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EUA anunciam sanções contra polícia de Cuba após protestos na ilha

Joe Biden também se reúne na Casa Branca com cubanos contrários ao regime comunista

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Washington | Reuters e AFP

Em mais um avanço no embargo americano a Cuba, o governo de Joe Biden anunciou nesta sexta-feira (30) um novo pacote de sanções. Desta vez, estão na mira a Polícia Nacional Revolucionária, subordinada ao Ministério do Interior cubano, e dois de seus líderes.

O Departamento do Tesouro dos EUA justificou que a medida é uma resposta à repressão policial empregada durante os atos que tomaram as ruas da ilha caribenha no último dia 11 –considerados os maiores em quase três décadas.

"Agentes da polícia foram fotografados confrontando e prendendo manifestantes em Havana [a capital], incluindo o movimento de mães '11 de julho', grupo fundado para organizar as famílias de presos e desaparecidos", alegou o Tesouro em nota.

O presidente dos EUA, Joe Biden, durante discurso na Casa Branca - Saul Loeb - 12.jul.21/AFP

Usando argumento semelhante, os EUA também anunciaram, na semana passada, outro pacote de sanções contra Cuba. Na ocasião, as medidas foram impostas a um general e a uma unidade de segurança do governo cubano.

Com a nova demonstração nesta sexta, Biden dá sinais de como pretende prosseguir nas relações diplomáticas com Cuba. "Virão mais [sanções], a menos que haja alguma mudança drástica em Cuba", declarou a jornalistas na Casa Branca.

O democrata foi vice de Barack Obama, que avançou nos diálogos com o regime comunista da ilha e chegou, inclusive, a atenuar o embargo –ainda que a autoridade que possa dissolvê-lo por completo seja o Congresso. Ao assumir a Casa Branca, Biden herdou, porém, o histórico do republicano Donald Trump, que retomou uma política de retaliações contra a ilha, e, até agora, demonstrou pouco apetite em implementar mudanças.

O chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, criticou as sanções impostas contra a polícia do país. “Essas medidas arbitrárias se somam à desinformação e à agressão para justificar o bloqueio desumano contra Cuba”, escreveu em uma rede social.

O anúncio das novas sanções foi feito paralelamente a uma reunião de Biden com membros da comunidade cubana que, no exterior, se opõem ao regime liderado por Miguel Díaz-Canel. De acordo com a agência de notícias Reuters, participaram do encontro o cantor Yotuel Romero, um dos vocalistas do grupo de hip-hop Orishas, e Ana Sofia Palaez, fundadora do Miami Freedom Project, grupo que atua em Miami, onde há forte lobby doméstico de cubano-americanos exilados.

Yotuel também é coautor da canção "Pátria y Vida", que viralizou nas redes sociais no início do ano ao questionar o regime de Cuba e denunciar a situação política e econômica que atravessa a ilha. Ele tem convocado atos da comunidade cubana exilada em Madri (Espanha), onde vive com a família, e nos EUA.

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Após o encontro, Biden comunicou que instruiu os departamentos de Estado e do Tesouro a apresentarem, dentro de um mês, planos para permitir que americanos enviem remessas de dinheiro aos cubanos. O Departamento de Estado havia sinalizado a intenção no último dia 20, mas logo depois vieram os anúncios do aumento das sanções. Há também a expectativa de que os EUA aumentem o contingente de sua embaixada na ilha. ​

Sobre a reunião, o chanceler cubano disse que “ao governo dos EUA só interessa a máquina eleitoral da Flórida”. Analistas apontam que o principal fator que mantém o embargo de pé é a pressão de cubanos exilados na Flórida que se opõem ao regime de Cuba. “Enquanto isso, [os EUA] ignoram as reivindicações do povo cubano e dos eleitores cubanos pelo mundo”, completou o ministro.

Cuba vive sob embargo dos EUA há mais de seis décadas, desde os anos iniciais da Revolução Cubana. O que começou como retaliação política ao regime comunista desdobrou-se em um emaranhado de legislações que dificultam o estabelecimento de relações comerciais da ilha com outros países, em especial os EUA. Os americanos justificam a medida como forma de pressionar por uma transição democrática na ilha.

O tema voltou à tona após os protestos populares que ocuparam as ruas de diversas províncias cubanas pedindo mais liberdade política e ações de combate à escassez de alimentos e remédios –situação agravada na ilha durante a pandemia e a consequente paralisação do turismo, motor da economia.

As manifestações foram reprimidas pelo regime, e ativistas denunciam nas redes sociais centenas de prisões. Um homem morreu durante os protestos, segundo confirmaram as autoridades públicas.

A alta cúpula do regime cubano atribui ao embargo americano, que asfixiaria a economia nacional, a causa dos problemas históricos do país e do descontentamento popular.

O mecanismo é criticado por ampla parte da comunidade internacional e por ativistas ao redor do mundo. Ainda assim, especialistas contra-argumentam que há uma série de fatores por trás dos atos –sendo dois dos principais o desejo de mais liberdade e a perda de poder de compra desencadeada por um projeto de reunificação das moedas.

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