William J. Burns, diretor da CIA, a agência de inteligência dos EUA, fez uma visita oficial nesta quinta-feira (1º) a Brasília, onde se encontrou com autoridades do governo, entre os quais o presidente Jair Bolsonaro.
Burns é diplomata de carreira e foi escolhido para comandar o órgão pelo presidente Joe Biden. As agendas dos ministros Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Augusto Heleno (Segurança Institucional) informaram ter havido um jantar com o diretor, na casa do embaixador americano em Brasília.
O comboio com Burns e o embaixador americano no país, Todd Chapman, chegou ao Palácio do Planalto no meio da tarde. A visita do comandante da CIA foi mantida em sigilo e não foi previamente informada.
Procurada, a embaixada dos EUA não respondeu. Burns passou mais de três décadas no corpo diplomático americano e chegou a ser o número dois do Departamento de Estado. Ele ajudou a manter negociações secretas com o Irã que abriram caminho para o acordo nuclear em 2015.
Na noite de quinta, em vídeo publicado por um site simpático ao presidente brasileiro, Bolsonaro confirmou o encontro com Burns e citou a atual situação de crise em outros países da América do Sul.
"O interesse do Brasil por alguns poucos países é enorme. Alguns países dependem de nós, do que produzimos aqui. E esses países pensam 50, 100 anos à frente. E nós, aqui, infelizmente, quando muito, pensamos poucas semanas ou poucos dias depois", disse ele, em conversa com apoiadores.
"Não vou dizer que isso foi tratado com ele [Burns], mas a gente analisa na América do Sul como estão as coisas. A Venezuela a gente não aguenta falar mais, mas olha a Argentina. Para onde está indo o Chile? O que aconteceu na Bolívia? Voltou a turma do Evo Morales e, mais ainda, a presidente que estava lá no mandato tampão [Jeanine Añez] está presa, acusada de atos antidemocráticos. Estão sentindo alguma semelhança com o Brasil?"
O presidente criticou nesta quinta-feira o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O magistrado determinou o arquivamento do inquérito dos atos antidemocráticos e a abertura de outra investigação para apurar a existência de uma organização criminosa digital voltada a atacar as instituições, com objetivo de abalar a democracia.
O juiz faz referência ao deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) 12 vezes na decisão e afirma que é necessário aprofundar as investigações para verificar se aliados de Bolsonaro usaram estrutura pública do Palácio do Planalto, da Câmara e do Senado para propagar ataques às instituições nas redes sociais.
Mais tarde, em sua live presidencial, Bolsonaro classificou a ação de Moraes de "covardia".
Na noite desta quinta, o vice Hamilton Mourão (PRTB) disse não saber detalhes da agenda de Burns no Brasil e classificou a visita como normal. "São contatos com as contrapartes. É normal, chefe de serviço de inteligência, isso não é problema. É troca de informações. Duas nações amigas, não é problema."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.