-Sham, ex-braço sírio da Al-Qaeda.

O OSDH contabilizou ainda 57.567 mortes em prisões governamentais e em outros centros de detenção do regime. A ONG explica, no entanto, que o balanço não inclui quase 47 mil detentos que teriam morrido nas penitenciárias —mortes que a organização não conseguiu confirmar.

A intensidade dos combates vem caindo desde 2020, sobretudo graças a um cessar-fogo no noroeste da Síria que inclui Idlib, o último reduto extremista e rebelde, e à pandemia, que concentrou esforços de todos os lados para evitar a Covid. Após registrar diversas vitórias a partir de 2015 graças ao apoio de Rússia e Irã, o regime de Damasco, liderado pelo ditador Bashar al-Assad, controla quase dois terços do território.

No poder desde 2000, Assad foi reeleito em maio para um quarto mandato de sete anos num pleito sem a presença de observadores internacionais. As eleições aconteceram em meio a uma grave crise econômica, com uma desvalorização histórica da moeda, uma inflação galopante e mais de 80% da população vivendo abaixo da linha da pobreza, de acordo com a ONU.

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Em um país com infraestruturas em ruínas, Assad se apresenta como o homem da reconstrução. Um relatório recente da ONG World Vision calculou em US$ 1,2 trilhão o custo econômico da guerra.


Cronologia do conflito

2011

Protestos contra a detenção e tortura de crianças e jovens que fizeram pichação contra Assad se espalham pelo país e motivam uma onda de meses de manifestações contra o autoritarismo do governo. A repressão é forte.

Em julho, militares que deixaram o Exército anunciam a formação do Exército de Libertação Síria. Nos meses seguintes, começam combates com as forças do governo.

Em agosto, EUA, Reino Unido, França e Alemanha pedem a renúncia de Assad. Ele é alvo de sanções internacionais, mas China e Rússia barram medidas contra o governo sírio no Conselho de Segurança da ONU.

2012

No primeiro semestre, a ONU tenta mediar um cessar-fogo, mas o acordo é descumprido. A situação se repete várias vezes ao longo da guerra.

Em fevereiro, Assad faz um referendo para mudar a Constituição. A proposta é aprovada, mas os rebeldes a consideram ilegítima. Em julho, a Cruz Vermelha passa a classificar o conflito como guerra civil.

Forças rebeldes avançam e passam a controlar cidades, como Aleppo. Soldados do Hizbullah vão à Síria lutar do lado do governo.

2013

Em abril, jihadistas anunciam a criação do Estado Islâmico. O grupo terrorista consegue ocupar a cidade de Raqqa, além de várias partes da Síria e do Iraque, mas é combatido por outros grupos rebeldes.

Em agosto, Assad faz ataques com gás sarin contra rebeldes, o que gera pressão internacional, mas EUA e Reino Unido desistem de um ataque militar. Um acordo é feito para que o governo entregue suas armas químicas.

Em setembro, os EUA e uma coalizão internacional passam a fazer ataques aéreos contra o EI na Síria.

2014

EI declara a criação de um califado, em junho. Coalizão internacional reforça os ataques contra o grupo.

2015

Em maio, o EI domina Palmira, cidade onde havia monumentos da Antiguidade. O grupo destrói parte deles e divulga vídeos.

Em setembro, Rússia entra ativamente no conflito e passa a bombardear opositores de Assad, o que muda o jogo a favor do ditador.

2016

Governo Assad retoma controle de Aleppo, dominada por rebeldes desde 2012, e de Palmira.

Turquia faz acordo com a União Europeia para impedir que refugiados sírios sigam para a Europa.

2017

Em abril, forças do governo fazem ataques com gás em Idlib. Em resposta, EUA bombardeiam base militar síria e decidem ajudar os curdos a se armarem.

EI é expulso de Raqqa, considerada sua capital, em outubro.

2018

EUA, França e Reino Unido bombardeiam forças de Assad após novo ataque químico, em Duma.

Idlib se torna a última área sob controle total dos rebeldes, e o governo sírio começa uma ofensiva para atacar a cidade. A Turquia, no entanto, dá apoio aos rebeldes. Rússia e Turquia fazem um acordo para criar uma zona desmilitarizada.


2019

Em março, o EI perde Baguz, seu último reduto.

Forças de Assad invadem a área desmilitarizada para tentar retomar Idlib.

Em outubro, os EUA se retiram da Síria e deixam de dar apoio aos curdos, que foram seus aliados na luta contra o EI. Pouco depois, a Turquia lança uma operação militar contra militantes curdos na Síria. O governo turco diz que a operação busca criar uma área para receber refugiados sírios alocados na Turquia.


2020

Em fevereiro, após soldados turcos serem mortos na Síria, a tensão aumenta entre Rússia e Turquia, mas os países negociam um cessar-fogo em março.

A pandemia ganha força na Síria a partir do segundo semestre. País vive crise econômica acentuada, com queda histórica do valor da moeda local.

Em junho, os EUA anunciam novas e fortes sanções, capazes de gerar o congelamento de bens de qualquer pessoa ou empresa que faça negócios com a Síria em vários setores, incluindo construção e energia. No fim do ano, Israel faz ataques contra forças iranianas no país.


2021

Governo Biden ordena ataque contra estruturas militares na fronteira do Iraque, que seriam usadas por milícias do Irã.

Em março, a libra síria registra queda recorde: US$ 1 compra 4.000 libras no mercado paralelo. Em meados de 2020, a cotação era de 1 para 2.500.

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