Moradores de Los Angeles se adaptam à volta das máscaras para conter alta da Covid

Casos aumentam sob diretrizes menos restritivas, e região se torna 1º grande condado dos EUA a readotar a exigência

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Matt Craig Livia Albeck-Ripka
Santa Mônica (EUA) | The New York Times

Enquanto o sol começava a queimar através da camada matinal de maresia, frequentadores do calçadão Third Street Promenade, em Santa Monica, na Califórnia, ainda se adaptavam ao novo normal, que era praticamente o velho normal —uma ordem da prefeitura de Los Angeles para que a população use máscaras em ambientes fechados, sejam empresas ou locais públicos.

A maioria dos clientes colocava as máscaras na entrada das lojas, onde havia placas para lembrar da política e, em alguns casos, eram oferecidas máscaras de cortesia. Turistas de outros estados se viram usando a proteção facial pela primeira vez em nove meses, às vezes incomodados, mas de modo geral obedientes, e um funcionário de restaurante que esqueceu a ordem municipal conseguiu uma do outro lado da rua, com empregados de um café que tinham de sobra.

Frequentadores do Grande Mercado Central em Los Angeles usam máscara após condado reimpor medida para conter alta de casos de Covid
Frequentadores do Grande Mercado Central em Los Angeles usam máscara após condado reimpor medida para conter alta de casos de Covid - Mario Tama/Getty Images/AFP

"Algumas pessoas acham que é uma punição", disse Lisa Liu, 38, que afirmou estar completamente vacinada. Ela fazia compras no domingo e foi entrevistada diante de uma loja de roupas chamada Tazga. "Mas para mim é só uma máscara —não tem problema."

Não era o que as pessoas esperavam quando a ordem anterior foi suspensa, há um mês, mas a maioria da população em Los Angeles parecia reagir com uma aceitação resignada, às vezes até com aprovação, imaginando que o aumento de casos de Covid-19 torna a política tolerável, ou mesmo bem-vinda.

A decisão foi recebida com cautela por alguns empregados de lojas e restaurantes, temerosos de aplicar a política a clientes mais resistentes. Mas alguns pareciam preparados para isso.

Anna Ituh, 50, disse que seus chefes em uma loja a instruíram a pedir que os clientes coloquem a máscara quando entram, mas não devia insistir nisso. Porém, ela descreveu um confronto em que pediu a uma cliente para sair da loja.

"Eu não brinco com isso", afirmou Ituh. "Eu sou uma pessoa que dirá a elas."

A ordem para todas as pessoas usarem máscara em ambientes fechados, independentemente de estarem ou não vacinadas, entrou em vigor à 0h deste domingo (18), fazendo de Los Angeles o primeiro grande condado dos EUA a readotar a exigência. A política vai além do padrão atual do estado e da recomendação pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC na sigla em inglês) —ambos exigem máscaras para pessoas não vacinadas, mas não para as totalmente vacinadas.

O número de casos de coronavírus aumentou acentuadamente sob as diretrizes menos restritivas, especialmente enquanto a variante delta, altamente transmissível, continua se espalhando. A média diária de novos casos no condado mais que duplicou em cada uma das últimas duas semanas, alcançando quase 1.400 no sábado (17), e as internações por Covid-19 subiram 27%, segundo um banco de dados do The New York Times. Ainda assim, os números são muito menores do que durante o pico no condado durante o inverno, e as mortes diárias continuam em um dígito.

"Quando você examina os últimos sete dias, é óbvio que muita coisa mudou", disse Hilda Solis, presidente do Conselho de Supervisores do Condado de Los Angeles, no programa "This Week" da ABC no domingo. Solis chamou o aumento de casos de Covid de "muito perturbador".

"Não me agrada termos de voltar a usar máscaras, mas isso vai salvar vidas", afirmou ela.

No entanto, o delegado-chefe do condado, Alex Villanueva, disse em um comunicado na sexta-feira (16) que seus policiais não vão aplicar a ordem.

"Forçar as pessoas vacinadas e as que já contraíram Covid-19 a usar máscaras em locais fechados não é apoiado pela ciência", escreveu o delegado. O comunicado disse que seu departamento "não vai gastar nossos recursos limitados, e em vez disso vai pedir a colaboração voluntária".

Hollis disse que a responsabilidade pela aplicação da lei cabe ao Departamento de Saúde Pública do condado, acrescentando que "o público em geral é inteligente o bastante para entender o que está sendo dito e sabe se proteger".

O departamento pode emitir um aviso de violação ou uma citação a empresas que deixarem de acatar a ordem, mas uma porta-voz do condado, Natalie Jimenez, disse em email no sábado que "o compartilhamento de educação e informação" seria a principal abordagem do departamento.

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Na elegante rua Rodeo Drive, em Beverly Hills, uma sensação de preocupação pairava no ar quando as lojas começaram a abrir no fim da manhã de domingo. Diante da Louis Vuitton, as clientes eram observadas e ganhavam máscaras se não estivessem usando.

"Ninguém está se recusando até agora, o que é bom, ainda é cedo", disse a recepcionista Jasmine Garcia, acrescentando que a loja reforçou as medidas de segurança. "A coisa ficou feia", disse ela sobre o comportamento de algumas clientes antes que as restrições fossem suspensas, no mês passado.

Em uma galeria de arte próxima, que vende pinturas de Dalí, Picasso e Matisse, a assistente de pesquisa Brynlie Johnson disse que se sentia mal porque ela e outros funcionários tinham de impor a ordem. "Eu tenho medo de mandar as pessoas vestirem a máscara", disse ela. "Elas gritam com você."

Outro funcionário, Richard Rice, disse que provavelmente não vai pedir para as pessoas colocarem máscara. "Acho que acatar a ordem cabe mais a cada indivíduo do que à instituição", disse ele. "Eu não sou um policial de máscaras."

Na padaria vegana Chaumont, ali perto, uma fila de pessoas principalmente sem máscaras se estendia diante da porta. Uma cliente, Melissa Fry, que não usava máscara, disse estar frustrada com as novas regras, enquanto outros estados voltam à normalidade. "Eu tive Covid, por isso não acho que preciso da vacina", declarou, acrescentando que mesmo que não tivesse adoecido não tomaria a vacina.

Sua amiga Sarah Robarts, que usava uma máscara cinza, discordou. "É para melhorar o todo", disse ela. "Temos de fazer isso, e eu vou obedecer, mesmo que seja inconveniente para mim, pessoalmente."

Manter-se informado sobre as políticas e recomendações em constante mudança foi um desafio durante um ano para os moradores de Los Angeles.

As autoridades de saúde do condado sofreram pressão pública em janeiro, quando a decisão de continuar vacinando só profissionais de saúde contrariou um anúncio do estado de elegibilidade para adultos de 65 anos ou mais. Alguns dias depois, a prefeitura recuou na estratégia.

Em junho, apenas duas semanas depois que o governador Gavin Newsom suspendeu a ordem de usar máscaras na Califórnia como parte da "grande reabertura" do estado, autoridades de saúde de Los Angeles divulgaram uma declaração recomendando "fortemente" que todas as pessoas vacinadas usassem máscaras em ambientes fechados, apesar das restrições mais brandas.

A Califórnia dá aos condados a opção de impor restrições mais rígidas localmente, mas o estado manteve a recomendação do CDC de que as pessoas totalmente vacinadas não precisam usar máscaras em locais fechados na maioria das situações.

A taxa de vacinação no condado de Los Angeles está acima da média nacional, com mais de 69% dos residentes tendo recebido pelo menos uma dose e 61% totalmente vacinados. Mas, com milhões de pessoas ainda não vacinadas, as autoridades locais dizem que a ordem renovada era necessária.

"Esperar que chegássemos a uma alta taxa de transmissão comunitária antes de adotar uma mudança seria tarde demais", disse o oficial de saúde do condado, Muntu Davis, na quinta-feira (15).

No hotel Intercontinental Los Angeles Downtown, o saguão no 70º andar estava lotado no sábado à noite com cerca de cem pessoas, a metade delas sem máscaras.

No meio da manhã de domingo, cerca de uma dúzia de hóspedes circulavam pelo saguão, todos com máscaras exceto um turista, que estava em uma janela tirando uma selfie. Perto do balcão de checkin, o recepcionista distribuía máscaras, "para cumprir a ordem", segundo disse.

Em um elevador, três homens da Tunísia em férias, sem proteção facial, imediatamente colocaram máscaras cirúrgicas azuis quando souberam que a ordem estava em vigor.

"Melhor prevenir que remediar", disse um hóspede com uma máscara preta e roupa de ginástica que se identificou como um piloto da Korean Air.

Mas a tolerância relativa variava de um lugar para outro.

Em Santa Clarita, área relativamente conservadora a noroeste do centro de Los Angeles, menos pessoas usavam máscaras e várias estavam descontentes com a ordem.

"Esta é uma área muito vermelha", disse Stacey Simmons, psicoterapeuta que comia em um café. "Por aqui as pessoas são meio contra a vacina."

No Marci's Sports Bar & Grill, ali perto, onde havia bandeiras dos EUA atrás do balcão e quase ninguém usava máscara, alguns frequentadores se queixaram das novas regras e outros disseram que não sabiam que algo havia mudado.

"A gente ouve tanta coisa que não sabe em que acreditar, na verdade", disse John Galloway, sentado na área externa do bar.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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