Fechando o especial sobre o centenário do Partido Comunista Chinês, a Folha convidou os atores Pascoal da Conceição e Marcelo Drummond para a leitura dramática da cena final da peça "Hai Rui Demitido do Cargo". O vídeo de oito minutos foi gravado no Teatro Oficina, em São Paulo, e pode ser assistido abaixo:
A peça estreou em 1961 na Ópera de Pequim, com boa recepção de público. O líder Mao Tse-tung, que conhecia o autor, Wu Han, historiador e então vice-prefeito da capital, teria visto e elogiado.
O texto retrata um episódio na vida de um personagem histórico da dinastia Ming, do século 16. Alto funcionário, Hai Rui é enviado como governador a uma região ao Sul e passa a punir a aristocracia local por abusar dos camponeses, até ser demitido por ordem da corte.
Quatro anos depois, ela foi alvo de um ataque no jornal Wen Hui Bao, de Xangai, "Uma crítica da nova peça histórica 'Hai Rui Demitido do Cargo'", do escritor e crítico Yao Wen-yuan, já conhecido pela virulência com a geração intelectual anterior.
"Wu Han claramente quer que as pessoas 'estudem' seu idealizado Hai Rui", escreveu Yao. "O que nós podemos 'estudar'? As fazendas do nosso país já alcançaram a propriedade coletiva do socialismo. Quem deve então 'devolver as terras'?"
No confronto entre duas alas do PC Chinês, a peça foi denunciada como uma alegoria —e de fato era— do Grande Salto à Frente e da fome que ele provocou, levando à morte de milhões na virada dos anos 1950 para 1960.
A crítica, reproduzida pelo Diário do Povo e outros, é considerada o estopim da Revolução Cultural, encabeçada pela chamada Gangue dos Quatro, um deles o próprio Yao. Por uma década, líderes comunistas foram exilados internamente, inclusive o pai de Xi Jinping, hoje secretário-geral do partido.
Wu Han foi preso logo depois e morreu em 1969, na cadeia, sem causa determinada.
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