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Chefe da diplomacia dos EUA se reúne com representante do dalai-lama em ação que pode irritar China

Secretário de Estado encontra líder tibetano em roteiro de viagens que busca aliança com países asiáticos contra Pequim

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Nova Déli | AFP e Reuters

Em viagem pela Ásia, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, reuniu-se nesta quarta-feira (28) com um representante do dalai-lama, o líder espiritual do Tibete, em um movimento com potencial para despertar uma reação mais inflamada da China.

Segundo o porta-voz do departamento chefiado por Blinken, o chefe da diplomacia americana teve um breve encontro em Nova Déli, na Índia, com Ngodup Dongchung, que atua como representante da Administração Central Tibetana (ACT) —também conhecida como governo tibetano no exílio. O conteúdo da conversa não foi divulgado.

Em 1950, tropas chinesas tomaram o Tibete, no que Pequim descreve como "libertação pacífica". Em 1959, o dalai-lama fugiu para o exílio na Índia após uma revolta fracassada contra o domínio chinês. Para o regime, o Tibete faz parte da China e o dalai-lama é um líder separatista.

Antony Blinken, secretário de Estado americano, durante entrevista coletiva em Nova Déli, na Índia - Jonathan Ernst - 28.jul.21/Reuters

Na semana passada, o dirigente chinês, Xi Jinping, visitou a capital tibetana, Lhasa. Foi a primeira visita de um presidente da República Popular da China à região, vista como uma celebração de duas importantes datas para o regime: os 70 anos da assinatura do Acordo dos 17 Pontos, documento que endossou a soberania chinesa sob o Tibete, e os 100 anos do primeiro congresso do Partido Comunista Chinês.

Até a manhã desta quarta, o Ministério das Relações Exteriores da China não havia feito nenhum comentário público sobre o encontro entre Blinken e Dongchung, o mais significativo desde que o dalai-lama se encontrou com o então presidente Barack Obama em Washington, em 2016.

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A ACT e os grupos de defesa do Tibete receberam uma onda de apoio internacional nos últimos meses em meio a crescentes críticas e denúncias de violações de direitos humanos pela China.

Em novembro do ano passado, Lobsang Sangay, ex-líder tibetano, visitou a Casa Branca, no que foi a primeira visita desse tipo em seis décadas. Um mês depois, o Congresso americano aprovou a Lei de Política e Apoio ao Tibete, que reivindica o direito dos tibetanos de escolher o sucessor do dalai-lama e exige o estabelecimento de um consulado dos EUA em Lhasa.

Blinken, em sua primeira visita à Índia no governo de Joe Biden, também se encontrou com seu homólogo indiano, o chanceler Subrahmanyam Jaishankar, e outras autoridades indianas antes de se reunir com o premiê Narendra Modi.

Na pauta estão o fornecimento de vacinas contra a Covid-19, a situação de segurança no Afeganistão e o histórico de direitos humanos na Índia. Em uma entrevista coletiva, Blinken e Jaishankar também falaram sobre a aliança Quad (sigla em inglês para Diálogo de Segurança Quadrilateral), grupo formado por EUA, Índia, Austrália e Japão para se opor à presença chinesa no Pacífico.

Questionado sobre a reação de Pequim à cooperação entre esses países, o chanceler indiano disse que a parceria não tem nada de anormal. "As pessoas precisam superar a ideia de que de alguma forma outros países estão fazendo coisas dirigidas contra elas", disse Jaishankar.

Em uma conversa com um grupo de líderes da sociedade civil em um hotel de Nova Déli antes do encontro com autoridades indianas, Blinken disse que a relação entre os EUA e a Índia é "uma das mais importantes do mundo".

"O povo indiano e o povo americano acreditam na dignidade humana e na igualdade de oportunidades, no Estado de Direito, nas liberdades fundamentais, incluindo a liberdade de religião e crença", disse Blinken no que foi considerado uma crítica velada ao governo Modi.

"Esses são os princípios fundamentais de democracias como a nossa. E, claro, nossas democracias estão em construção. Como amigos, conversamos sobre isso. Às vezes esse processo é doloroso, às vezes é feio, mas a força da democracia consiste em aceitá-lo", completou o diplomata americano.

Modi enfrenta acusações de repressão contra dissidentes e opositores e de criação de políticas divisivas para apelar à sua base nacionalista hindu e alienar os muçulmanos, minoria religiosa na Índia.

Para analistas, o ex-presidente Donald Trump ignorou excessos de Modi. Biden, por sua vez, colocou no centro de sua política externa a constituição de uma aliança de democracias contra a "autocracia" personificada, segundo ele, pela China.

O que o governo indiano pede em troca é o mesmo apoio que Trump deu ao país durante confrontos, no ano passado, entre a Índia e a China na fronteira com o Himalaia.

"Se os EUA de Biden relutam em apoiar abertamente a Índia contra a China, como podem esperar que a Índia trabalhe com os EUA para se opor à China? É preciso haver reciprocidade", disse Brahma Chellaney, professor do Centro de Pesquisas em Política de Déli, à agência de notícias AFP.

Outra questão urgente para Washington é o Afeganistão. O governo americano espera que a Índia desempenhe um papel mais ativo na estabilização do país dilacerado pela guerra, já que Biden prometeu retirar todas as tropas antes do vigésimo aniversário dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

A Índia, que é um das maiores apoiadoras do governo afegão, teme, porém, que, com a retirada das tropas americanas, o Taleban volte ao comando do país e o transforme em um paraíso para extremistas que se opõem a Nova Déli.

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