Descrição de chapéu Financial Times

O aperto de mãos parece ter voltado, provocando caos na etiqueta social

Reuniões de negócios recomeçaram, e com elas vieram colisões desastrosas entre os que apertam as mãos, tocam cotovelos ou batem os punhos

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Pilita Clark
Financial Times

Agora que Mark Read, executivo-chefe da WPP, poderosa agência de publicidade global, voltou a encontrar os clientes, ele alegremente aperta as mãos deles em um mundo de negócios cada vez mais vacinado. "Com quem não conheço é um quebra-gelo. O negócio de tocar o cotovelo acabou, para mim com certeza."

Sir Douglas Flint, presidente da recém-rebatizada gestora de fundos Abrdn, tem um plano de ataque mais protegido para esta instável nova fase de comportamento na Covid. "Certamente não entro numa sala estendendo a mão", disse ele. Em vez disso, prefere aguardar para ver o que as pessoas fazem. "Você mais ou menos deixa que elas façam o primeiro gesto, então acompanha um nanossegundo depois."

Os primeiros-ministros de Canadá e Reino Unido, Justin Trudeau (à esq.) e Boris Johnson, respectivamente, cumprimentam-se durante reunião da cúpula do G7
Os primeiros-ministros de Canadá e Reino Unido, Justin Trudeau (à esq.) e Boris Johnson, respectivamente, cumprimentam-se durante reunião da cúpula do G7 - Phil Noble - 11.jun.21/AFP

Após vários dias de pesquisa profundamente anticientífica, não tenho ideia de qual dessas estratégias de saudação predomina. Mas posso relatar que, sem dúvida, a coisa está caótica. A situação desigual da vacinação, mais opiniões vivamente distintas sobre o que é comportamento seguro, nos dividiu em uma mistura bizarra de apertadores de mão, tocadores de cotovelo e batedores de punho.

Os resultados, infelizmente, podem ser péssimos. Um homem que mora na Alemanha e trabalha com um amigo meu em Londres teve um momento especialmente difícil durante a partida de futebol entre Inglaterra e Escócia no mês passado na Eurocopa.

Como ele escreveu ao meu amigo: "Conheci novos amigos em um bar. Todos estavam batendo os punhos, então eu fiz o mesmo. Depois entrou outro sujeito. Eu estendi o punho e ele veio com um aperto de mão".

Nenhum reagiu com rapidez suficiente, e o apertador afinal gostava de um bom e longo aperto. "Então nós ficamos ali por um período de tempo terrivelmente longo, ele segurando e balançando meu punho como uma junta giratória." Colisões inusitadas entre os que tocam punhos e os que apertam mãos não se limitam à Alemanha. De Sydney a San Diego, dizem-me que elas estão transformando as gentilezas mundanas em um doloroso jogo de pedra-papel-tesoura.

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As coisas parecem especialmente difíceis nos Estados Unidos, onde quase 70% dos adultos já tomaram pelo menos uma dose de vacina contra Covid, mas 57% dos republicanos acham que a pandemia terminou, comparados com apenas 4% dos democratas.

Um amigo americano baseado em Londres que acaba de voltar de uma viagem às duas costas dos EUA ficou surpreso ao encontrar apertos de mãos e até abraços em profusão.

"Havia uma espécie de desejo reprimido de trazer de volta as coisas como eram antes", disse ele. Isso está bem se você for um dos já totalmente vacinados, mas não se estiver entre os, digamos, com menos de 40 anos no Reino Unido que ainda não foram. Meu amigo também disse que era evidente que chefes homens mais velhos estavam "muito no modo aperto de mãos", especialmente em setores como o de energia.

Ainda não tenho certeza de que papel o gênero pode ter nisso.

Para cada colega mulher que diz que acharia ótimo trocar apertos de mãos e abraços —para não falar em beijos— por reverências, um namastê ou simplesmente nada, conheço pelo menos um homem que concorda. Isso inclui um colega que se viu em uma reunião de negócios recente na qual um conhecido figurão abriu os procedimentos balançando as mãos de todos os presentes. Meu colega ficou tão chocado que mal conseguiu se impedir de correr até o banheiro para lavar as mãos.

Eu simpatizo com ele. Mas também descobri ultimamente que, nas raras ocasiões em que encontrei uma nova pessoa, uma espécie de memória muscular me fez estender a mão para um aperto. Depois recuei, pedindo desculpas e criando um embaraço geral para todos. Infelizmente, a história sugere que a pandemia não matará o aperto de mãos ou qualquer outro cumprimento baseado no toque.

Como a bióloga evolucionária Ella Al-Shamahi escreve em seu livro recente, "The Handshake: A Gripping History" (algo como "o aperto de mãos: uma história de agarrar"), esse cumprimento sobreviveu a diversos esforços para proibi-lo nos últimos surtos de cólera, gripe e outros.

Como os chimpanzés e tribos de humanos não contatadas têm gestos semelhantes, ela acha que podemos ser geneticamente codificados para balançar as mãos, talvez passando um ao outro coisas como sinais químicos ligados ao olfato.

Pesquisadores descobriram que as pessoas são mais propensas a cheirar as mãos depois de um aperto de mãos do que quando são cumprimentadas sem um toque. "Nós, primatas, desejamos o toque", disse ela. "E o toque de cotovelo realmente é um aperto de mãos pobre."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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